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Como as escolas planejam implementar as habilidades socioemocionais

Uma das novidades da Base Nacional Comum Curricular, as competências do século 21 são desafios para as instituições de ensino; instituições como a Little Maker, do interior paulista, já se valem de métodos inovadores

Eu, Estudante
postado em 18/09/2018 13:02
Desde que o Ministério da Educação (MEC) aprovou a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) dos ensinos infantil e fundamental, em dezembro, as escolas brasileiras passaram a se preocupar com a implementação das novas diretrizes.

O documento estipula um conjunto de normas que, segundo a pasta, podem nortear os projetos educacionais das instituições escolares pelo país. Entre outras coisas, ele prevê que os alunos devem ter acesso às competências ligadas ao século 21, tais como as chamadas habilidades socioemocionais.
Crianças da Little Maker colocando a mão na massa

A pedagoga, professora Dra. Vera Melis, que representa o Brasil no World Forum on Early Care and Education, da organização internacional World Forum Foundation (WFF) e que chefiou o escritório brasileiro da Unesco por dois anos, explica que essas habilidades estão ligadas à necessidade de formar pessoas que não dominem apenas o conhecimento cognitivo tradicional, mas também saibam a importância do controle das emoções, da empatia, das relações sociais e da tomada responsável de decisões.

"Estamos mais preocupados em ensinar conteúdos do que conceitos. Conversar sobre igualdades e diferenças permite que as crianças reconheçam, respeitem e verbalizem os sentimentos e intenções delas e os dos outros", diz ela.

;As habilidades socioemocionais, neste sentido, são principalmente uma maneira de inserir as crianças na ;arte da convivência;, que hoje não é contemplada no ensino tradicional. Quanto mais individualizada for a educação, menos elas entenderão sobre essas necessidades;, completa.

Algumas iniciativas parecem estar adiantadas neste processo. Em Americana, no interior paulista, por exemplo, a escola de criação Little Maker leva aos colégios uma metodologia de ensino inspirada no modelo de Aprendizagem Criativa do Massachusetts Institute of Technology (MIT).

Com a metodologia, as crianças aprendem o conteúdo comum, como matemática ou língua portuguesa, enquanto constroem projetos e buscam soluções para problemas de forma colaborativa ; toda a dinâmica é norteada pelas habilidades emocionais.

Os alunos são desafiados a estimular a criatividade por meio de atividades lúdicas que, juntando as crianças em torno de um projeto, combinam a produção de artefatos, como hélices ou manivelas, com a necessidade de usar o conhecimento básico, como contas matemáticas.

;A gente trabalha com uma abordagem prática e prazerosa que ajuda o aluno a aproveitar materiais artesanais ou tecnológicos que dêem mais sentido ao ato de aprender;, explica Diego Thuler, fundador da Little Maker. ;Não se trata apenas do professor falar e a criança escutar: trata-se de colaboração, resiliência, atitude e pensamento criativo;, completa.

Para Vera Melis, a contemplação de habilidades socioemocionais na Base Nacional Comum Curricular coloca o Brasil em uma lista de países com diretrizes modernas de educação, como o Canadá e a Austrália.

"As habilidades socioemocionais já estavam embutidas em várias outras diretrizes sobre a educação brasileira, mas nunca de uma forma sistematizada. A BNCC foi uma grande conquista: é coerente e possibilita vários caminhos de trabalho para o futuro".

A Unesco, organização da ONU para a educação e a cultura, já disse que considera o desenvolvimento de habilidades socioemocionais uma "mudança de compreensão da vida". "O conhecimento em si deve ser algo amplamente significativo e prazeroso, algo da ordem socioemocional", defende Anita Abed, consultora da entidade.

A Base Nacional Comum Curricular é um dos pontos do Plano Nacional de Educação (PNE), sancionado pela ex-presidente Dilma Rousseff em 2014.

Ela foi enviada ao Conselho Nacional de Educação (CNE) no começo do ano passado e aprovada em dezembro, quando, enfim, foi assinada pelo então ministro da Educação, Mendonça Filho.

O CNE deve entregar até o final deste ano as diretrizes para o ensino médio. As escolas públicas e privadas do país devem elaborar seus próprios programas a partir da BNCC até 2020.

Entre as novidades do documento estão a volta do ensino religioso às escolas, a necessidade da alfabetização básica ser concluída até o segundo ano do ensino fundamental e o desenvolvimento de competências para o século 21, como habilidades socioemocionais.


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