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Um basta ao assédio

Estudantes de jornalismo e de publicidade participam de concurso sobre o tema. Depois de seis meses de trabalho, criaram várias plataformas de comunicação para alertar sobre a importância da denúncia

postado em 29/07/2016 11:00

Estudantes de jornalismo e de publicidade participam de concurso sobre o tema. Depois de seis meses de trabalho, criaram várias plataformas de comunicação para alertar sobre a importância da denúncia

Sexual, moral, psicológico, simbólico. O assédio pode se vestir de várias formas. Pode estar em vários ambientes e, de tão popular, sequer ser notado. E mais, ele não tem sexo. Prefere as mulheres, mas pode escolher os homens. Mais atual que nunca, o tema foi o mote escolhido para um concurso da Faculdade de Comunicação Social da Universidade Católica de Brasília (UCB). Alunos de jornalismo e de publicidade se debruçaram em cima da hashtag #MeuÚltimoAssédio para criar produtos relacionados à temática e levantar a discussão: falar da última vez em que foi assediada ou assediado pode fazer com que, de fato, seja a última vez.

Depois de seis meses de trabalho, o resultado premiado foi uma campanha para diversos meios de comunicação, como televisão, jornal impresso, além de formatos para as redes sociais, produzida por oito estudantes. O conceito aborda o valor da denúncia. Quando uma vítima se cala, uma luz se apaga. ;Precisamos de luz para combater o silêncio. Muitas vezes, por não enxergarem o assédio como um assédio, o tema não tem a visibilidade que deveria. E a luz é a denúncia. Um grito para acabar com o silêncio;, justificou Iago Martinho Kieling, 18 anos, aluno do 4; semestre de jornalismo. Segundo Iago, a pesquisa foi intensa. Muito das técnicas usadas veio de influências do expressionismo ; movimento artístico que procura retratar as emoções e as respostas subjetivas.

Uma das peças é um vídeo. Uma moça, interpretada por uma atriz, sugere vários tipos de assédio até não aguentar mais. Nessa hora, ela grita. O vídeo não tem muitos sons; o grito, principalmente, não aparece. Mas foi o jeito encontrado para mostrar, mais uma vez, a importância de não se calar diante de um assédio. ;A gente sempre ouve falar de assédio. É até comum. Mas, quando vimos o conceito, aqui, durante o trabalho, a concepção muda. Você começa a perceber que o assédio está do lado e você não percebe;, afirmou Caio Eduardo Almeida, 20, que está no 4; semestre de jornalismo. Segundo outro participante, Benny da Silva Leite, 18, do 4; semestre de publicidade, apesar de as meninas serem minoria no grupo ; apenas três dos oito integrantes ;, elas foram mais ouvidas na hora da produção das peças.

Para Benny, é impossível falar do que não se viveu. ;Infelizmente, o assédio ainda acontece mais com as meninas. E foram elas que nos ajudaram a ter o olhar correto em cima do tema, com sensibilidade para que abordássemos da melhor forma. Elas indicavam os detalhes, com cuidado para que a realidade fosse retratada de verdade;, explicou. Em uma outra peça, os alunos produziram uma foto, na qual a vítima aparece agachada, retraída, de costas. ;Fomos atrás de destacar todos os sentidos ; visão, audição, tato ;, em uma campanha que fosse séria, sem brincadeiras ou descontração, para conscientizar;, resume Iago.

Os estudantes receberam um troféu, feito pelo designer Caê Penna em parceria com a Galeria Ponto; certificados de participação; e ganharam, ainda, uma festa. Terão uma visita agendada na Agência Heads e um jantar com profissionais da área de comunicação.

;Precisamos de luz para combater o silêncio. Muitas vezes, por não enxergarem
o assédio como um assédio, o tema não tem a visibilidade que deveria.
E a luz é a denúncia. Um grito para acabar com o silêncio;

Iago Martinho Kieling, 18 anos,
estudante de jornalismo, 4 ; semestre.


"A gente sempre ouve falar de assédio. É até comum. Mas, quando vimos
o conceito, aqui, durante o trabalho, a concepção muda.
Você começa a perceber que o assédio está do lado e você não notas"

Caio Eduardo Almeida, 20 anos,
estudante de jornalismo, 4; semestre


"Infelizmente, o assédio ainda acontece mais com as meninas. Temos garotas
no grupo e foram elas que nos ajudaram a ter o olhar correto sobre o tema,
com sensibilidade para que abordássemos da melhor forma"

Benny da Silva Leite, 18 anos,
estudante de publicidade, 4 ; semestre.

Elas ainda são as mais vulneráveis

Uma pesquisa do Instituto Avon/Data Popular com 1.823 universitários de todo o país, entre setembro e outubro de 2015, conclui que:

52%
foram humilhadas, xingadas ou ofendidas

56%
sofreram assédio sexual, comentários com apelos sexuais indesejados, cantadas ofensiva ou abordagens agressiva

28%
sofreram estupro, tentativa de abuso enquanto estavam sob efeito de álcool ou foram tocadas sem consentimento e forçadas a beijar veteranos

42%
já sentiram medo de sofrer violência no ambiente universitário

36%
deixaram de fazer alguma atividade na universidade por medo de sofrer violência

18%
foram coagidas a ingerir, à força, bebida alcoólica e/ou drogas, foram drogadas sem conhecimento ou forçadas a participar em atividades degradantes, como leilões e desfiles

10%
sofreram agressão física

49%
sofreram desqualificação intelectual ou piadas ofensivas, ambos por serem mulheres

63%
admitem não ter reagido quando sofreram a violência

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