Jornal Correio Braziliense

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71,5% dos cotistas não teriam ingressado na UnB pelo sistema universal

Sistema pioneiro entre as universidades federais ajudou a derrubar mitos sobre ações afirmativas

Dados apresentados nesta quinta-feira (6/6) pelo decano de Ensino de Graduação, Mauro Rabelo, mostram que 71,5% dos alunos cotistas da Universidade de Brasília (UnB) não teriam conseguido ingressar pelo sistema universal na última seleção da instituição. No total, 499 alunos cotistas de escolas públicas e negros entraram na UnB no 1; vestibular de 2013. Desses, apenas 142 teriam sido aprovados nos respectivos cursos mesmo se concorressem com candidatos não cotistas. Os outros 357 teriam sido reprovados (confira o gráfico abaixo). ;Esses dados mostram como as cotas são necessárias e como os resultados são efetivos;, afirmou Rabelo.

O levantamento sobre o sistema de cotas, que ainda é preliminar, foi apresentado nesta tarde durante o seminário Dez anos de cotas na UnB: memória e reflexão. O evento reúne professores e estudantes para debater a evolução da política pela universidade, que foi pioneira entre as federais. A professora da Faculdade de Comunicação da UnB Dione Moura, que foi relatora da comissão de implementação do plano de cotas em 2004 lembrou das dificuldades enfrentadas para publicar o primeiro edital. ;Foram nove meses de preparação até publicar o edital e foram os nove meses mais difíceis. As pessoas não acreditavam e achavam que estávamos engavetando o documento;, conta.

[SAIBAMAIS]O processo foi cansativo. A comissão tinha sete integrantes e se reuniu com mais de 100 pessoas até chegar ao resultado. Procuradores, movimentos representativos, políticos e outros especialistas participaram do debate. ;Quando o STF (Supremo Tribunal Federal) julgou (as cotas) nem acompanhamos, porque sabíamos que ia vencer. Não foi por nossas falas, mas pelas avaliações que tivemos de especialistas. Eles garantiam que o edital era inquestionável. Nós tínhamos uma convicção e uma certeza de que era uma experiência importante de política publica para todo o Brasil;, afirma a professora.

Dione também listou os 10 mitos sobre as cotas raciais na UnB e que, após os 10 anos de implementação, começaram a ser derrubados (veja a lista abaixo). Entres eles está o de que as cotas e ações afirmativas são importadas dos Estados Unidos e não podem ser usadas no Brasil. ;Por que você se incomoda em trazer uma ideia, mas não se importa de trazer um produto?;, questiona. Outro argumento recorrente é o de que a inclusão não deve ser feita para negros, mas, sim, para pobres. ;Esse mito não quer assumir que há uma responsabilidade de corrigir um erro histórico ligado aos negros. Admitir erros significa corrigi-los.;

Confira os 10 mitos das cotas raciais
1. Cotas acirram o racismo
2. Negros e índios não teriam bom desempenho
3. Negros e índios iriam abandonar os cursos
4. UnB iria acirrar o conflito entre negros e não negros e gerar barricadas, conflitos permanentes entre os dois grupos dentro da universidade
5. Raça é um conceito que não existe, e a UnB cria esse conceito por interesse demagógicos
6. Cotas e ações afirmativas são importação dos Estados Unidos e não cabem no Brasil.
7. Não existiam professores e lideranças negras para discutir o assunto
8. Universidade não é para todos
9. Raça existe, mas não existe desigualdade no Brasil
10. Inclusão não deve ser feita para negros, mas para pobres