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Estudante deficiente auditivo vai contar com videoprova no Enem 2017

Inscrições para o Enem começam nesta segunda-feira. Em caráter experimental, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), organizadores do certame, vai oferecer tradutor de Libras e apoio audiovisual

Marlene Gomes - Especial para o Correio
postado em 06/05/2017 08:00

Estudantes do 3º ano do ensino médio do Centro de Ensino Médio Elefante Branco se preparam para o exame com a professora Ana Márcia Lira Gandra


As inscrições para o Exame Nacionao do Ensino Médio (Enem) 2017 começam nesta segunda-feira, com uma novidade para os alunos com deficiência auditiva. Esses estudantes terão acesso a videoprova, com a tradução de todas as questões em Língua Brasileira de Sinais (Libras). Além disso, haverá um tradutor de Libras, que vai esclarecer dúvidas dos candidatos. A iniciativa, em caráter experimental do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), organizador do exame, tem o objetivo de implementar recursos para a promoção da educação inclusiva e garantir o direito justo para todos os participantes.

A vídeoprova será disponibilizada em uma sala especial. Para assegurar o direito a essa prova, os deficientes auditivos fizeram a opção no ato de inscrição para o exame. Os cartões de respostas serão preenchidos normalmente. A novidade pode não resolver ainda o problema dos surdos, principalmente daqueles cuja primeira língua é a Libras. Mas vai ajudar a diminuir o fosso da exclusão, já que, mesmo os alunos bem preparados para o exame, têm muitas dificuldades para fazer a prova. Dados do Inep indicam que cerca de 9.500 candidatos com problemas de surdez ; total ou moderada ;, de todo o país, solicitaram atendimento especializado no Enem 2016, seja de tradutor intérprete de Libras, leitura labial ou guia-intérprete (para surdocegueira).

Estudante do terceiro ano do ensino médio no Centro de Ensino Médio Elefante Branco (Cemeb), a aluna Ana Carolina Gonçalves Siqueira, 21 anos, vai fazer o Enem pela primeira vez. Deficiente auditiva, a jovem acredita que o vídeo com as questões em Libras e a presença do intérprete vão ajudar bastante na hora de fazer a prova. Mas considera que a iniciativa, embora importante, não é suficiente para uma prova justa para os deficientes auditivos. ;O bom seria que toda a prova do Enem fosse em Libras. Não dominamos a língua portuguesa. Só conhecemos metade das palavras, enquanto um aluno ouvinte aprende novas palavras todos os dias;, explicou Ana Carolina, por meio de Ana Márcia dos Reis Lira Gandra, professora do ensino especial do Cemeb.

Conquista

Os deficientes auditivos contam com uma hora a mais para fazer o Enem. A disponibilização de uma sala com o vídeo das questões em Libras é mais uma conquista para esses estudantes que terão acesso à tradução integral das provas. A correção da prova de redação desses candidatos já é diferenciada, por causa da dificuldade deles com a estrutura gramatical, flexão de verbos e o uso dos artigos. ;A língua materna deles é a Libras e a segunda língua é o português. Com o vídeo, esses alunos terão uma condição melhor de igualdade com os ouvintes. Esse recurso, acompanhado do auxílio do intérprete de Libras, vai contribuir para facilitar a compreensão das questões;, analisa a professora Ana Márcia.

De acordo com o Inep, no Enem 2016, 101.896 participantes solicitaram atendimento específico, 68.907, atendimento especializado, e 18.306 recursos de atendimento, como guia-intérprete, intérprete de Libras, prova ampliada, prova em braile, prova superampliada, auxílio para leitura e auxílio para transcrição, entre outros mecanismos para promover a acessibilidade. Somente para atender os estudantes com deficiência auditiva, foram contratados 3.558 profissionais, entre intérpretes de Libras e de leitura labial. Para cada dupla que atua nas salas com até seis candidatos, pelo menos um deveria ter domínio de leitura na língua estrangeira escolhida pelo participante.

Inclusão

O recurso de videoprova em linguagem de Libras já foi utilizado anteriormente pelo Inep, em 2016, na Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA). Segundo a diretora de Gestão de Planejamento do Inep, Eunice Santos, todos os avanços e recursos em termos de inclusão serão priorizados. ;O Inep, em sua atual gestão, implementou iniciativas, em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que permitirão avançar nos recursos que promovem a inclusão, fazendo valer o direito equânime de todos;, declarou.

;Não dominamos a língua portuguesa. Só conhecemos metade das palavras, enquanto um aluno ouvinte aprende novas palavras todos os dias
Aluna Ana Carolina Gonçalves Siqueira

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