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Câmpus da UnB vive às escuras

Um dos graves problemas da universidade é a iluminação, segundo o prefeito do local. Alunos vivem acuados e se queixam do descaso da administração da instituição no assunto

postado em 18/03/2016 17:34

Cena comum na instituição à noite: pouca iluminação é convite para a atuação de bandidos na universidade

À noite, o breu toma conta do Câmpus Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília (UnB), que conta com luzes e postes insuficientes para a extensão desde que foi fundado. Entre os poucos aparatos de iluminação, há muitos queimados ou desligados, não apenas em áreas externas, como estacionamentos, mas também dentro de prédios, a exemplo do Instituto Central de Ciências (ICC), em que alunos percebem muitas lâmpadas inativas. Há, inclusive, banheiros e centros acadêmicos que ficam totalmente no escuro durante o período noturno. Assunto voltou à tona depois do assassinato da estudante Louise Ribeiro (leia matéria ao lado)


Consenso entre os universitários, a situação é reiterada pelo prefeito dos câmpus, Marco Aurélio Gonçalves de Oliveira: a luminosidade é o principal problema de segurança da UnB. ;A iluminação está estreitamente ligada a isso e é um item essencial que precisa ser melhorado.; Diante de um cenário complicado, com frequentes casos de furto, o estabelecimento de ensino começou a usar o aplicativo WhatsApp (9263-5760), por meio do qual alunos, professores e funcionários podem avisar sobre atos ou pessoas suspeitas e qualquer outra ocorrência à Coordenadoria de Proteção ao Patrimônio (CoPP).
A morte de Louise Ribeiro suscitou discussões sobre a violência contra as mulheres e a segurança na UnB
;Lançamos o canal em 7 de março, no início do semestre letivo, e tem dado muito certo. Inclusive, recebemos informações sobre o desaparecimento da Louise. A plataforma será como os olhos da segurança quando não estivermos no local. Basta passar o maior número possível de detalhes que vamos enviar pessoal e chamar a Polícia Militar, os Bombeiros ou quem for necessário;, garante Josué Barbosa Guedes, responsável pela CoPP. Segundo ele, a comunidade acadêmica também pode ajudar no combate à violência na universidade prestando mais atenção ao ambiente. ;As pessoas ficam tão à vontade que se esquecem do perigo. Encontramos gente cochilando dentro dos carros, o que aumenta o risco até de sequestro relâmpago.;

Medo
Moradora de Taguatinga, Stéfany Braga Gonçalves, 20 anos, é aluna do curso noturno de letras/português e sente medo nos percursos que precisa fazer na universidade. ;No mesmo dia em que a Louise morreu, roubaram o carro de uma colega e o celular de outra;, relata a jovem. ;É preciso aumentar a vigilância, não com a PM, mas com um maior número de guardinhas. Deveriam iluminar mais a UnB e colocar luzes de emergência para quando a energia acabasse, porque sempre que chove, falta;, propõe Stéfany, que está no 6; semestre.

[SAIBAMAIS]Paula dos Santos, 22, é aluna de mestrado em educação física desde o ano passado, concluiu a graduação na instituição e também percebe os problemas. ;O caminho entre a FEF (Faculdade de Educação Física) e outros pontos da UnB, como o RU (Restaurante Universitário), o ICC e a FS (Faculdade de Saúde), é muito mal iluminado. Entre o Minhocão e a Biblioteca e a Reitoria, também é muito escuro. No caminho até as paradas de ônibus e nos estacionamentos, é horrível. No CO (Centro Olímpico), é muito comum ter roubo de carro;, observa.
Providências
Apesar das críticas à infraestrutura, o prefeito dos câmpus, Marco Aurélio Gonçalves, ressalta que nem todas as áreas são de responsabilidade da UnB. ;O trajeto entre o câmpus e a L2 Norte é de responsabilidade do GDF, que ainda precisa iluminar algumas áreas. A universidade vai até o limite da calçada da L3;, defende. Segundo ele, na gestão atual, desde o fim de 2012 até setembro de 2015, foram instaladas novas lâmpadas em diversos locais, entre eles, os arredores dos institutos de Biologia e de Química, da Faculdade de Saúde e dos Blocos de Sala de Aula Sul.

Sobre os problemas mais recentes de iluminação, Gonçalves explica que eles são ocasionados pelo fim dos acordos com prestadores de serviço. ;Uma das empresas contratadas faliu. Chamamos a segunda colocada, que não aceitou. Então, tivemos que abrir nova licitação. Além disso, os contratos de manutenção da UnB terminaram em fevereiro. Na semana passada, novos contratos começaram a ser assinados. De fevereiro até semana passada, ficou essa lacuna na mão de obra;, diz. Segundo o prefeito, em 45 dias, todas as luzes queimadas ou desligadas deverão ser arrumadas e novos equipamentos começarão a ser instalados. ;Vamos continuar a expansão da iluminação, especialmente nos trajetos de chegada e saída à noite;, garante.
Apesar de a Universidade de Brasília ter ganhado um conselho de segurança em 2003, o grupo ficou inativo durante algumas gestões da reitoria e, em outras, não conseguia quórum para as reuniões que discutiriam o assunto. Agora, o objetivo é voltar a ter as assembleias temáticas. ;A gente está retomando o conselho. Na última segunda-feira, durante o ato em homenagem à Louise, a Secretaria de Segurança do DF se colocou à disposição, então, vamos reativá-lo contando com eles e também com a participação dos alunos. Antes, as reuniões eram uma vez por ano. Quero que sejam mensais;, explica Thér;se Hofmann, decana de Assuntos Comunitários. ;Faixas de pedestre e iluminação externa são ações que dependem da parceria com o GDF. É um trabalho que precisa ser fiscalizado e que deve ter continuidade;, conclui.
Contexto
Segundo Josué Barbosa Guedes, no ano passado, a CoPP registrou 1.246 ocorrências na Universidade de Brasília. Em 2014, foram 725. As mais comuns são furto de objetos pessoais, como celular e mochila, e furto em interior de veículos. O diretor de Segurança observa que os números não incluem apenas crimes, já que os casos se referem a outros acontecimentos também, como princípio de incêndio, curto-circuito e vazamento de gás em apartamentos da Colina. ;É importante ressaltar ainda que nem tudo é registrado no nosso livro: as ocorrências só se referem ao que chega até nós, mas há situações que as pessoas não denunciam;, complementa Guedes.

O diretor de Segurança pondera a situação da UnB reflete a realidade do restante da cidade e do país. ;Quando algo acontece aqui, a repercussão é maior, mas a violência está presente em todos os lugares. No dia seguinte após a morte da aluna na UnB, teve um assassinato parecido em Samambaia.; A extensão da instituição de ensino é um dos problemas na busca por segurança. ;No Darcy Ribeiro, o formato é aberto: 14 vias de acesso cortam o câmpus, temos cinco bancos, uma agência dos Correios. São cerca de 40 mil estudantes e uma média de 60 mil pessoas circulando por ali diariamente. Só nos estacionamentos, há 8 mil vagas para carros. É uma cidade;, decreta. ;Nos outros câmpus, não há tantas ocorrências, pois são mais fechados.;
Time da segurança
Em regime de escala, 105 vigilantes concursados e 202 terceirizados são responsáveis por zelar pelo patrimônio material e pela proteção das vidas de quem circula pelos quatro câmpus da instituição 24 horas por dia. Completam o trabalho 406 porteiros terceirizados. Todos trabalham sem armas e não tem o poder de efetuar prisões. Em caso de alguma situação suspeita, eles devem informar às autoridades competentes. No entanto, o número de profissionais em atividade é ainda menor por causa de atestados médicos e licenças, muito comuns no caso dos concursados. Como o cargo de vigilante foi extinto do plano de carreira da instituição, não serão abertos novos certames para o cargo: a UnB apostou na terceirização.

À frente da Coordenadoria de Proteção ao Patrimônio (CoPP) e diretor de Segurança da UnB, Josué Barbosa Guedes explica que a média de idade dos vigilantes concursados é de 52 anos. ;Eles têm muitos problemas de saúde porque estão velhos. Tem muito tempo que não fazem concurso para esse cargo. O mais novo tem 46 anos, e o mais velho está completando 70. Além disso, 25 deles estão com tempo de aposentar. É por isso que, volta e meia, alguém está de atestado. É um trabalho desgastante, em escala, então vários apresentam hipertensão, depressão, entre outras doenças;, percebe.

Denuncie
Qualquer pessoa pode avisar sobre casos suspeitos e outras ocorrências à segurança na UnB por meio do WhatsApp pelo número 9263-5760.


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