postado em 20/08/2013 16:00
A reestruturação do Hospital Universitário de Brasília (HUB) realizada pela nova gestora, a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), tem causado preocupação aos residentes, aos funcionários e aos pacientes atendidos no local. Os procedimentos cirúrgicos da pediatria estão suspensos desde o fim de julho, a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) permanece interditada para reforma, alguns aparelhos da radiologia não funcionam e há rumores de que a maternidade pode fechar. Alunos marcaram para amanhã uma manifestação em frente ao prédio da Clínica Médica. Mais de 150 pessoas confirmaram presença no evento chamado Basta! Crise HUB.Embora exista a consciência de que as mudanças são para contratar servidores concursados e ampliar o hospital, a preocupação é o que será feito durante os seis meses sem os serviços. Os estudantes alegam que ainda não foram informados se concluirão a formação em unidades da rede pública do DF.
O coordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília (Sintfub), Antônio César de Oliveira Guedes, considera o fechamento da pediatria cirúrgica um dos casos mais graves. Para ele, a dificuldade de formar profissionais na área, atualmente, já é grande o suficiente para enfrentar mais empecilhos. ;Esse fechamento é muito grave. É um local onde mais se precisa de formação acadêmica. Os pediatras estão em falta na rede de saúde. A sociedade não pode pagar por esse ato;, ressaltou Guedes. Ontem, ele tentava reunir documentos sobre os motivos da situação. ;Os diretores estão viajando, não consegui. Dependendo do que verificarmos, vamos entrar com uma representação no Ministério Público;, completou.
A assessoria de imprensa do hospital, no entanto, informou, por meio de nota, que o HUB passa por uma reformulação estrutural para melhorar o atendimento dos pacientes clínicos e cirúrgicos. Na pediatria, os procedimentos cirúrgicos eletivos estão suspensos por tempo indeterminado, até que seja feita a reestruturação do local e a equipe seja totalmente composta. ;Por hora, os pacientes com casos mais graves estão sendo transferidos para outros hospitais da rede de saúde do DF;, informou o texto.
Protesto
Parte da mudança está na força de trabalho. A Ebserh publicou edital de concurso público para preencher 1.102 vagas. Elas devem substituir os precarizados no setor. O problema é que, cientes do certame, alguns funcionários pediram demissão para estudar, e os postos de trabalho não podem ser preenchidos. Após aprovação, eles só poderão fazer parte do quadro no primeiro semestre de 2014. ;Como ficaremos até janeiro? A UTI neonatal já fechou. E se a maternidade fechar? São atendidas 1,5 mil mulheres em trabalho de parto por ano. Com o fechamento até o ano que vem, isso cairá pela metade e nós ficaremos sem ter onde aprender;, contou um residente, que preferiu não se identificar.
Por isso, os estudantes pretendem protestar. Na página de uma rede social, eles consideram que o HUB vive uma crise, ;com prejuízo das atividades de alunos, residentes e, principalmente, do antendimento aos pacientes;. Em uma lista, os criadores do evento enumeram os principais problemas. Entre eles, está a proposta de atraso do curso de medicina; e o fechamento de todo o serviço de neonatologia, com consequente encerramento das atividades do Centro Obstétrico, da enfermaria da maternidade, do pré-natal, entre outros.
Quanto ao fechamento da UTI em junho último para reforma, o HUB informou que concluirá a obra até o fim do ano. ;O espaço, que era de 609,97m;, passará a ter 790m;. A capacidade subirá de seis para 19 leitos. A reforma tem investimento de R$ 1,5 milhão da Ebserh;, informou a assessoria do hospital.
Na área da pediatria, desde o início de 2013, as chefias clínica e cirúrgica discutem a união dos dois setores para melhorar a assistência, dada a carência de profissionais para esse tipo de atendimento no DF. ;Unidas as duas áreas, todos os profissionais do setor poderão cooperar para uma assistência mais eficaz;, completou a nota encaminhada pela assessoria.
Memória
Cinco anos de movimento
Em 2008, alunos das faculdades de Medicina e Ciências da Saúde da UnB criaram o movimento SOS HUB para pedir a reativação do pronto-socorro, fechado em abril daquele ano. Em 2011, os protestos tornaram-se frequentes não somente pelo objetivo inicial, mas pela revitalização do Hospital Universitário como um todo. Uma das marcas do movimento foi uma pichação em um tapume dizendo: ;Pronto-socorro fechado há dois anos: incompetência? Incomode-se! Lute pelo hospital!”. Depois das manifestações, a diretoria foi trocada e o Centro de Pronto Atendimento (CPA) reaberto, em 21 de setembro de 2011. Desde então, a gestão da unidade de saúde foi alterada. A Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) foi criada para solucionar os problemas de pessoal e de infraestrutura dos hospitais universitários federais. A Ebserh assumiu o HUB em 17 de janeiro deste ano e, desde então, investiu R$ 9 milhões em equipamentos para diversos setores da instituição.