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Graças à EAD, matrículas do ensino superior voltam a crescer após dois anos

Números são do Censo da Educação Superior 2017, divulgado nesta quinta-feira (20). Crescimento só foi possível devido ao aumento de matriculados no ensino a distância

Eduarda Esposito*, Ana Paula Lisboa, Thays Martins
postado em 20/09/2018 11:00
Apesar da estagnação das matrículas em cursos superiores presenciais, o número de alunos de ensino superior aumentou no Brasil depois de dois anos em baixa. A responsável pelo crescimento é a educação a distância (EAD). Divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) nesta quinta-feira (20), o Censo da Educação Superior 2017 mostra que, no ano passado, o país atingiu o maior número de alunos matriculados em instituições de ensino superior desde 2007.
tabela com o número de matrículas na educação superior (graduação e sequencial) de 2007 a 2017
Mais de 3,2 milhões de pessoas ingressaram na graduação no ano passado. Um aumento de mais de 240 mil em relação a 2016. Até então, o maior aumento havia sido registrado em 2014, um pouco mais de 3 milhões de novos alunos. No total, há 8,3 milhões de alunos matriculados no ensino superior. O Ministério da Educação (MEC) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) anunciaram os dados do censo em entrevista coletiva de imprensa nesta quinta-feira (20). Assista:

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O ensino presencial ficou praticamente estagnado (com aumento de 0,5%), e o que realmente impulsionou o crescimento das matrículas foram os cursos oferecidos no formato de educação a distância. Apesar disso, "a EAD ocupa 33% dos ingressos, e a educação presencial 67% dos ingressos" em 2017, conforme explicou o ministro da Educação, Rossieli Soares. Do total de alunos matriculados em cursos de licenciatura no ano passado, por exemplo, 46,8% estudavam a distância, e 53,2% cursavam faculdade presencial.
O ministro da Educação, ao centro, apresenta os dados do censo

EAD e a questão da qualidade

Rossieli destacou que, diferentemente do que se possa pensar, o que determina a qualidade de um curso não é formato dele. "Curso presencial não quer dizer que tenhamos qualidade. Há lugares onde são ofertados cursos presenciais, e os resultados são ruins. Assim como temos bons indicadores em educação a distância", disse. "O ponto principal é que temos a meta de incluir mais alunos no ensino superior, seja presencial seja a distância, mas mantendo a qualidade. Não dá para não ter qualidade", defende.
Entre 2016 e 2017, houve uma variação de 27,3% nas matrículas do ensino superior, enquanto, nos cursos presenciais, o aumento foi de apenas 0,5%. De acordo com Rodrigo Capelato, diretor executivo do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp) ; que, apesar do nome, tem abrangência nacional ;, os números mostram o quanto a modalidade tem crescido no Brasil. ;O ensino presencial ficou praticamente estagnado, o que é ruim, pois quem faz o presencial são principalmente os mais jovens. O Plano Nacional de Educação tem a meta de chegar a 33% dos jovens no ensino superior até 2020. Atualmente, são só 18,5% e, se não crescer, não vamos a lugar algum. Por outro lado, há esse crescimento forte na educação a distância.;
tabela de atributos do vínculo discente de graduação é dividade em: sexo, categoria administrativa, grau acadêmico, turno e idade.   A modalidade de ensino é dividida em presencial e a distância.
Para Capelato, uma explicação para o crescimento do EAD é o custo dos cursos. ;Eu vejo neles uma oportunidade. O EAD é mais acessível, evita problemas de deslocamento. Mas é preciso mesclar os dois formados, a distância e presencial, pois é difícil estudar sozinho;, afirma. Para o ministro da Educação, Rossieli Soares, o crescimento do formato EAD tem a ver tanto com uma estratégia das instituições de ensino (inclusive públicas, já que o ensino a distância também cresceu nessas entidades) quanto com a opção dos alunos por um modelo mais flexível, que permita o acesso de qualquer lugar e horário.
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"Educação a distância ou presencial: ambas as modalidades são possíveis, importantes e válidas, e estamos trabalhando para que ambas cresçam. É importante também sempre trabalhar na perspectiva de qualidade. A EAD é uma modalidade importante para a qual o Brasil naõ pode fechar os olhos por ter um déficit de atendimento", comentou. De acordo com Rossieli, a estagnação das matrículas presenciais se deve a "baque muito grande" recebido em 2014 pelas universidades, algo que começou a ser mitigado no ano passado. "A gente retomou e aumentou a liberação de recursos em 2017."

Evasão e vagas ociosas

Acabam sobrando muitas vagas nos cursos superiores pelo fato de haver muita evasão. "Temos poucos alunos terminando cursos", observou Rossieli. "Pela primeira vez, o Inep pegou o CPF de todo os alunos e seguiu a trajetória deles, já que o ingresso e a permanência no curso são indicadores importantes do que pode estar acontecendo. Tem turmas de física nas universidades formando cinco alunos", afirmou. "Em química, seguindo o mesmo padrão de pedagogia, em 2015, 55,4% desistiram."

MEC estuda novo formato de Sisu para aproveitar vagas remanescentes

Exatamente por isso, o MEC estuda a criação de um sistema de seleção unificada para ocupar vagas ociosas em cursos de graduação em universidades públicas. A proposta tem como base a baixa ocupação de vagas remasnecentes, tendo em vista que, em 2017, 99.662 vagas remanescentes foram ofertadas, mas apenas 22.676 foram ocupadas. "Tem vaga, tem lugar para alunos aprenderem dentro de universidades públicas, mas não estamos preenchendo. Temos que melhorar nessa questão", afirmou Rossieli. "E essas cerca de 70 mil vagas não ocupadas em 2017 são de menor custo, precisaria-se de pouco investimento para a sua ocupação. O MEC está trabalhando na construção da proposta e deve começar as conversas nos próximos 30 dias", informou.

Ensino médio

"Sao dados muito importantes para o ensino superior. Quero parabenizar o Inep pela quantidade de Informações que nós temos sobre o ensino superior", elogiou Rossieli Soares. Para Rossieli, é preciso e possível aumentar o número de ingressos no ensino superior. "8,9 milhões de jovens de 18 a 24 anos concluíram o ensino médio e não fazem curso superior. E é justamente de 18 a 24 anos a etapa da vida que deveriam procurar formação técnica ou superior após a conclusão do ensino médio", aponta. "Nós temos que incluir mais jovens nas universidades." Apesar disso, "um dado curioso é que o número de matrículas no ensino superior é maior que o ensino médio".

O desafio de ingressar

A dificuldade de entrar no ensino superior continua existindo. Exemplo disso, a empresária na área de turismo Eliane Julia Silva, 35 anos, cursa agora estética no Centro Universitário Iesb. Ela demorou 16 anos para ingressar no curso superior. ;Tive dificuldades e não conseguir ingressar em uma faculdade. Com o passar do tempo, acabei deixando esse objetivo de lado.; Há cerca de dois anos, ela retomou o sonho, mas o gasto financeiro ainda era um empecilho. ;Percebi que minha área não ia bem das pernas e precisava me formar. Porém, ainda tinha o obstáculo do pagamento;, relata. Foi aí que ela conseguiu uma bolsa e hoje endossa a estatística que aponta as mulheres como grande maioria na universidade.
mulher sorrindo. Ela tem cabelos loiros e usa um batom rosa e um brinco grande

Gabriela Pereira, 22, também está nesse grupo. Ela cursa gestão de recursos humanos na Universidade Anhanguera e conta que escolheu a área por questões financeiras. ;Eu ganhei uma bolsa. Estou fazendo pelas minhas condições e para ter um título que me permita fazer concursos. Trabalhando na área, posso ter condições para fazer o que realmente quero;, relata.
tabela de atributos do vínculo docente é dividade em: sexo, idade, escolaridade e regime de trabalho. A categoria administrativa é divida em pública e privada.

Rede pública tem menores índices de matrícula


Os cursos particulares são os que mais tiveram aumento na quantidade de matrículas. Neles estão mais de 75% das pessoas que cursam o ensino superior. O número menor de alunos nas instituições dos governos federais, estaduais e municipais é corroborado pela quantidade de universidades, faculdades e institutos públicos. Somente 296 instituições superiores pertencem ao governo, o que corresponde a 12% do total. A maior parte das universidades são públicas (53% do total), enquanto quase 90% das instituições particulares são faculdades.
gráfico em pizza mostrando a quantidade de instituições: 87,9% é privada e 12,1% federal, sendo 5,1% estadual e 2,6 privada
As faculdades correspondem a 82% do total e somente 25% dos alunos estão nelas. O Distrito Federal tem a segunda maior disparidade entre alunos matriculados na rede pública e nas instituições particulares, uma vez que, na região, o ensino superior público se restringe três instituições: Universidade de Brasília (UnB), o Instituto Federal de Brasília (IFB) e a Escola Superior de Ciências da Saúde (Escs). São 3,6 alunos matriculados na rede privada para cada aluno da rede pública.

Nas universidades é também onde se encontram os professores mais bem especializados: 57,2% deles têm doutorado, sendo que, nas instituições públicas, docentes com doutorados chegam a 62,3% do quadro de funcionários. No caso das particulares, esse número é só de 24,2%.
tabela com o número de professores qualificados das redes públicas e privadas. Medidos de 2007 a 2017

Contratações de professores nas redes particulares diminuem


Os dados do Inep também mostram que apesar da quantidade de professores contratados seguirem a tendência de aumento, isso não pode ser atribuído às redes particulares de ensino. A diferença de professores em exercício em 2017 é de 5 mil a menos do que em 2016. Foram registrados 209.442 professores dando aula nessa modalidade de ensino, número semelhante ao registrado em 2008.

Isso pode ser um reflexo da diminuição de horistas nas instituições particulares. Em 2007, esse tipo de contratação correspondia a mais de 47% dos professores. Em 2017, esse número já diminuiu para 26,5%.

Os cursos da modalidade a distância têm um percentual menor de doutores do que os presenciais. Mas, no caso do EAD, eles têm o menor percentual dos docentes que tem até a especialização em sua formação, 11%, a grande maioria, 46,5%, tem mestrado. Apesar da maior parte dos universitários serem mulheres, a grande maioria dos professores são formados por homens na faixa etária de 36 anos.

As mulheres no ensino superior

De acordo com o censo, a maior parte dos estudantes do ensino superior (ingressando, cursando e concluindo) é formada por mulheres. Em 2017, a taxa de ingresso feminina foi de 55,2%, a de matrícula foi de 57%, e a de concluintes de 61%. "Hoje as mulheres no ensino superior já são a maioria, estão ingressando em maior número e percentual e concluindo também. O que é um dado muito importante. E a igualdade de gênero também precisa ser discutida após o ensino superior, no mercado de trabalho", alertou o ministro da Educação, Rossieli Soares.
Entre os cursos mais ocupados pela população feminina estão pedagogia, direito, administração e enfermagem. "As mulheres estão avançando mais que os homens no processo de formação. Isso é importante também na discussão da diferença salarial entre homens e mulheres quando elas têm mais formação", apontou Rossiele. O ministro enfatizou a importância da discussão: "Não pode, para uma mesma função e, às vezes, com formação melhor, uma mulher ganhar menos".

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* Estagiárias sob supervisão de Ana Sá

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