Estão presentes no evento acadêmicos da própria instituição e de outras universidades do país, universitários e membros de movimentos negros e indígenas, já que o processo de implementação das cotas também incluiu os índios. O professor José Jorge de Carvalho, coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa, foi responsável pela organização do evento. Foi ele quem propôs o primeiro plano de cotas adotado pela UnB. Hoje, ele defende a manutenção do sistema, aliando-o com a Lei de Cotas para escolas públicas, sancionada no ano passado. ;A UnB deve manter o projeto de cotas e incluí-lo à Lei de Cotas aprovada pelo governo federal. Eles não são projetos excludentes;, disse. O professor também comemorou os resultados da política de cotas. ;Não há dúvidas de que a universidade mudou. Era impossível ver numa mesma mesa de seminário um reitor ao lado de alunos indígenas há 10 anos.;
Natália conta que se aproximou muito mais do processo de inclusão racial depois de ter entrado na universidade pelo sistema de cotas. Ela reconhece, no entanto, que não são todos os cotistas que assumem esse papel e têm a consciência da importância de lutar pela ampliação e pela continuidade do processo. A cientista social, que se formou em 2010, avalia que esse tipo de ação deve deixar de existir à medida que o problema desaparecer. ;A sociedade precisa trabalhar para que processos como esses durem o menor tempo possível, mas é impossível dizer quando deve acabar;, relata. Natália também defende que a Lei de Cotas e o sistema de cotas raciais da UnB devem coexistir, pois são dois processos diferentes que incluem grupos distintos.
Estatísticas
O professor Sales Augusto dos Santos, doutor em sociologia pela UnB, foi um dos palestrantes convidados. Ele fez um estudo sobre as cotas na UnB para colocar em perspectiva a Lei de Cotas aprovada pelo Executivo Federal. A pesquisa mostra que a lei, que representa uma política social, pode ser prejudicial para a inclusão racial nas universidades públicas brasileira caso não seja aliada a uma política de cotas para esses outros grupos. ;Uma política de ação afirmativa não existe para combater a pobreza. As propostas apresentadas na UnB surgem para combater a discriminação;, diferencia o pesquisador.
[SAIBAMAIS]De acordo com o estudo, as escolas públicas passam por um processo de branqueamento: se na 4; série do ensino fundamental 25% dos alunos são negros, os que se formam no ensino médio representam apenas 14,95%. ;Se a lei propõe dar condições de estudantes escolas públicas entrarem na universidade, isso não significa que alunos negros estão ingressando, porque eles também não estão se formando no ensino médio;, afirma Santos. Ele admite que o processo de implementação das cotas da UnB teve erros. Uma pesquisa mostrou que, entre os alunos formados que entraram na UnB pelo sistema de cotas, 1,3% se afirmou branco. ;Só por isso dá para perceber que falhas aconteceram e que precisavam ser corrigidas, mas o processo das cotas é importante.;
Indígenas
A discussão das cotas para indígenas também ganhou espaço no seminário. O professor de antropologia da Universidade Federal do Amazonas Gersem Baniwa foi convidado para comentar o assunto. Ele lembrou que as cotas não são o único caminho para a inclusão racial. Existem processos diferenciados em outras universidade do Brasil e ajudam a diminuir a discriminação dentro da universidade. Baniwa cita como exemplo um grupo de professores que trabalhem especificamente para a formação de índios e também a concessão de bolsa permanência a esses estudantes. Para o professor, é importante fundir a visão acadêmica epistemológica do conhecimento branco e europeu dominante com a cultura, a metodologia e a experiência dos índios. ;Como resultado, é possível se pensar, inclusive, em universidades indígenas;, sugere.
Confira a programação completa: