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Preços novos, mesmo menu

Primeiro reajuste de preços do Restaurante Universitário desde 1994 entrou em vigor ontem, com acréscimo de até 108% na refeição. Estudantes prometem entrar com recurso

Mariana Machado
Marlene Gomes - Especial para o Correio
postado em 13/07/2018 12:51 / atualizado em 19/10/2020 15:03
Restaurante Universitário: o custo previsto de R$ 31,5 milhões em 2018 deve cair para cerca de R$ 20 milhões, com o reajuste dos preços 
 
Entrou em vigor ontem o aumento dos preços do Restaurante Universitário da Universidade de Brasília (RU/UnB). É o primeiro reajuste em 24 anos. Desde 1994, os alunos pagavam R$ 2,50 para café da manhã, almoço, ou jantar. Agora, o café custa R$ 2,80, enquanto almoço e a janta ficaram a R$ 5,20, um reajuste de 108%. O Diretório Central dos Estudantes (DCE) fala em uma ação contrária à medida.

Servidores e funcionários terceirizados também pagam a mais pela mudança. Antes, o custo era de R$ 2,50 em cada refeição. Agora, é cobrado o valor integral: R$ 7 no café e R$ 13 para almoço e jantar. Os únicos não afetados, são os alunos em situação de vulnerabilidade, que fazem parte do Programa de Assistência Estudantil. Eles continuam isentos do pagamento.

Não houve manifestação contra os preços ontem. Poucos alunos estiveram no campus, pois, apesar de o período letivo, oficialmente, até 17 de julho, muitos estão em férias. Quem passou pelo RU, no entanto, mostrou insatisfação. “A UnB cortou muitos estagiários. Deixei de receber a bolsa de R$ 650, que ajudava com as despesas acadêmicas, alimentação e transporte. O aumento prejudica grande parte dos estudantes. Quem não recebe assistência não pode pagar esse preço absurdo”, reclamou Raquel Gomes Silva, 29, aluna de educação física.

O estudante de psicologia João Paulo Siqueira de Araújo, 19, considera o aumento desproporcional. “A UnB precisa de dinheiro e o aumento no RU foi uma maneira que encontraram para isso. O objetivo até dá para entender, mas é questionável a forma”, ponderou o jovem.
 
 
 
Rombo

O reajuste vem no momento em que a universidade calcula um déeficit de R$ 92 milhões para 2018. Só no ano passado, o restaurante custou R$ 27,4 milhões aos cofres da UnB. A previsão para este ano era de R$ 31,5 milhões, mas, com os novos preços, a expectativa é de que os gastos sejam reduzidos para cerca de R$ 20 milhões. A decisão foi proposta pela reitoria e aprovada em reunião pelo Conselho de Administração (CAD) da UnB, mas o DCE questiona a integridade da aprovação.

Segundo o coordenador-geral do DCE, Renato Carvalho, os alunos não foram representados na votação. “A reunião foi convocada com menos de 48 horas do horário previsto e os estudantes não tinham representadas 10% das cadeiras, o que é regra”, reclamou. Ele alega ainda que a proposta apresentada não havia sido discutida previamente, e muitos alunos em situação de vulnerabilidade terão dificuldade com a nova despesa. “É muita burocracia para fazer parte do programa e essas pessoas não conseguem da noite para o dia arcar com esse aumento”, comentou Carvalho.

O DCE entrou com recurso junto ao Conselho Universitário contra a decisão, mas o aumento foi determinado antes de um parecer sobre o documento. “Soubemos que a reitoria colocou o recurso como sigiloso para que ninguém tivesse acesso. Eles decidem quem pode ver o documento. Pela inconstitucionalidade disso, recorremos à Lei de Acesso à Informação para que ele se torne público novamente”, explicou Renato Carvalho.



Debate

Por meio de nota, a UnB diz que na reunião havia representantes discentes que tiveram momento de fala e direito a voto. “A administração reitera que a nova política foi amplamente debatida com a comunidade e que as mudanças procuram responder ao desafio de priorizar a assistência estudantil e, ao mesmo tempo, manter o equilíbrio orçamentário”, diz a nota.

Segundo a reitoria, a questão é debatida desde setembro do ano passado e foram feitas três reuniões do colegiado apresentando possíveis cenários para o custeio do restaurante. Quanto ao recurso do DCE, a direção da universidade informou que ele só deve ser analisado pelo Conselho em agosto. “A partir de então, a gente vai ver quais são as próximas medidas, judiciais ou não”, disse Renato Carvalho.

Ninguém da Diretoria de Desenvolvimento Social, que cuida do programa de assistência foi procurada, se posicionou sobre o assunto.

Cardápio

Aluno de fisioterapia Vittor Michel Godoi, 31, faz as três refeições no RU e lamentou o aumento. “Agora tem gente que vai ter que pagar mais que o dobro por dia. A situação só não é pior porque recebo a assistência estudantil. Mesmo com o aumento no preço, não houve diferença na comida”, disse Vittor.

A UnB informou que o cardápio, preparado pela empresa Sanoli, não muda. Também por nota, a Sanoli informou que “segundo as nutricionistas que ficam na UnB, a comida é bastante elogiada”.
 

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