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Greve de estudantes de 1977 marca novo encontro da Comissão Anísio Teixeira

Evento levou à expulsão de 30 estudantes na década de 70. Deputadas Erika Kokay e Arlete Sampaio estiveram presentes na audiência e relataram suas experiências da época em que estudaram na UnB

postado em 18/03/2014 19:06
Evento levou à expulsão de 30 estudantes na década de 70. Deputadas Erika Kokay e Arlete Sampaio estiveram presentes na audiência e relataram suas experiências da época em que estudaram na UnBEm mais uma audiência pública da Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade da UnB as deputadas federal Érika Kokay (PT-DF) e distrital Arlete Sampaio (PT) deram seus depoimentos sobre os fatos ocorridos na universidade no fim dos anos 70. Ambas são ex-alunas da UnB e foram expulsas da universidade juntamente com outros 28 estudantes em 19 de julho de 1977, por participarem de movimentos contra a ditadura militar.

Arlete Sampaio foi estudante da Faculdade de Medicina (FM) entre 1971 e 1977. Em seu depoimento, contou que se reunia com colegas para discutir política em uma pequena sala da FM e nos gramados próximos ao Restaurante Universitário, que à época funcionava no prédio que hoje abriga o Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (CEAM).

A deputada federal Erika Kokay (PT-DF) afirmou que ;a UnB já nasceu na resistência, enquanto muitos achavam que a cidade só deveria receber órgãos governamentais e que uma universidade não seria necessária". Kokay relatou que começou a se envolver com o movimento estudantil no dia da matrícula, quando recebeu um panfleto que convidava a participar de uma assembleia. Segundo ela, esse era o espaço que se tinha para discutir política na universidade.

GREVE ESTUDANTIL
Em maio de 1977, estudantes da UnB realizaram um ato público que culminou numa greve contra sanções administrativas aplicadas a estudantes pela reitoria. Como consequência, no dia 18 de julho do mesmo ano, o então reitor José Carlos Azevedo expulsou 30 alunos e suspendeu outros 34. O jornal O Globo publicou notícia sobre o ocorrido no dia 19 de julho de 1977 e divulgou uma nota de Azevedo. Leia a reportagem.

Arlete Sampaio e Erika Kokay estavam na lista de expulsos e contaram suas versões do fato. Kokay relatou que, em 1976, o então reitor propôs a criação do Diretório Universitário, do qual poderiam participar representantes de alunos que tivessem boas menções e algum tempo de universidade. Mas, segundo a deputada, era um espaço limitado de representação. "Aceitamos as regras do jogo numa lógica de que ocuparíamos esse espaço e depois o ampliaríamos;. Foram formadas duas chapas e, para surpresa dos estudantes, a reitoria resolveu expulsar da universidade membros das chapas. Por causa desse episódio, os movimentos estudantis se uniram para deflagrar a greve.

As deputadas relataram que quando foram expulsas tiveram seus registros apagados. Com isso, tinham dificuldades para ingressar em outras instituições. Após o episódio da expulsão, em julho de 1977, os estudantes entraram com uma ação na justiça e conseguiram voltar à universidade.

MEMÓRIA
Arlete Sampaio e Erika Kokay comentaram sobre a relevância das audiências realizadas pela Comissão de Memória e Verdade da UnB. Para Kokay, ;é importante se apropriar da nossa própria história, já que tudo neste país foi construído com muito sofrimento;. Sampaio afirmou que ;resgatar a memória é essencial para a construção do futuro. Isso gera um aprendizado para que possamos ter sempre em mente a defesa de uma sociedade democrática;.

Para Daniel Faria, os depoimentos coletados são muito importantes para os trabalhos da comissão.;Há uma grande quantidade de documentos no Arquivo Nacional, mas quando as pessoas nos contam os fatos, nos trazem uma dimensão mais rica, da vivência dos acontecimentos. Só a documentação não traz isso;.

COMISSÃO
Criada em agosto de 2012, a Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade da UnB objetiva investigar violações de direitos humanos, perseguições políticas, funcionamento dos mecanismos repressivos e formas de resistência na UnB durante o regime entre 1964 e 1988. O grupo tem levantado e sistematizado informações desde o seu lançamento, quando começou a apurar as causas de morte de Anísio Teixeira, um dos criadores da UnB.

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