A primeira monografia a ser apresentada no curso é de autoria de Anna Paula da Silva, 27 anos. Formada em história, ela se interessou quando o curso foi lançado e conseguiu passar no primeiro vestibular. Hoje, não pensa em seguir outra carreira. ;Gosto muito de museus, eles têm uma relevância muito grande na história. Trabalhei no museu do Tribunal de Contas da União e achei interessante. Tenho muitos colegas que querem trabalhar em reservas técnicas e montar exposições;, garante.
O problema da carreira, segundo Anna, é a perspectiva de salário, cujo montante acaba desvalorizando o profissional. O pagamento para museólogos iniciantes em Brasília chega a ser um terço do valor do piso estabelecido pelo Conselho Regional da profissão. ;Eu acabo rejeitando as propostas de emprego porque acredito que aceitar trabalhar por esse dinheiro desvaloriza a minha profissão. Estou procurando trabalho no Rio de Janeiro e em São Paulo, porque aqui em Brasília o mercado está complicado;, reclama a recém-formada, que a cada dia que passa vê no mestrado uma saída mais agradável para os estudos na museologia.
Trabalho, no entanto, é o que não falta. Profissionais da área são necessários para organizar todo e qualquer tipo de acervo, desde os tradicionais museus a pequenas exposições, passando até mesmo por zoológicos. ;O mercado é muito promissor. Temos muitos museus carecendo de museólogos, muito patrimônio material e imaterial a ser trabalhado;, anima-se Edvan Queiroz, 41 anos, o outro estudante da UnB que está se formando no curso. ;Ocupar seu legítimo espaço nos museus é um grande desafio para os novos profissionais. Não creio que tenha sido diferente para outros formandos de cursos que estavam nascendo;, afirma.
Nota 4
Com oito semestres de funcionamento, o curso da UnB atende bem os alunos do ponto de vista pedagógico, de acordo com padrões do Ministério da Educação (MEC). A graduação recebeu nota 4 na avaliação da instituição, mas ainda tem muito a melhorar. As instalações na FCI ainda não são adequadas ao projeto acadêmico do curso, que prevê um bom laboratório de conservação. Enquanto isso não acontece, os professores estimulam os alunos a participarem de projetos de pesquisa e a fazerem intercâmbios no exterior, além de promoverem visitas a acervos de museus em Brasília e em outras unidades da Federação. Atualmente, o curso é composto por um consórcio entre os departamentos de Antropologia, Artes Visuais, História e a própria FCI. De acordo com a coordenadora da Museologia, Silmara Küster, o Departamento de Geologia sinalizou um interesse em parceria para a manutenção do espaço de conservação e visitas da área na UnB. ;A tendência é que o curso se coloque a serviço da universidade. Viemos para atender a uma demanda crescente em instituições por profissionais museólogos. Poucos museus em Brasília têm esses funcionários;, afirma.
Conquistas
Mesmo com todas as dificuldades, a perspectiva é que a situação melhore pouco a pouco. Em 2004, havia apenas dois cursos na área. Depois do Reuni (leia Para saber mais), o Brasil conta com 14 graduações, dois mestrados e um doutorado. ;Os cursos de museologia são uma grande conquista também na mentalidade acadêmica. Há um avanço na medida em que a universidade começa a olhar para os museus. É preciso que o poder público faça isso também. Não adianta criar espaços e não cuidar dos existentes;, diz a professora Silmara.
Estudante do segundo semestre do curso, Ana Ramos, 18 anos, foi aprovada no vestibular um pouco desanimada: museologia era sua segunda opção, pois não passou na prova específica de artes visuais. Durante a greve no meio do primeiro semestre na UnB, as coisas começaram a mudar. Em uma viagem ao exterior, ela viu outros museus e se apaixonou pela profissão. ;O curso é novo e tem problemas, mas eu decidi ficar. O acervo do Museu de Arte de Brasília, por exemplo, está todo guardado, sem ser visto. Eu entendo que as coisas estão ruins, mas isso dá ânimo para tentar fazer a diferença;, garante.
O curso é novo e tem problemas, mas eu decidi ficar. O acervo do Museu de Arte de Brasília, por exemplo, está todo guardado, sem ser visto. Eu entendo que
as coisas estão ruins, mas isso dá ânimo para tentar
fazer a diferença
Ana Ramos, 18 anos, estudante em museologia
Gosto muito de museus, eles têm uma relevância muito grande na história. Trabalhei no museu do Tribunal de Contas da União e achei interessante. Tenho muitos colegas que querem trabalhar em reservas técnicas e montar exposições
Anna Paula da Silva, 27 anos, formanda em museologia
; Para saber mais
Até 2004, o Brasil contava com apenas dois cursos de museologia: na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Com o Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), surgiu a proposta de criar, entre outros, o curso de museologia em outras instituições públicas. Na UnB, a faculdade começou a funcionar no segundo semestre de 2009, sendo a primeira instituição pública a oferecer a graduação no Centro-Oeste.