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Cotistas terão acompanhamento

Assim como já ocorre com os vestibulandos que entram pelo sistema de cotas raciais, UnB vai implementar grupo de monitoramento para evitar a evasão dos alunos de escolas públicas que ingressarão nas novas vagas sociais

postado em 15/10/2012 12:03

José Américo Soares (à direita) durante a reunião doCepe, na última quinta-feira: evasão é a maior preocupaçãoOs estudantes beneficiados pelas cotas sociais serão acompanhados por um grupo de monitoramento, supervisionado pelos decanatos de Ensino eGraduação e de Assuntos Comunitários da Universidade de Brasília (UnB).O objetivo é garantir aos alunos cotistas oriundos de escolas públicas, em especial àqueles de baixa para evitar a evasão dos estudantes. Será preciso, por exemplo, aumentar a oferta de moradia, alimentação subsidiada e bolsas de tutoria. Para isso, o governo federal deverá engordar os repasses com essa finalidade para as universidades federais de todo o país.

A experiência de observação dos jovens cotistas sociais se espelhará no trabalho conduzido pelo Centro de Convivência Negra com universitários contemplados pelas cotas para pretos, pardos e índios na UnB. De acordo com a universidade, esse já apresenta desempenho acadêmico similar aos dos universitários aprovados pelo sistema universal. ;O que nos preocupa mais não é o desnivelamento em conteúdo, apesar de essa questão também fazer parte do projeto de assistência. Nossa maior preocupação é evitar a evasão, principalmente dos estudantes de baixa renda, que precisam se dividir entre estudo e trabalho. Vamos precisar ampliar os programas, e o governo federal está ciente e já sinalizou o aumento nos repasses;, explica o decano de Ensino e Graduação, José Américo Soares.

Além do acompanhamento e da assistência social, a comissão ainda desenvolverá pesquisas para estudar a inserção e o desempenho de cotistas sociais na universidade. No longo prazo, os resultados da observação podem mostrar como a formação educacional de base influencia a desevoltura acadêmica dos estudantes graduados na rede pública de ensino. Com isso, provavelmente ficarão mais óbvios os acertos e deficiências dos sistemas educacionais públicos.

Efeitos
Soares acredita que um dos efeitos da Lei Federal n; 12.711, que instituiu anova política de cotas em todo o país, será a pressão para a reformulação do ensino médio e básico, principalmente em escolas públicas. ;Ainda que a lei tenha o foco em abrir mais caminhos para o acesso às universidades federais, ela faz parte de uma ação muito maior, que é a restruturação de todo o sistema de ensino;, afirma. A Lei de Cotas estabelece, inclusive, queemquatro anos 50% das vagas para cursos em universidades federais devem ser preenchidas por pessoas formadas no ensino público.

Na quinta-feira, oConselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) da UnB decidiu preservar o programa de cotas para negros e indígenas, aquemsão destinadas 20% de todas as vagas do vestibular. Assim, somando-se à exigência da legislação federal para o primeiro ano de vigência da lei, a próxima seleção da UnB terá 32,5% das vagas separadas para regimes de inserção social (veja quadro). Já na terceira etapa do Programa de Avaliação Seriada (PAS) valerá apenas a cota social, com reserva de 12,5% das oportunidades, sendo metade delas para alunos de baixa renda.


Opção depende do perfil do candidato

O sistema de cotas sociais vai abrir novas possibilidades para alunos de escolas públicas chegaremao ensino superior.Mas qual caminho será mais vantajoso aos alunos negros e brancos depende de diversos fatores subjetivos. O desempenho pessoal, a qualidade do ensino da escola pública e a condição socio econômica docandidato devem ser observados antes de ele fazer a inscrição.

Talvez somente após a realização do primeiro vestibular é que se tenha ideia de quais variáveis são mais vantajosas ou capazes de levar o estudante à aprovação. ;Só podemos ter ideia da concorrência quando soubermos quantas pessoas se inscreveram.O mesmo acontecerá com as médias para cada curso. A previsão é que elas sejam diferentes da média universal;, explica o decano de Ensino e

A variação entre as notas máximas e mínimas já São bem diferentes entre o sistema universal e o de cotas raciais. Tomem-se como exemplos alguns dos cursos mais procurados na UnB. No último vestibular de 2012, a menor nota observada na prova universal para comunicação social foi de 100,39. O valor é pouco inferior ao melhor resultado obtido porumcandidato que se inscreveu no regime de cotas para negros, que foi de 103,76.Omesmo aconteceemdireito. O melhor dos cotistas fez 217,95 pontos, valor pouco superior à a menor nota observada na disputa geral (201,08).Emarquitetura e urbanismo, omelhor desempenhodoscotistasfoide45,26, pior resultado da provauniversal.

Na segunda-feira, o Ministério da Educação deve publicar o decreto de regulamentação da Lei de Cotas.Odocumento vai especificar os critérios de seleção para estudantes de escolas públicas e virá acompanhado de uma portaria detalhando quais comprovantes os interessados em se inscrever pelo sistema precisam apresentar, assim como vai definir como será provado o perfil econômico do candidato. (AS)

Três perguntas para

JOSÉ AMÉRICO SOARES, DECANO DE ENSINO E GRADUAÇÃO DA UnB

A UnB vai acompanhar os alunos que entrarem pela cota social? Como isso será feito?
Em todos os cursos, existe o problema da evasão, inclusive no regime de cotas.Temos de fazer o máximo para ocupar as vagas e tentar garantir a permanência dos alunos. Nossa maior preocupação é garantir que os alunos de baixa renda tenham condições de estudar sem precisar trabalhar. Para isso, temos que oferecer mais moradia, auxílio-alimentação e bolsas de tutoria. O governo federal já sinalizou que aumentará os repasses.

Comoos estudantes saberão emqual opção terão mais chances de conseguir passar?
São fatores individuais e subjetivos. Depende muito da avaliação que o aluno faz de sua condição social e de seu desempenho escolar. Por enquanto, não há como definir onde a concorrência será menor, mas podemos prever que a média das notas das cotas sociais será diferente. É importante ressaltar que os alunos das cotas concorrem entre si, e não com os demais. Por exemplo, os cotistas de baixa renda concorremapenas entre si, e não com os cotistas sem renda delimitada.

O senhor acredita que a Lei de Cotas vai fazer pressão para melhorias no ensinomédio?
Não apenas no ensino médio, mas também no básico. Apesar de o foco da lei ser no ensino superior, ela faz parte de um movimento maior de restruturação de todo o ensino público no Brasil. Pode, inclusive, estimular a competição entre as escolas públicas.

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