Jornal Correio Braziliense

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Alunos da UnB lamentam vandalismo na biblioteca da universidade

Cinco livros sobre direitos humanos foram rasgados propositalmente. Instituição vasculha acervo para localizar outras obras danificadas

Atos recentes de vandalismo e autoritarismo preocupam a comunidade acadêmica da Universidade de Brasília (UnB). A Biblioteca Central (BCE) da universidade divulgou, nesta quinta-feira (4), que cinco livros de seu acervo foram propositalmente danificados. São obras que abordam direitos humanos, arte e democracia, como Imagens do Brasil, um compilado da luta pela efetivação dos direitos, e A renovação da antiguidade pagã, de Aby Warburg, célebre historiador de arte alemão.

Em nota, a instituição afirma que está fazendo varredura em outros títulos acerca do tema para avaliar se há mais estragos e, além disso, abrirá investigação preliminar para apurar as circunstâncias do ato. ;A UnB repudia quaisquer atos de vandalismo e informa que abrirá processo junto à Polícia Federal, órgão que apura casos de dano ao patrimônio na universidade;, diz a nota.
[SAIBAMAIS]
Para estudantes da UnB, trata-se de, mais do que um ato de vandalismo, uma ação autoritária e direcionada, fruto do momento político atual. ;É um absurdo, ainda mais com o histórico político de resistência da universidade;, apontou Robson Fernandes, 25 anos, lembrando do protagonismo da UnB na luta contra a Ditadura Militar. ;É reflexo do momento político polarizado em que vivemos, especialmente em função de um candidato com opiniões contrárias aos direitos humanos. Tudo o que acontece politicamente tem reflexo na UnB;, afirmou o aluno de medicina.

Estudante de medicina veterinária, Isabel Cristina dos Santos, 21, conta que ficou estarrecida com a notícia. ;Fiquei chocada, porque são coisas que vêm acontecendo, apenas não relacionamos os casos. Pode ser a mesma pessoa ou grupo de pessoas;, pondera. ;É uma visão muito distante viver em um país no qual as pessoas pregam algo que pensávamos estar no passado. Infelizmente, acontece e continuará acontecendo. É uma forma das pessoas intolerantes tentarem ser ouvidas, mesmo sabendo que o mundo está mudando e não há espaço para isso. É triste.;

Contexto político influi, acreditam alunos

Felipe Rocha, 29 anos, é arquiteto e, ainda que não seja aluno na universidade, frequenta a sala de estudos da BCE. Ele não sabia do fato. ;Venho aqui estudar, mas não sabia. Rasgar livros dos direitos humanos é rasgar nossos direitos e ir completamente contra a eles. Quem fez isso é um fascista autocrata."

Mariana Ferreira, 25, ex-aluna, é formada em biblioteconomia e frequenta regularmente a biblioteca. O período atual é de confusão de princípios, na avaliação dela. ;Falta consciência cidadã. Trata-se de vandalismo com o patrimônio público. É injustificável e tem tudo a ver com nosso momento, que é de truculência no modo de se expressar;, conta.

Ser bibliotecária e ver tudo isso é dolorido para ela. ;Dói um pouco mais em mim, pela falta de cuidado das pessoas pelo que é nosso. Perdemos informação, patrimônio e registro. Uma coisa leva à outra, não está fora do contexto político atual.;