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MEC em crise: 16 exonerações e ministro sob constante ameaça de demissão

Com 16 exonerações em 86 dias de governo e com o ministro sob ameaça de demissão, MEC amarga uma crise que trava projetos na área. Bolsonaro tenta justificar trapalhadas de subordinados

Marília Sena*, Luiz Calcagno, Bruno Santa Rita - Especial para o Correio, Simone Kafruni
postado em 28/03/2019 06:00
Ricardo Vélez Rodriguez

A crise no Ministério da Educação não dá sinais de que terminará em breve. Ontem, subiu para 16 o número de exonerações nestes primeiros 86 dias de gestão: o diretor de Avaliação da Educação Básica, Paulo César Teixeira, pediu para sair. O setor onde ele trabalhava é responsável pela realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Com a série de demissões e o ministro Ricardo Vélez Rodríguez sob constante ameaça de perder o cargo, a pasta travou projetos da área para o país, entre os quais, o Plano Nacional de Educação (PNE).

Ontem, em audiência pública na Câmara dos Deputados, Vélez Rodríguez atribuiu a demissão, na terça-feira, do presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Marcus Vinicius Rodrigues, a uma ;puxada de tapete; do subordinado, que decidiu adiar, deste ano para 2021, a avaliação de crianças em fase de alfabetização.
[SAIBAMAIS]
Vélez cancelou a portaria. Ele argumentou que a medida precisava ser mais debatida pela equipe, mas o estrago estava feito ; no mesmo dia do anúncio do adiamento, a secretária de Educação Básica do MEC, Tania Leme de Almeida, pediu demissão, porque não tinha sido consultada sobre a medida.

Nem mesmo o presidente Jair Bolsonaro escapou de dar justificativas sobre as trapalhadas no MEC. Em entrevista ao jornalista José Luiz Datena, transmitida na Band, o chefe do Executivo federal admitiu que há problemas no ministério. ;Temos de resolver a questão. Vamos ter mais uma conversa com o atual ministro e vamos ter de decidir a questão da educação, porque, realmente, não estão dando certo as coisas lá;, afirmou.

Bolsonaro ressaltou que a pasta é uma das mais importantes. ;O que a gente quer é que a garotada no ensino fundamental aprenda física, química, matemática e biologia;, destacou. ;Agora, tem de ter poder de comando e indicar pessoas corretas para que isso chegue ao final da linha. É um ministério dos mais aparelhados que tem. É dificuldade para tudo que é lado;, frisou.

Resistência

O professor de ciência política da UnB David Fleischer criticou a atuação do ministro da Educação. Segundo ele, existe uma briga entre os seguidores do escritor Olavo de Carvalho, guru de Bolsonaro, e os outros profissionais da pasta. ;Os funcionários mais competentes estão resistindo a esses ;olavetes;;, alfinetou. Olavo de Carvalho indicou Vélez para o MEC. Na opinião do cientista político, a solução prática é mudar o comando da pasta. ;Acho que a confusão não acaba até que o ministro saia.;

Especialista em política e gestão da educação pela UnB e ex-integrante do Conselho Nacional da Educação, Erasto Fortes Mendonça afirmou que a crise trará consequências educacionais. ;Nunca tivemos uma indicação tão desastrosa para o MEC. O Plano Nacional de Educação (PNE), com vigência até 2024, está sendo absolutamente desconsiderado;, ressaltou. ;O desastre na aprendizagem ocorrerá mais adiante. O MEC tem o dever e a competência de fazer políticas educacionais.;

O cientista político Aninho Irachande avaliou que a crise no MEC está relacionada com a forma de constituição do governo. Para ele, Vélez não foi escolhido por competência, mas, sim, para agradar um grupo político que tem influência no Executivo. Na análise dele, os acontecimentos no ministério são um reflexo da falta de conhecimento do atual dirigente da pasta sobre o funcionamento dos cargos e dos órgãos públicos. Procurado, o MEC não respondeu aos questionamentos da reportagem.

* Estagiária sob a supervisão de Cida Barbosa

Os exonerados

Funcionário - cargo
  1. Rodrigo Morais - assessor
  2. Ayrton Rippel - chefe de gabinete
  3. Ricardo Roquetti - diretor de programa
  4. Eduardo Melo - adjunto da Secretaria Executiva
  5. Claudio Titericz - adjunto da Secretaria Executiva
  6. Tiago Tondinelli - chefe de gabinete
  7. Tiago Levi Diniz Lima - diretor da Fundação Joaquim Nabuco
  8. Silvio Grimaldo - assessor
  9. Luiz Antonio Tozi - secretário executivo do MEC
  10. Robson Santos da Silva - assessor
  11. Daniel Emer - assessor
  12. Osmar Bernardo Junior - assessor
  13. Iolene Lima - secretária executiva do MEC
  14. Tânia Almeida - secretária de Educação Básica
  15. Marcus Vinicius Rodrigues - presidente do Inep
  16. Paulo César Teixeira - diretor de Avaliação da Educação Básica

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