Mariana Machado
postado em 26/02/2019 06:00
Em meio a ministérios, eixos e tesourinhas, Brasília nasceu moderna. E agora oferece um turismo diferente: o científico. O pesquisador Bruno Santos Ferreira desenvolveu com o professor Gilberto Lacerda, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), o aplicativo para smartphones Ciência-Ação.
Inspirado no Guia Turístico de Brasília (feito pela Rede Ciência, um projeto de parceria entre a UnB e as secretarias Adjunta de Ciência, Tecnologia e Inovação e Adjunta de Turismo em 2016), o aplicativo veio como ferramenta para aumentar a visitação dos pontos científicos com potencial turístico. ;Queremos mobilizar as pessoas a irem pessoalmente a esses lugares, a fim de aumentar o fluxo de visitação e a visibilidade da rede científica de Brasília;, explica Bruno.
O Ciência-Ação funciona como um jogo. Na tela inicial, um mapa do Distrito Federal mostra todos os pontos marcados, divididos por cor em cinco categorias: espaço e terra, história e geografia, meio ambiente, museu, e saúde. Foram colocados QR codes em cada local. Com o aplicativo em mãos, basta usar a câmera do celular para ler o código e fazer um chek-in em cada um e receber um texto com informações sobre o ambiente. Um segundo código traz um quiz de múltipla escolha e um terceiro, a possibilidade de avaliar o ambiente visitado.
Para cada visita, o usuário acumula pontos e vai passando de níveis. O professor Gilberto explica que foi usada uma estratégia de gamificação, isto é, características de jogos foram aplicadas para incentivar a interação. ;O objetivo é unir educação e entretenimento;, afirma. Em fase inicial, atualmente, 18 locais estão marcados no mapa, mas a ideia é incluir todos os 44. Até agora, foram feitos cerca de 300 downloads.
Agora, Bruno está no Canadá, onde faz um doutorado com foco em tecnologias educativas, algo que pretende aplicar em inovações voltadas para a educação no Brasil. ;Estamos buscando patrocinadores para financiar um projeto de extensão para acrescentar mais funcionalidades ao aplicativo e melhorar o material físico;, explica.
Atrair visitantes
Marcado na categoria Saúde, o Museu de Anatomia Humana da UnB está inserido no aplicativo. Localizado na Faculdade de Medicina, fica aberto a visitas de segunda a sexta-feira, o espaço conta com um acervo de 1.300 peças, incluindo um cadáver adulto preservado. Para a equipe que cuida do lugar, a expectativa é de que, com a ferramenta, mais pessoas visitem o ambiente. ;Esperamos que isso ajude não só na divulgação desse, como de outros museus da universidade. A gente tem a oportunidade de mostrar um arquivo de ensino e pesquisa para toda a população de forma gratuita;, comemora a museóloga Marianna Soares. A partir de 25 de março, eles esperam a visita de grupos escolares que deverão ir preparados com o Ciência-Ação.
Também na UnB, o Museu de Geociências está com os QR Codes prontos e será inserido no aplicativo nos próximos dias. Localizado no Instituto Central de Ciências (ICC), o espaço conta também com uma sala de estudos. No acervo, um meteorito com mais de 200kg, pedras lapidadas e brutas de todas as formas e cores. Em 2018, mais de 8 mil pessoas visitaram o espaço que funciona como museu desde 1971.
Grupos escolares, pesquisadores, estudantes e embaixadas fazem parte do público mais frequente. Na manhã de sexta-feira, o psicólogo carioca Leandro Lins, 28, aproveitou para conhecer o lugar. Surpreso em conhecer o aplicativo Ciência-Ação, aprovou a ideia. ;É extremamente relevante, não só para o público universitário, mas para as pessoas em geral. Quem não é acadêmico, dificilmente vai atrás do turismo científico. Faltava uma iniciativa que puxasse as pessoas para isso;, elogiou.
Ele conheceu o lugar por intermédio do amigo, o geólogo Fernando Almeida, 25, que faz mestrado na UnB. Para ele, a ciência precisa ser mais difundida. ;As pessoas sabem muito pouco a respeito. Eu saí do ensino médio com um conhecimento muito raso; então, iniciativas assim são muito relevantes;, declarou.
Poemas mapeados
Enquanto a ciência começa a ser mapeada na cidade, uma brasiliense criou em 2017, um aplicativo para localizar poesia no Brasil inteiro. O PoemApp contabiliza mais de 10 mil pontos em todas as regiões. São saraus, bibliotecas, feiras literárias, dicas e poemas espalhados nos quatro cantos do país. Idealizado pela poeta brasiliense e pesquisadora em arte e tecnologia Marina Mara, foi instalado em mais de mil dispositivos.
Com quase dois anos do lançamento, Marina comemora o sucesso. ;Está sendo melhor do que eu esperava. Infelizmente, existe um senso comum de que as pessoas em geral não são muito letradas, mas o PoemApp nasceu para provar o contrário. Cada vez mais as pessoas usam inclusive para postar poemas;, declara.
Como é interativo, o usuário pode, e deve, colaborar. É possível anunciar eventos poéticos e publicar as próprias obras. ;Não era a ideia quando eu criei, mas isso mostrou que o aplicativo pode ser um livro de poemas em constante construção pelos próprios usuários;. Para este ano, o objetivo é permitir que quem utiliza a plataforma iOS também possa fazer o download.
Investimentos
Até ficar tudo pronto, foram dois anos de pesquisa. Com a ajuda de um investimento de R$ 72,8 mil do Fundo de Apoio à Pesquisa (FAP-DF), fruto de um edital, o aplicativo ganhou vida. Para o presidente da FAP, Alexandre Santos, há muito potencial no trabalho de Bruno e Gilberto. ;Ele coloca a possibilidade do uso da tecnologia para estimular as nossas crianças e jovens no despertar para o mundo da ciência. Você pode usar a tecnologia como grande aliado;, destaca.
Saiba mais
O Ciência-Ação está disponível para download gratuitamente tanto para as plataformas iOS como Android. Veja quais os espaços marcados até agora:
; Museu de Anatomia Humana da UnB
; Museu de Anatomia Veterinária da UnB
; Observatório Sismológico da UnB
; Embrapa
; Jardim Zoológico
; Fazenda Água Limpa
; Parque Nacional de Brasília
; Jardim Botânico
; Caesb
; Instituto Brasília Ambiental (Ibram)
; Museu de armas da Polícia Civil
; Museu de Drogas da Polícia Civil
; Instituto Nacional de Meteorologia
; Instituto Histórico Geográfico
; Arquivo Público
; Memorial dos Povos Indígenas
; Planetário
; Museu da Imprensa