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Nunca é tarde para aprender: idoso de 94 anos se forma em direito

Após 67 anos sem estudar, as novas metas dele são fazer pós-graduação em processo civil e direito internacional e ser aprovado no Exame de Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)

Tayanne Silva*
postado em 22/01/2019 18:16
;Foi muito bonito e emocionante!”, afirma Simão Sklar, 94 anos, ao lembrar o dia da colação de grau em direito, em 12 janeiro, às 20h30, no auditório da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), no Rio Grande do Sul. Nesse momento de celebração, ele recebeu o diploma de conclusão do curso pelas mãos do filho mais novo, o advogado José Luiz Sklar, 63, diante de amigos, familiares e de cerca de 31 colegas.
Simão Sklar, 94 anos: na solenidade de colação de grau

Ele e um amigo foram os oradores da turma. ;Eu falei o que realmente sentia naquele momento e não inventei. Na hora, fiz um agradecimento aos docentes maravilhosos, funcionários e diretores;, conta Simão. Na cerimônia, os oradores e paraninfos o homenagearam como exemplo de superação e persistência. Concluiu o curso em sete anos.

Filho de imigrantes russos e natural de Niterói, Rio de Janeiro, Simão se considera cachoeirense. Afinal, aos quatro anos se mudou com a família para o município de Cachoeira do Sul (Rio Grande do Sul), onde mora até hoje. Lá ele dedicou boa parte da vida ao trabalho. Passou pelo Exército e foi marceneiro.
Aos 18 anos, casou-se com Alzira Sklar. "Depois de quase 70 anos de casado, a minha esposa faleceu há sete anos. É uma perda muito grande. Eu só tive uma namorada, esposa e mulher. Então, eu entrei em depressão. Fiquei 90 dias recluso, não queria falar com ninguém e emagreci bastante. Eu fiquei abatido!”, relata. Ele chegou até a se afastar do trabalho. Foi nessa fase que Simão Sklar decidiu voltar a estudar. ;Eu não fazia nada em casa e comecei a pensar: isso é uma barbaridade, qual será o exemplo deixarei para os meus filhos, netos e bisnetos? Vou reagir e fazer alguma coisa! Não podia ser uma imagem negativa, porque eu tinha oito netos e cinco bisnetos;, afirma. "Eu decidi fazer algo por mim. E a cada ano de estudo eu me renovava;, diz satisfeito e orgulhoso.

O primeiro pensamento dele foi voltar a ter um novo emprego. ;Como iria entrar no mercado de trabalho com 86 anos? Pensei: eu estudei há tantos anos, então, vou procurar fazer vestibular;, observou. Quando era mais novo, ele queria fazer medicina, mas foi convocado para o Exército e acabou não prestando o vestibular. ;Ainda hoje na cidade não tem faculdade de medicina. Só cursos de direito, educação física, entre outras áreas. Não queria sair daqui para estudar. A esperança que eu tenho é que Cachoeiras, com 82 mil habitantes, seja um polo educacional.;

Foi o neto que o levou levou à Universidade Luterena do Brasil para fazer a inscrição do vestibular. Dois dias depois, Simão Sklar fez a prova. ;Quando ia entrando no Shopping, o meu celular tocou. Era a dona Juliana, a mesma a quem eu havia perguntado sobre quando sairia o resultado. Ela disse: pode se matricular! Deixa eu te dar os parabéns! Sabe qual foi sua classificação? Você tirou o segundo lugar! O senhor tirou nota máxima na redação!”, lembra Simão da reação dela e de como todos ficaram surpresos com o resultado. Simão teve que investir aproximadamente R$ 2 mil por mês para obter o canudo.

O idoso conta que, às vezes, alguém dizia assim: como você tira notas boas? Respondia: ;Eu só estudo, a maioria de vocês trabalha e estuda. Eu não faço mais nada além disso. Eu levava um gravador para as aulas e depois ficava ouvindo em casa. Também tinha o dia todo para me preparar, sou obrigado a tirar notas boas.;

A palavra ;orgulho; é a que define

Segundo José Luiz Sklar, filho de Simão, a colação de grau foi um momento especial para a família de vê-lo sentado, de toga, em meio aos jovens formandos, o carinho dos colegas, a atenção dos professores e os comentários das pessoas na plateia. ;Parecia algo irreal. E, ao mesmo tempo, era muito real para nós que acompanhamos a jornada acadêmica e a vida dele. As dificuldades de visão, as madrugadas, nas quais perdia o sono revisando as matérias e as longas horas ouvindo as gravações feitas nas aulas. E tudo isso, o levou ao grande dia;, conta. O neto Rodrigo Sklar, 45 anos, completa: ;É uma experiência única e incrível ter um avô com toda essa vitalidade. Ele se dedicou realmente a cursar e se formar na faculdade. Acaba sendo um exemplo. Meu avô não parece ter 94 anos, mas 60 anos;, diz, emocionado.

Novas metas a serem alcançadas: pós-graduação, OAB e direito internacional

Simão Sklar diz que quer parar de estudar. Ele investiu em uma pós-graduação em processo civil a distância pela Ulbra, cujas aulas começarão em março. De acordo com o bacharel, um dos planos futuros é fazer uma capacitação de direito internacional fora do Brasil. Além disso, ganhou uma bolsa integral da Ulbra em cursinho especializado para o Exame de Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Mas não quer seguir a carreira de advogado.
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*Estagiária sob supervisão de Ana Sá


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