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Apenas 1,6% das instituições de ensino superior tiveram nota máxima no MEC

Com escala de 1 a 5, mais da metade das instituições atingiram nota 3

Alan Rios*, Darcianne Diogo*
postado em 18/12/2018 10:40
Apenas 1,6% (34) das 2.066 instituições de ensino superior avaliados pelo Ministério da Educação (MEC) em 2017 receberam nota máxima, de acordo com os dados do Índice Geral de Cursos (IGC). O levantamento foi divulgado em coletiva de imprensa na manhã desta terça-feira (18) no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Ao todo, 10.210 cursos de graduação foram avaliados
Para avaliar, o cálculo do IGC leva em conta a média dos CPC dos últimos três anos, relativos aos cursos avaliados da instituição; a média dos conceitos de avaliação dos programas de pós-graduação stricto sensu atribuídos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes); e a distribuição dos estudantes entre os diferentes níveis de ensino, graduação ou pós-graduação. Para que uma Instituição de Ensino Superior (IES) tenha o IGC calculado é preciso ter, ao menos, um curso com estudantes concluintes inscritos no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade).
No total, 2.066 instituições que oferecem graduação e pós-graduação foram avaliadas. Boa parte delas são faculdades (1.640). Na segunda classificação aparecem os centros universitários (208), universidades (195), Institutos Federais (IF;s) e Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet), com 40 instituições.
Na tabela do IGC, 34 instituições tiveram nota 5 (1,6%), 391 nota 4 (18,9%), 1.363 nota 3 (66%), 268 nota 2 (13%) e 10 nota 1 (0,5%)
Em comparação ao ano de 2016, o IGC não sofreu muitas distorções de valor. Ao todo, 34 instituições tiveram nota 5 (1,6%), 391 nota 4 (18,9%), 1.363 nota 3 (66%), 268 nota 2 (13%) e 10 nota 1 (0,5%). No agrupamento, as faculdades aparecem em evidência nas notas 2 (16,3%) e 3 (67,8%), mas há maior proporção das universidades de notas 4 e 5 (43,1% e 7,2% respectivamente).

Conceito Preliminar de Curso (CPC)

No CPC, 2,3% dos cursos de graduação tiveram nota máxima no MEC: 5. Para avaliar, os cálculos do CPC levam em conta quatro critérios: desempenho dos estudantes no Enade, perfil do corpo docente, infraestrutura e recursos didático-pedagógicos. Junto com o Conceito Preliminar de Curso, o MEC também apresentou os números do Índice Geral de Cursos Avaliados da Instituição (IGC) - responsável por classificar as instituições de ensino.
No total, 10.210 cursos foram analisados numa escala que vai de 1 a 5. Entre os cursos, 231, ou 2,3% do total, tiveram nota máxima. Conseguiram o conceito 4, 3.704 cursos (36,3%). A nota 3 foi obtida por 5.306 cursos (52%). Outros 37 (0,4%) e 932 (9,1%) atingiram, respectivamente, notas 2 e 1.
No CPC, a maioria teve nota 3, variando entre 42,5% e 58,4% e nota 4, entre 14,3% e 51,3%. Na nota 5, as instituições federais aparecem em vantagem, com 3,3%. Nos cursos particulares: 55,3% tiveram nota 3 e 32,1% nota 4
Os melhores desempenhos foram de instituições públicas (federal, estadual e municipal), totalizando 4.351 cursos. A maioria teve nota 3, variando entre 42,5% e 58,4% e nota 4, entre 14,3% e 51,3%. Na nota 5, as instituições federais aparecem em vantagem, com 3,3%. Nos cursos particulares: 55,3% tiveram nota 3 e 32,1% nota 4. Os cursos privados também aparecem em segundo lugar na nota 5, passando à frente das instituições públicas estaduais e municipais, com 2,3%.

No enquadramento de cursos presenciais e a distância, os primeiros aparecem à frente. Entre os presenciais, 51,4% tiveram nota 3 e 36,6% com nota 4. Na educação à distância, 62,3% atingiram nota 3 e 30,2%, nota 4. Vale ressaltar que a quantidade de cursos avaliados na modalidade a distância aumentou. Em 2016, tinha apenas 51 cursos, número que saltou para 493 em 2017.
Apenas 9,5% dos cursos de bacharelado e licenciaturas em ciências exatas e dos cursos superiores de tecnologia em controle e processos industriais, informação e comunicação, infraestrutura, produção industrial tiveram desempenho nas faixas 1 e 2, CPC. Outros 38,3% ficaram acima nas faixas 4 e 5. A maioria dos cursos brasileiros nessas áreas, 52%, estão na faixa 3. O Indicador observa quatro dimensões para avaliar a qualidade dos cursos de graduação. Já o Índice Geral de Cursos Avaliados da Instituição (IGC), indicador de qualidade que avalia as Instituições de Educação Superior, registrou 13,5% das IES nas faixas mais baixas, 66% na média e 20,5% nas faixas superiores.

Apesar dos resultados ainda distantes da excelência, o MEC preferiu ler os números de forma otimista.;Se deixarmos de lado as notas um e dois, nós vamos ter 86% das instituições entre níveis adequado para ótimo;, destacou o secretário executivo do MEC, Henrique Sartori.
A presidente do Inep, Maria Inês Fini, esclareceu que os índices representam melhorias. ;Tivemos resultados detalhados e uma ótima oportunidade para que cada instituição reveja seus caminhos e retomem condições de oferta e trabalho que fazem na formação de alunos. Se a instituição quiser, ela tem, a partir desses conceitos, uma radiografia, um caminho a seguir para melhorar o seu desempenho. O mapa está pronto. Se a instituição quiser investir em uma condição específica, pode olhar como;, disse.
Para o especialista em educação Marcio Guerra a situação preocupa tanto pelos resultados apresentados quanto pelas avaliações passadas, que indicam poucas mudanças. ;Os índices divulgados pelo MEC não são novidades. E isso nos mostra que há grandes recados aí. Nós precisamos avaliar melhor, questões como o diálogo entre o aluno nas universidades e no mercado de trabalho, por exemplo, e até as mudanças nos perfis de aprendizagem. O ensino tem que acompanhas as mudanças da sociedade, tem que ser mais atrativo e dinâmico;, afirmou o gerente-executivo da área de estudos e prospectivas da Confederação Nacional das Indústrias (CNI).
O diretor executivo da Semesp, entidade que representa mantenedoras de ensino superior do Brasil, Rodrigo Capelato, analisa os resultados e destaca que houve melhora tanto na qualidade dos cursos quanto das instituições. ;Se compararmos o número de conceito dos cursos, percebemos que houve um aumento desses indicadores. Por outro lado a gente tem poucas instituições com índices insatisfatórios em poucos cursos.; Segundo ele, devido ao método de cálculo que é utilizado pelo MEC, há extremos, no caso de notas 5 e 1. ;Sabemos que têm muitas instituições de boa qualidade, mas devido a essa metodologia, algumas notas vão ser consideradas vão atingir o máximo. Mas a maioria fica concentrada na faixa 3;, pondera.
Segundo o diretor executivo da Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES), Sólon Caldas, os indicadores não demonstram se uma instituição de ensino tem qualidade ou não. Ele explica, que no caso da UnB - que foi a única instituição do DF a atingir nota máxima - por ser uma universidade federal é o estabelecimento que recebe os alunos mais bem preparados ao longo da educação básica. Para Caldas, os índices não comprovam, efetivamente, os resultados do trabalho desenvolvido pelas instituições. ;Há que se registrar que uma parcela considerável desses índices é construída a partir da nota obtida pelos estudantes no Enade, exame em que o aluno não tem sequer a obrigação de responder, mas tão somente de assinar a prova. Por fim, tem de se se questionar a padronização estabelecida pelas avaliações que não levam em conta as características locais e a diversidade do nosso país;, ressalta.

Processo formativo do estudante

Por meio do questionário do estudante do Enade, o aluno avalia três pilares: organização didático-pedagógica; infraestrutura e instalações físicas; e oportunidade de ampliação da formação acadêmica e profissional. A avaliação tem por objetivo compor o perfil socioeconômico dos participantes do Enade. Em 2017, 467.627 mil alunos de educação presencial e à distância responderam ao questionário, classificando as categorias com notas de 1 a 6.

Com pontuação entre 5,13 e 5,15 aparece a organização didático-pedagógica, seguida por infraestrutura e instalações físicas (4,92 e 4,98). Por último, a categoria de oportunidade de ampliação da formação acadêmica e profissional foi classificada com nota entre 4,15 e 4,67.
O secretário executivo do MEC, Henrique Sartori, o principal desafio é elevar a qualidade do aluno ingressante à instituição de ensino superior. ;Alguns alunos até têm condições de entrar, mas não conseguem se manter na instituição por vários motivos, econômicos, sociais e educacionais. Outro ponto de atenção são as revisões a partir das reformas que a educação básica acabou de passar. Isso impacta diretamente na formação pedagógica.; "É importante ressaltar que no ano de 2017 nós tivemos uma reforma da regulação da educação superior. E isso vai ser sentido nos próximos anos, não é refletido agora. Em 2019 e 2020 teremos um novo patamar de regulação e de avaliação;, afirmou Sartori.

Cursos avaliados em 2017

As avaliações são trienais. Na análise de 2016, os cursos analisados foram da área da saúde, ciências agrárias e produção de alimentos. Em 2015, o CPC se centrou em ciências humanas. E em 2014, em licenciaturas e ciências exatas. Para que um curso tenha o CPC calculado, é preciso que tenha no mínimo dois estudantes concluintes participantes no Enade.

As graduações avaliadas em bacharelado e licenciatura foram: arquitetura e urbanismo; ciência da computação; ciências biológicas; ciências sociais; educação física; artes visuais;engenharia, ambiental, civil, produção, alimentos, computação, controle e automação, produção, elétrica, florestal, mecânica e química; filosofia; física; geografia; história; letras ; português; letras ; espanhol; letras ; inglês; matemática; música; pedagogia; química e sistemas de informação.

Nas áreas de graduação em tecnologia, os cursos avaliados foram: análise e desenvolvimento de sistemas, gestão da produção industrial, gestão da tecnologia da informação e redes de computadores.

O que é CPC, IGC e Enade?

CPC ; o Conceito Preliminar de Curso é composto de oito componentes, agrupados em quatro dimensões que se destinam a avaliar a qualidade dos cursos de graduação. Para que um curso tenha o CPC calculado, é preciso que ele possua no mínimo dois estudantes concluintes participantes no Enade. Os insumos usados nos cálculos são:

- Desempenho dos estudantes no Enade ; Nota do Enade

- Valor agregado pelo curso ao desenvolvimento dos estudantes concluintes ; IDD

- Perfil do Corpo docente (Regime de Trabalho e Titulação) ; Censo Superior

- Percepção Discente sobre as Condições do Processo Formativo ; Questionário do Estudante no Enade

IGC ; Para que uma IES tenha o Índice Geral de Cursos calculado é preciso que ela possua ao menos um curso com estudantes concluintes inscritos no Enade no triênio de referência. É preciso ainda que tenha sido possível calcular o CPC deste(s) curso(s). O IGC é calculado anualmente e leva em conta os seguintes aspectos

- Média dos CPC do último triênio, relativos aos cursos avaliados da instituição;

- Média dos conceitos de avaliação dos programas de pós-graduação stricto sensu atribuídos pela Capes na última avaliação trienal disponível;

- Distribuição dos estudantes entre os diferentes níveis de ensino, graduação ou pós-graduação stricto sensu.


Enade ; Previsto na lei que institui o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) avalia o desempenho dos concluintes dos cursos de graduação em relação aos conteúdos que se propõem a ensinar e as habilidades e as competências desenvolvidas pelo estudante durante sua formação. O exame é obrigatório: apenas o concluinte que responder ao Questionário do Estudante e realizar a prova pode colar grau. A cada ano o Enade se dedica a um Ciclo Avaliativo Trienal, que guardam relação direta com os Indicadores de Qualidade.
Confira abaixo as tabelas de notas do desempenho das instituições (IGC) e cursos de graduação (CPC).
Estagiária sob supervisão de Ana Sá*

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