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Comissão vai analisar cotas

Grupo começa a discutir o sistema de reserva de vagas para negros. Universidade deve se posicionar até o fim do ano sobre o tema

postado em 12/06/2013 10:28
Mauro Rabelo diz que pesquisa sinaliza que as cotas deram certoA Universidade de Brasília (UnB) vai aprofundar as avaliações sobre os resultados alcançados pela política de cotas instituída há 10 anos. O reitor da instituição de ensino, Ivan Camargo, nomeou uma comissão para discutir o processo e analisar os impactos da ação. O grupo de oito pessoas passa a se reunir este mês. O parecer dele vai ser levado ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) para a decisão final. Até o fim do próximo semestre, a universidade deve se posicionar quanto à manutenção da reserva de vagas. A meta, em 2003, era de alcançar 20% de negros no quadro de estudantes da instituição até 2014. A universidade tem, hoje, 13,46%. Apesar de não ter alcançado o número proposto, não fossem as cotas raciais, a instituição teria 73,5% menos negros nos últimos 10 anos.


Dos oito integrantes da comissão, sete já são conhecidos. Assim que o grupo estiver completo, os participantes vão definir a data da primeira reunião. Em 6 de junho de 2003, o Cepe aprovou o uso da reserva de vagas na UnB (confira Linha do tempo). O plano estipulou 10 anos para a duração da política. Como a primeira turma com alunos cotistas ingressou no segundo semestre de 2004, o prazo vence no fim do primeiro semestre de 2014. Além de avaliar o processo, a comissão vai estudar propostas sobre o tema.


Possíveis mudanças só poderão vigorar no segundo processo seletivo do próximo ano. O decano de Ensino de Graduação (DEG), Mauro Luiz Rabelo, é o presidente da comissão. Trabalham com ele os professores Dione Oliveira Moura, relatora do Plano de Cotas em 2003; Nelson Inocêncio, da Secretaria de Comunicação; José Jorge de Carvalho, coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão no Ensino e na Pesquisa (INCTI); Girlene Ribeiro de Jesus, da Faculdade de Educação; Maria Eduarda Tannuri Pianto, da Faculdade de Ciências Econômicas; e Maria de Fátima Ramos Brandão, do Departamento de Ciência da Computação. O oitavo nome deve sair da Diretoria de Diversidade da reitoria.
Mauro Luiz Rabelo pediu dados à Coordenadoria de Avaliação do decanato que chefia e ao Centro de Seleção e Promoção de Eventos (Cespe) para um estudo preliminar. ;Essa pesquisa sinaliza que as cotas deram certo;, afirmou. Apesar de sustentar a validade da política afirmativa para a década em que esteve em vigor, ele prefere não definir posição quanto à continuidade do plano. ;A comissão ainda não se reuniu. Teremos um tempo para amadurecermos e elaborarmos uma proposta para encaminhar ao Cepe;, disse.


Mitos derrubados

Uma das funções da comissão seria, no entanto, argumentar sobre a viabilidade da permanência da reserva de vagas para pretos, pardos e indígenas. Essa é a visão do coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UnB, Nelson Inocêncio. Para ele, a Lei das Cotas Sociais, em vigor desde agosto do ano passado, não é suficiente para suprir os objetivos das reservas raciais. ;No sistema do MEC (Ministério da Educação), a questão racial não é a prioridade. Não se substitui uma política de inclusão de um grupo por uma de outro. Se a universidade assumiu a responsabilidade há 10 anos, precisa dar continuidade à ação;, defende o professor. Na avaliação dele, o racismo não é um fenômeno resultante de situação econômica e, por isso, a importância de uma proposta que consiga fazer os dois modelos conviverem.


A professora Dione Moura relatou o projeto das cotas na universidade em 2003. Passados 10 anos, ela considera o processo uma vitória. E comemora a derrubada de vários mitos que enfrentaram na época. ;Nenhum deles se concretizou. Alguns são mais práticos. Não houve barricadas entre negros e brancos nos corredores do câmpus, por exemplo. Outros são mais abstratos e, portanto, mais difíceis, como a ideia de que raça não existe e, portanto, não há desigualdade a ser combatida;, explicou.

Linha do tempo

2003 ; O Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão aprova o Sistema
de Cotas para Negros, que entrou em vigor no ano seguinte

2007 ; O caso dos gêmeos Alan e Alex Teixeira muda a forma de seleção dos inscritos no sistema, que antes era feita por meio da avaliação de uma fotografia. Mesmo idênticos, um deles foi aceito como negro, e o outro, não

2009 ; O Democratas (DEM) ajuíza ação contra a constitucionalidade do sistema

2012 ; O Supremo Tribunal Federal garante que a
reserva de vagas com base no sistema de cotas raciais é constitucional

2013 ; UnB comemora 10 anos do Sistema de Cotas, com efetividade para
71% dos alunos que ingressam na universidade por meio da ação afirmativa

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