Jornal Correio Braziliense

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Bolsista da PUC-RJ faz campanha on-line para bancar estudos nos EUA

Estudante tem até 20 de julho para arrecadar cerca de 20 mil dólares, ou perderá oportunidade para estudar engenharia aeroespacial na Flórida

Quando Luiz Fernando Leal, na época com 13 anos, voltou um dia da praia de Botafogo após assistir a uma corrida de aviões e contou aos pais que queria ser piloto de caça, eles não entenderam muito bem o que aquilo significava. Mas era tarde demais para desconversá-lo: a imagem dos enormes objetos fazendo manobras no céu não sairia mais de sua cabeça. Alguns poucos graus de miopia obrigaram Luiz a abdicar do sonho de criança, mas não foram capazes de vencer a força de sua determinação.

Sete anos depois, a cabine de pilotagem ficou pequena para o tamanho da ambição do carioca, aprovado em janeiro do ano passado no curso de engenharia aeroespacial do Florida Institute of Technology, na cidade de Melbourne ; o centro do setor espacial norte-americano (conhecido como Space Coast), onde se encontra o Cabo Canaveral e a Nasa (sigla em inglês de National Aeronautics and Space Administration ; Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço).

Muitos degraus precisaram ser galgados para chegar até ali, no entanto. O interesse em sonhar mais alto ; literalmente ; começou quando, aos 15 anos, ele ingressou no Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet-RJ), onde descobriu o mundo das olimpíadas científicas. Participou inúmeras vezes nas mais diversas modalidades e conquistou vários prêmios, mas seu maior ganho foi a descoberta da paixão pela astronomia, que seria decisiva para a criação de sua nova meta de carreira: cursar engenharia aeroespacial.

[SAIBAMAIS] Apesar de algumas universidades brasileiras oferecerem o curso, o adolescente sempre soube que o grande polo de efervescência e inovações dessa indústria não ficava abaixo da linha do Equador, e não pôde ignorar tal fato. ;Quando uma pessoa encontra o seu caminho no mundo, não mede esforços para segui-lo nem se contenta com menos;, diz. Decidiu então que prestaria vestibular nos Estados Unidos. Só havia um problema: ele não tinha conhecimento em língua inglesa, e seu pai só pôde pagar por seis meses de aulas.

Determinação
Assim, no início de 2012, quando cursava o 2; ano do ensino médio e tinha apenas 17 anos, Luiz Fernando começou a desvendar o idioma por conta própria. Estudava no ônibus, no intervalo das aulas e no almoço. Acordava às 5h para ouvir a rádio da CNN e treinar a audição. Via filmes e séries sem legenda, comprou uma gramática que devorava, pegou livros de apoio emprestado e chegou a criar um grupo de conversação com amigos. Investiu completamente nisso ao longo de dois anos para estar pronto para as provas, em novembro de 2013, e passou em três das sete universidades em que se inscreveu. Só um brasileiro além dele conseguiu uma vaga no instituto escolhido, mas a história ainda está longe de terminar.

Os custos da Florida Tech, como é conhecido a instituição de ensino, são altos. Mesmo com a bolsa de 43% da anuidade concedida ao estudante, os US$ 21.240(cerca de R$ 63.720) restantes são impraticáveis para o orçamento da família, e ele não pode trabalhar legalmente no país de destino ; não de maneira que cubra seus gastos.

Inabalável, o carioca iniciou um projeto de crowdfunding on-line chamado Astronando, ao qual se dedicou integralmente de maio a julho de 2014 e que o deixou US$ 10 mil (cerca de R$ 30 mil) menos distante da realização de seu sonho. Mas ainda ficaram faltando mais de US$ 20 mil a serem obtidos em apenas um ano ; já que o prazo oferecido a ele vai até 20 de julho deste ano. E isso sem considerar os outros três anos de duração do curso e os gastos extras de moradia, alimentação e plano de saúde. Luiz foi também desenganado pela universidade quanto a um emprego como zelador no câmpus, com o qual ele estava contando.

Nesse meio tempo, ingressou como bolsista na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC - RJ) e lá iniciou um startup de tecnologia com um amigo, o que diminuiu exponencialmente sua disponibilidade para trabalhar no crowdfunding, que, por isso, passou a render cada vez menos. Pela primeira vez, o estudante considerou largar o grande sonho e investir no empreendedorismo. Chegou inclusive a tentar devolver o dinheiro arrecadado em seu projeto, mas a maioria dos doadores se recusou a aceitar o ressarcimento.;Comecei a ficar chateado por ter de abrir mão de outro sonho, como quando era mais novo, mas depois percebi que um problema financeiro é bem mais remediável que um problema de saúde, e resolvi tentar de novo;, afirma.

Agora ele aguarda resposta das empresas brasileiras que contatou no início do ano ; como Embraer e Helibrás ; e do Ministério da Educação (MEC) e Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTi), mas, a menos de duas semanas do prazo final, não há tempo a perder. Quando perguntado sobre quais suas perspectivas caso consiga algum patrocínio, afirma que quer trabalhar na área de criação de foguetes e aproveitar ao máximo todas as oportunidades que puder para poder voltar e retribuir o Brasil. ;Quando vejo na internet os projetos que estão sendo criados lá, só consigo pensar que é aquilo que eu queria estar fazendo;, diz. O email para contato do estudante é astronando@gmail.com