Jornal Correio Braziliense

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Cotistas terão acompanhamento

Assim como já ocorre com os vestibulandos que entram pelo sistema de cotas raciais, UnB vai implementar grupo de monitoramento para evitar a evasão dos alunos de escolas públicas que ingressarão nas novas vagas sociais

Os estudantes beneficiados pelas cotas sociais serão acompanhados por um grupo de monitoramento, supervisionado pelos decanatos de Ensino eGraduação e de Assuntos Comunitários da Universidade de Brasília (UnB).O objetivo é garantir aos alunos cotistas oriundos de escolas públicas, em especial àqueles de baixa para evitar a evasão dos estudantes. Será preciso, por exemplo, aumentar a oferta de moradia, alimentação subsidiada e bolsas de tutoria. Para isso, o governo federal deverá engordar os repasses com essa finalidade para as universidades federais de todo o país.

A experiência de observação dos jovens cotistas sociais se espelhará no trabalho conduzido pelo Centro de Convivência Negra com universitários contemplados pelas cotas para pretos, pardos e índios na UnB. De acordo com a universidade, esse já apresenta desempenho acadêmico similar aos dos universitários aprovados pelo sistema universal. ;O que nos preocupa mais não é o desnivelamento em conteúdo, apesar de essa questão também fazer parte do projeto de assistência. Nossa maior preocupação é evitar a evasão, principalmente dos estudantes de baixa renda, que precisam se dividir entre estudo e trabalho. Vamos precisar ampliar os programas, e o governo federal está ciente e já sinalizou o aumento nos repasses;, explica o decano de Ensino e Graduação, José Américo Soares.

Além do acompanhamento e da assistência social, a comissão ainda desenvolverá pesquisas para estudar a inserção e o desempenho de cotistas sociais na universidade. No longo prazo, os resultados da observação podem mostrar como a formação educacional de base influencia a desevoltura acadêmica dos estudantes graduados na rede pública de ensino. Com isso, provavelmente ficarão mais óbvios os acertos e deficiências dos sistemas educacionais públicos.

Efeitos
Soares acredita que um dos efeitos da Lei Federal n; 12.711, que instituiu anova política de cotas em todo o país, será a pressão para a reformulação do ensino médio e básico, principalmente em escolas públicas. ;Ainda que a lei tenha o foco em abrir mais caminhos para o acesso às universidades federais, ela faz parte de uma ação muito maior, que é a restruturação de todo o sistema de ensino;, afirma. A Lei de Cotas estabelece, inclusive, queemquatro anos 50% das vagas para cursos em universidades federais devem ser preenchidas por pessoas formadas no ensino público.

Na quinta-feira, oConselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) da UnB decidiu preservar o programa de cotas para negros e indígenas, aquemsão destinadas 20% de todas as vagas do vestibular. Assim, somando-se à exigência da legislação federal para o primeiro ano de vigência da lei, a próxima seleção da UnB terá 32,5% das vagas separadas para regimes de inserção social (veja quadro). Já na terceira etapa do Programa de Avaliação Seriada (PAS) valerá apenas a cota social, com reserva de 12,5% das oportunidades, sendo metade delas para alunos de baixa renda.


Opção depende do perfil do candidato

O sistema de cotas sociais vai abrir novas possibilidades para alunos de escolas públicas chegaremao ensino superior.Mas qual caminho será mais vantajoso aos alunos negros e brancos depende de diversos fatores subjetivos. O desempenho pessoal, a qualidade do ensino da escola pública e a condição socio econômica docandidato devem ser observados antes de ele fazer a inscrição.

Talvez somente após a realização do primeiro vestibular é que se tenha ideia de quais variáveis são mais vantajosas ou capazes de levar o estudante à aprovação. ;Só podemos ter ideia da concorrência quando soubermos quantas pessoas se inscreveram.O mesmo acontecerá com as médias para cada curso. A previsão é que elas sejam diferentes da média universal;, explica o decano de Ensino e

A variação entre as notas máximas e mínimas já São bem diferentes entre o sistema universal e o de cotas raciais. Tomem-se como exemplos alguns dos cursos mais procurados na UnB. No último vestibular de 2012, a menor nota observada na prova universal para comunicação social foi de 100,39. O valor é pouco inferior ao melhor resultado obtido porumcandidato que se inscreveu no regime de cotas para negros, que foi de 103,76.Omesmo aconteceemdireito. O melhor dos cotistas fez 217,95 pontos, valor pouco superior à a menor nota observada na disputa geral (201,08).Emarquitetura e urbanismo, omelhor desempenhodoscotistasfoide45,26, pior resultado da provauniversal.

Na segunda-feira, o Ministério da Educação deve publicar o decreto de regulamentação da Lei de Cotas.Odocumento vai especificar os critérios de seleção para estudantes de escolas públicas e virá acompanhado de uma portaria detalhando quais comprovantes os interessados em se inscrever pelo sistema precisam apresentar, assim como vai definir como será provado o perfil econômico do candidato. (AS)

Três perguntas para

JOSÉ AMÉRICO SOARES, DECANO DE ENSINO E GRADUAÇÃO DA UnB

A UnB vai acompanhar os alunos que entrarem pela cota social? Como isso será feito?
Em todos os cursos, existe o problema da evasão, inclusive no regime de cotas.Temos de fazer o máximo para ocupar as vagas e tentar garantir a permanência dos alunos. Nossa maior preocupação é garantir que os alunos de baixa renda tenham condições de estudar sem precisar trabalhar. Para isso, temos que oferecer mais moradia, auxílio-alimentação e bolsas de tutoria. O governo federal já sinalizou que aumentará os repasses.

Comoos estudantes saberão emqual opção terão mais chances de conseguir passar?
São fatores individuais e subjetivos. Depende muito da avaliação que o aluno faz de sua condição social e de seu desempenho escolar. Por enquanto, não há como definir onde a concorrência será menor, mas podemos prever que a média das notas das cotas sociais será diferente. É importante ressaltar que os alunos das cotas concorrem entre si, e não com os demais. Por exemplo, os cotistas de baixa renda concorremapenas entre si, e não com os cotistas sem renda delimitada.

O senhor acredita que a Lei de Cotas vai fazer pressão para melhorias no ensinomédio?
Não apenas no ensino médio, mas também no básico. Apesar de o foco da lei ser no ensino superior, ela faz parte de um movimento maior de restruturação de todo o ensino público no Brasil. Pode, inclusive, estimular a competição entre as escolas públicas.