Darcianne Diogo*
postado em 13/07/2018 18:18
Fundado em 2016 pela Secretaria de Políticas para Crianças, Adolescentes e Juventude do DF, o programa #BoraVencer surgiu para atender à demanda da Conferência Distrital de Juventude de 2015, que definiu oportunidades de estudo para vestibulares em universidades públicas, Institutos Federais (IFs) e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Neste ano, 342 alunos do #BoraVencer foram aprovados na Universidade de Brasília (UnB). Esse total representa 16% dos classificados nesta edição do vestibular. Desde 2016, o #BoraVencer ajudou a cerca de 2500 alunos a entrarem em universidades públicas do DF, tanto por processos seletivos próprios quanto pelo Enem. Ao todo, já foram realizados 22 ;aulões; e três cursos intensivos, atendendo 50 mil estudantes.
O programa é baseado em ;aulões; nos fins de semana, que abrange todas as disciplinas cobradas pelo Enem. Ao todo, são quatro aulas por semestre, nos horários das 13h às 18h, no auditório do Centro de Convenções Ulysses Guimarães. As aulas são ministradas por 11 professores, com formação profissional que trabalham voluntariamente no programa. O professor de português do colégio Único Marcelo Freire é um dos voluntários. Ele diz que por mais que hoje existam meios mais acessíveis de ingressar em uma universidade pública, ainda não é o suficiente. ;Precisamos disseminar a educação e não depender totalmente do governo;, explica.
Aberto à comunidade, o programa não faz seleção de pessoas, mas a coordenadora do #Bora Vencer, Gabriela Godoy, ressalta que o principal objetivo do projeto é levar conhecimento às pessoas em situações de vulnerabilidade social. ;Nós temos como missão dar a oportunidade para jovens que não tenham condições financeiras de fazer um cursinho, por exemplo;, diz. A coordenadora explica que maior parte dos estudantes que frequentam o programa são das cidades de Ceilândia, Taguatinga e Planaltina.
Conheça a história de alguns estudantes aprovados no vestibular da UnB
Emerson Teixeira Nunes, 19, aprovado no curso de química tecnológica, do câmpus Darcy Ribeiro
A admiração pela UnB era de longa data, mas Emerson sabia das dificuldades que teria de enfrentar para ingressar na universidade e foi daí que começou a se preparar. Com uma rotina diária de estudos, o estudante dedicava quatro horas do dia para garantir uma vaga no curso de química tecnológica. Não satisfeito, Emerson passou a frequentar os aulões do #BoraVencer, em 2017, e conta que o programa influenciou na aprovação. ;Toda minha vida estudei em escola pública e a escola tinha deixado deficits das matérias, como matemática e física. Então, as aulas do programa me auxiliaram nisso e me deram um ensinamento completo;, diz.
O estudante conta que o corpo docente do programa também o ajudou. ;Os professores eram muito atenciosos, sempre nos ajudavam. Às vezes, eles passavam do horário da aula só pra tirar dúvidas;, comenta. Segundo Emerson, a escolha do curso foi uma possibilidade de descobrir novas tecnologias, mas ele diz que as formações não param por aí. ;Pretendo fazer ainda farmácia ou bioquímica, para me especializar mais;, conclui.
Luana Fernandes, 21, aprovada no curso de medicina, do câmpus Darcy RibeiroFoi com o auxílio do #BoraVencer que a estudante Luana Fernandes, 21 anos, passou no curso de medicina da UnB. Durante todo o ensino fundamental e médio, Luana estudou na escola pública 13 de Maio, no município de Alexânia (GO) e diz que aparentemente o sonho de ser médica era distante da realidade dela. ;A gente morando no interior sabe que as escolas não são boas. Meu pai é motorista de caminhão e minha mãe é dona de casa. Então, eu não tinha condições de pagar um cursinho e muito menos me deslocar todos os dias para o Plano Piloto. Era muito custo;, relata. A estudante também conta que o sonho em ser médica ocasionou uma onda de preconceitos por parte dos familiares. ;Meus pais sempre me apoiaram, mas outros parentes falavam: medicina não foi feito para pobre ou desiste disso, faz outra coisa, mas eu nunca desisti;, diz.
Luana tentou ingressar na UnB por três vezes consecutivas, mas não obteve sucesso. Ela estudava cerca de oito horas por dia em casa e até fez um cursinho no Galois, pago pelo tio. ;Até fiz o cursinho, mas os custos da condução estavam pesando. Então, desisti;, diz. Mas foi por conta de um convite de uma prima, que ela conheceu o #BoraVencer e passou a ir aos aulões constantemente, e diz que as aulas foram essenciais para a aprovação. ;O projeto viabiliza o acesso de estudante da escola pública à UnB, além disso, ele dá um norte para o candidato saber o que estudar;, explica. O sonho é seguir carreira como obstetra. Além de gostar da área, ela pensa em aplicar o conhecimento na cidade onde mora ; Alexânia. ;Vejo gente morrendo, sem atendimento nos hospitais. Há carência muito grande de médicos. Quero melhorar isso;, conclui.
Anderson Marques, 17, aprovado em 3; lugar no curso de direito, do câmpus Darcy Ribeiro
O estudante Anderson Marques, 17 anos, foi um dos aprovados no vestibular da UnB deste ano. Ele passou em terceiro lugar no curso de direito, do câmpus Darcy Ribeiro. O aluno chegou a fazer duas provas do Programa de Avaliação Seriada (PAS) ; prova aplicada nos três anos do ensino médio ; mas não fez a terceira. ;Depois vi que tinha cometido um equívoco e não tinha como voltar atrás;, relata o estudante.
Ao término do ensino médio, em 2017, Anderson decidiu se dedicar mais aos estudos, e por meio do #BoraVencer, o estudante se motivou mais. ;Os aulões me ajudaram a manter o foco e a não deixar desistir;, diz. Além das aulas ofertadas pelo programa, Anderson também fez o cursinho on-line Descomplica e aprimorava os conhecimentos em casa, com uma rotina de estudos de 15 horas por dia.
Segundo ele, a paixão pela área do direito surgiu depois de um estágio feito no ensino médio, no Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPFDT), no qual trabalhava no setor administrativo. ;A partir do estágio comecei a me interessar pela área da promotoria. Estou com altas expectativas para o começo do curso;, relata.
#BoraVencer Intensivão
O programa #BoraVencer Intensivão também é uma iniciativa da Secretaria de Políticas para Crianças, Adolescentes e Juventude do DF, e se baseia em aulões preparatórios para as provas do PAS, da UnB, e para o Enem. O programa está previsto para iniciar no fim de julho. Ao todo, são 200 horas de aulas, durante o semestre. Todas as aulas são gratuitas.
Podem se inscrever jovens de 15 a 29 anos, sendo que o preenchimento das vagas é feito seguindo critérios de vulnerabilidade social (renda familiar, participante de programas sociais, entre outros), com preferência para estudantes oriundos da rede pública de ensino.
Os interessados em participar, deverão acompanhar o andamento do período das inscrições, no site.
*Estagiária sob supervisão de Ana Sá