postado em 18/03/2014 16:15
;Hoje, nós, índios, não vivemos como antes. Estamos quase deixando de ser índio para virar branco;. O desabafo de Kátia Silene, da tribo Akarãtika-Tejê, também conhecida como Gavião da Montanha, foi feito na manhã desta ultima segunda-feira (17), durante o seminário Os impactos dos projetos econômicos e o extermínio de culturas: Energia e mineração em terras e rios dos povos originários. O evento foi realizado no Memorial Darcy Ribeiro, no campus da UnB.Kátia revela que seu povo perdeu todas as terras com a construção da Hidrelétrica Tucuruí e teme pela extinção de sua comunidade com a possível criação de uma nova hidrelétrica na região de Marabá, onde vive com outras tribos indígenas. ;Meus filhos vão conhecer a história do nosso povo só em livro;, protesta. De acordo com o professor Airton Pereira, da Universidade Federal do Pará, o impacto nos povos indígenas ocorre desde a década de 60, quando se difundiu o agronegócio na região. ;Com a migração para esse local, houve o crescimento de conflitos por terra;, conta.
Airton Pereira explica que, além de terem suas terras invadidas por fazendeiros e cortadas por estradas, agora os índios sofrem com a produção energética na região. ;Marabá é estratégica para a produção de energia;, revela o professor. Com a promessa do governo federal de construir hidrelétricas no Pará, o impacto começa a ser sentido, já que cresce o número de mineradoras estrangeiras que chegam à região. ;As mineradoras canadenses estão como formiga no açúcar. Todas elas estão situadas nessa região onde, coincidentemente, estão previstas as hidrelétricas. Estão cercando a área;, diz a ativista ambiental e pesquisadora independente, Telma Monteiro.
A líder indígena Kátian Silene conta que o pó da mineração já atrapalha a polinização de frutas. ;Antes dava 10 carradas, hoje não tiramos duas;, revela. ;Óbvio que todos esses projetos hidrelétricos e minerários devem impactar as terras indígenas que estão nessa região;, alerta Telma. Para Guilherme Carvalho, da Ong FASE Amazônia, o debate é mais profundo. ;O território amazônico está todo sendo disputado. Não tem um palmo de terra da Planamazônica que não seja motivo de embate;, revela. Ele defende que é preciso rever nosso modelo civilizatório.
O debate continua nesta terça-feira (18) e reúne pesquisadores, lideranças sociais, indígenas e quilombolas. ;Que progresso é esse / Que nos expulsa da terra / Tira o nosso alimento / Nos declara guerra / E nos joga nas periferias / E nos faz mais pobres?;, questionou o pesquisador Airton Pereira à plateia, citando um poema.