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Após violência, UnB cria diretoria

postado em 22/02/2013 08:00

Publicação: 21/02/2013 04:00

O aluno Rudi Rodrigues cobra da universidade uma resposta ao caso (Adauto Cruz/CB/D.A Press)
O aluno Rudi Rodrigues cobra da universidade uma resposta ao caso

A agressão a uma estudante de agronomia da Universidade de Brasília (UnB) no estacionamento do Instituto Central de Ciências (ICC) Sul provocou indignação na comunidade acadêmica. A jovem foi atacada pelas costas e empurrada, recebeu chutes e ouviu de um homem as palavras ;lésbica nojenta; na última segunda-feira. Alunos ouvidos pela reportagem do Correio repudiaram a atitude do agressor e admitiram sentir insegurança diante de um caso como esse.

Por meio da Secretaria de Comunicação da UnB, o Decanato de Assuntos Comunitários informou que criará, até abril, uma diretoria para tratar de temas relacionados a gêneros e etnias. Além disso, continuará com o Grupo de Trabalho de Combate à Homofobia, instituído em 2012. Sobre a agressão, a secretaria informou que a decana Denise Bomtempo se reuniu com o diretor da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAV), Cícero Lopes da Silva, para definir qual procedimento a instituição deve seguir. Além disso, o grupo fará um pedido formal à reitoria para apurar o ataque.

Após a violência, as aulas transcorrem normalmente no câmpus Darcy Ribeiro, na Asa Norte. Mas alguns estudantes não escondem a indignação. O aluno do 8; semestre de terapia ocupacional Rudi Rodrigues, 28 anos, morador de Taguatinga, cobrou da universidade uma resposta ao caso. ;Independentemente de raça, sexo ou religião, as pessoas devem ser respeitadas;, opinou. Rudi afirmou ter medo de andar sozinho pela instituição, principalmente à noite. ;Já há uma insegurança devido aos crimes como furtos de veículos e assaltos, e ainda temos que enfrentar esse tipo de violência;, completou.

[SAIBAMAIS]Estudante da instituição, um casal de namoradas que preferiu não se identificar, com medo de represálias, também demonstrou revolta com a agressão. ;Ninguém precisa concordar com a opção sexual de cada um, mas queremos ser respeitadas, não estamos fazendo nada de errado;, afirmou a aluna de geofísica. Apesar do ataque, ela acredita que os homossexuais não devem se esconder. ;A universidade é sinônimo de pluralidade. Mas já andei de mãos dadas com ela (namorada) e algumas pessoas ficaram indignadas. Me sinto insegura, mas não vou deixar de gostar dela porque alguém se sente incomodado;, completou.

Omissão

A notícia da violência contra a aluna de agronomia se espalhou pelo câmpus. A estudante do 8; semestre de comunicação social Glícia de Paula, 22 anos, moradora do Setor Lucio Costa, lembrou que essa não é a primeira vez que homossexuais são alvo de agressões dentro da UnB. ;Esse clima de insegurança não é de hoje. No último beijaço promovido pelos alunos, uma menina foi ameaçada de morte;, contou. Para Glícia, a administração da UnB tem sido omissa. ;Nenhuma medida efetiva foi tomada desde então. Os grupos de trabalho de combate à homofobia são pequenos e não recebem apoio da reitoria;, reclamou.

A estudante do 2; semestre de agronegócio Arícia Cristina Oliveira Aguiar, 20 anos, moradora de Sobradinho, também cobrou uma postura mais firme da reitoria. ;A universidade se diz moderna, mas falta a conscientização das pessoas sobre a diversidade e abertura de discussão sobre esses temas;, sugeriu. ;A universidade deve punir os agressores para que outros casos como esse não voltem a ocorrer. Enquanto isso, fica esse clima de insegurança. Eu não ando sozinha por aqui, principalmente à noite.;


Eu acho...

 (Adauto Cruz/CB/D.A Press)

;Qualquer um está sujeito a agressões aqui dentro, não só aqueles que assumem uma orientação sexual. A comunidade acadêmica como um todo sofre com isso. Não sabemos de onde vêm as agressões e quando elas aparecem. As minorias estão mais propensas a sofrer esse tipo de violência, que é muito séria. A universidade é de todos, mas as pessoas não estão sendo respeitadas aqui. A UnB tem a responsabilidade de assumir o papel de instituição formadora de profissionais e de cidadãos;

Vagner Luiz da Fonseca, 27 anos, estudante do 5; semestre de letras/espanhol, morador do Guará

Proconceito
Ao retornarem às aulas em janeiro deste ano, os estudantes se depararam com manifestações de ódio contra mulheres e homossexuais. Mensagens ofensivas foram pichadas nas paredes do Centro Acadêmico de Direito (Cadir). Foram escritos ;Ñ aos gays; e ;Quem gosta de dar, gosta de apanhar; em tinta guache vermelha.

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