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Seminário na Argentina destaca importância do jornalismo para a democracia

Evento em Córdoba reúne mais de 1.500 inscritos que, entre esta segunda (25) e (26), refletem sobre o papel e o valor do jornalismo e da comunicação

Ana Paula Lisboa
postado em 25/03/2019 21:33
Córdoba, Argentina - Um dia depois de milhares de argentinos encherem a Praça de Maio, em Buenos Aires, e outros locais nas demais cidades para marcar o Dia da Memória, que lembra os 43 anos do golpe militar no país, um debate no Seminário Ibero-americano de Jornalismo e Comunicação chamou a atenção para a importância da democracia para a própria existência do jornalismo.
Painel discute jornalismo narrativo
É o que destaca Norma Morandini, jornalista, ex-deputada e ex-senadora argentina, que precisou fugir para a Espanha na época da ditadura. ;O jornalismo só se exerce em liberdade. Sua ferramenta e o sistema em que pode florescer é a democracia;, afirma. ;O escritor narra ficção, ele poderia até escrever seu melhor romance durante uma ditadura. O jornalista, não: o jornalismo tem que narrar os fatos;, observa.

Norma percebe que, à medida em que as redações ganharam liberdade no período pós-ditadura, essa liberdade se fez realidade também no jeito de escrever, dando espaço para o jornalismo narrativo, ou literário. Foi esse estilo que ela debateu em painel ao lado de Jesus Ruiz Mantilla, da Espanha; Júlio Villanueva Chang, do Peru; e Sonia Budassi e Daniel Ulanovsky Sack, da Argentina; na Sala das Américas da Universidade Nacional de Córdoba.
A jornalista e política argentina Norma Morandini
Essa é uma das universidades que sedia o Seminário Ibero-americano de Jornalismo e Comunicação nesta segunda-feira (25) e nesta terça-feira (26). O seminário é organizado pela Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) e precede a oitava edição do Congresso Internacional da Língua Espanhola, que começa na quarta-feira (27), em Córdoba, na Argentina.
Para estudantes de jornalismo na plateia e os que estão começando a carreira, Norma Morandini deixa um conselho: ;Leiam, leiam muito! Pois é o que lhes dará bagagem para exercer a função do jornalismo, que é narrar o que é de interesse público;. O seminário reúne cerca de 1.500 inscritos entre jornalistas, pesquisadores, estudantes e outros interessados.


Diferença de cenário no Brasil

Milhares de argentinos vão às rua pedir Justiça para as vítimas da ditadura militar do país

Enquanto na Argentina, a data de início da ditadura, 24 de março de 1976, é lembrada com pesar e leva multidões às ruas em homenagem às vítimas e como forma de repudiar o regime militar e celebrar a democracia; no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro pretende estimular a celebração do golpe militar de 31 de março de 1964 nas unidades militares. A comemoração do aniversário da ditadura brasileira tinha sido extinta em 2011, por ordem da ex-presidente Dilma Rousseff.

[SAIBAMAIS]Este ano, porém, a expectativa é de que os quartéis celebrem o próximo domingo (31), de modo ;contido;. Na Argentina, o regime ditatorial durou de 1976, quando a então presidente Isabel Perón foi derrubada do poder, até 1983. No Brasil, a ditadura militar chegou ao poder em 1964, afastando João Goulart do cargo, estendendo-se até 1985. Mesmo tendo durado menos tempo na Argentina e tendo acabado há mais tempo, a ditadura é lembrada com pesar; e o Dia da Memória, a cada ano, serve para não deixar que nada do que aconteceu nem que as vítimas sejam esquecidos.

Abertura

A abertura do seminário na Universidade Nacional de Córdoba

O Seminário Ibero-americano de Jornalismo e Comunicação foi inaugurado em ato com a presença de Andrés Delich, secretário-geral adjunto da OEI; Hugo Juri, reitor da Universidade Nacional de Córdoba; Francisco Javier Pérez, secretário-geral da Associação de Academias da Língua Espanhola (Asale); José Maria Merino, acadêmico da Real Academia Espanhola; Luís García Montero, diretor do Instituto Cervantes; Manuel Calvo, secretário de Comunicação de Córdoba; Ramón Mestre, prefeito de Córdoba; e Hernán Lombardi, secretário de Meios e Conteúdos Públicos da Argentina.
;O único remédio da sociedade democrática é a chamada para a dignidade do jornalismo, que é de responsabilidade dos próprios jornalistas;, analisou José Maria Merino. Andrés Delich, da OEI, chamou a atenção para a relação entre a democracia e o jornalismo. ;Dentro da identidade latino-americana, não podem faltar as condições democráticas e de direitos humanos. E essa tarefa não se pode cumprir sem um jornalismo comprometido, valente, livre, mas, sobretudo, de qualidade.;

O prefeito de Córdoba, Ramón Mestre, concordou: ;O trabalho do jornalismo é de vital importância para o desenvolvimento da democracia;. Hernán Lombardi afirmou que ;uma tarefa central e indiluível do Estado é construir pontes com a sociedade;. Ele expressou que sonha com ;uma sociedade intercomunicada que respeita ao outro;, e ajudar a construir isso é tarefa do jornalismo.


Saiba mais

*A jornalista viajou a convite da OEI

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