Ensino_EnsinoSuperior

Cotas raciais devem diminuir

Professor que idealizou o modelo afirma que a ideia não é acabar com o sistema

postado em 17/03/2014 11:23

Na próxima sexta-feira, comunidade externa poderá opinar sobre as cotas em audiência pública na UnBO futuro das cotas para negros na Universidade de Brasília (UnB) será debatido ao longo dos próximos dias. Após uma década de implantação, há uma forte tendência de que o percentual de reserva de vagas caia de 20% para 5%. Essa foi a proposta apresentada pela comissão responsável por avaliar o sistema e que recebe o apoio da maioria dos institutos e faculdades representados na última reunião do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe), na quinta-feira. A deliberação do conselho sobre o tema foi adiada a pedido dos estudantes, e um novo encontro foi marcado para 3 de abril.
;A minha avaliação da reunião de ontem (quinta-feira) é de que o conselho se posicionou, em diversas ocasiões, a favor do que definiu a comissão;, afirma o reitor da UnB, Ivan Camargo. Para ele, o sistema provavelmente teria se mantido da forma como é hoje não fosse a sanção da Lei n; 12.711, de 2012, que determina a destinação de 50% das oportunidades a estudantes de escolas públicas e abarca cotas raciais. Na opinião do reitor, a autonomia universitária fica em segundo plano com a criação de uma lei federal. ;Eu acho que essa uniformização das universidade é ruim, pois torna as instituições iguais, que é tudo o que o não queremos;, critica.


;O fato de a UnB ter liderado esse processo 10 anos atrás foi muito positivo, assim como a minha experiência com estudantes negros no Departamento de Engenharia Elétrica. A mudança no perfil da universidade é nítida;, destaca o reitor, que reforça a importância da participação da comunidade externa na discussão. Está marcada para a próxima sexta-feira, às 12h, em local a ser definido, uma audiência pública para apresentar o balanço sobre a primeira década da ação afirmativa.


O professor de antropologia da UnB e coordenador do Instituto de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa do CNPq José Jorge Carvalho, idealizador do modelo de cotas da UnB, afirma que a ideia não é acabar com o sistema. ;A proposta é que continuem as cotas, complementando a lei federal. Podemos até propor que os 20% sejam mantidos, mas acho difícil que seja aprovada uma porcentagem tão alta. Queremos manter 5% para compensar exclusões e retrocessos, como o de que só pode concorrer a uma vaga, segundo a lei, quem tiver estudado em escola pública;, explica.


Carvalho ressalta que a UnB é a única instituição federal que defende a bandeira das cotas raciais. Para ele, a medida gerou um progresso na igualdade. ;A UnB que eu dava aula em 2000 não parece a mesma de hoje. Lecionei para turmas só com alunos brancos, e era normal. Quando muito, tinha um negro. Hoje, não há turmas sem negros. Foram 1,5 mil negros formados pela UnB nos últimos 10 anos;, comemora o docente. Para o professor, a única falha foi a não implantação do sistema no Programa de Avaliação Seriada (PAS). ;Isso foi um erro. Os 5% que queremos manter das cotas vão suprir as falhas da lei e as vagas que o PAS não ofereceu na última década;, detalha.

Números

Segundo o relatório elaborado pela Comissão de Avaliação do Sistema de Cotas da UnB, nos últimos 10 anos 210 mil candidatos se inscreveram no PAS e no vestibular tradicional. Do total, quase 13% se declarou negro de cor preta e 32% declararam ser negros de cor parda. Mas o maior número de alunos, ainda de acordo com o documento, é de brancos, com 42%, ou 89 mil universitários. Os indígenas ocupam 1,7% das vagas, com 3,5 mil estudantes.


Ex-coordenador-geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Pedro Ivo acredita que o assunto é delicado e deve ser tratado com toda a preocupação que merece. Aluno de engenharia civil, Ivo não entrou na UnB pelas cotas, mas sabe a importância do sistema. ;Se houver a manutenção, serão 70% de cotas, um número expressivo. Há 10 anos, quando o sistema foi instituído, não tinha a lei federal e a UnB foi inovadora. Era outro cenário;, diz.


O que for decidido no dia 3 de abril já será implementado no vestibular do segundo semestre. Na última reunião do conselho, o decano de Ensino de Graduação, Mauro Rabelo, demonstrou preocupação com a demora para se tomar a decisão, pois dela depende a publicação do edital.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação