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Cortes nas universidades federais podem ser revistos, diz ministro

Em depoimento no Senado, titular da pasta afirma que verbas das universidades podem ser desbloqueadas se a economia voltar a crescer, permitindo o aumento da arrecadação de impostos. Mas diz que as instituições de ensino não podem ser tratadas como 'torres de marfim'

Ingrid Soares, Maria Eduarda Cardim
postado em 08/05/2019 06:00
Para Abraham Wintraub, educação básica e ensino técnico são prioridades: 'A gente quis pular etapas e colocou muitos recursos no telhado'
Após determinar um bloqueio de cerca de 30% do orçamento de todas as universidades federais do país, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, procurou minimizar os efeitos da medida e afirmou que os recursos poderão ser repostos caso a economia volte a crescer. De acordo com o ministro, não se pode falar em corte de verbas para as universidades. ;Não houve corte, e não há corte. Há um contingenciamento;, explicou, em audiência pública da Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE), no Senado.

[SAIBAMAIS]Weintraub afirmou que a aprovação da reforma da Previdência pode ajudar em uma futura reversão da decisão do MEC. ;Se tiver a aprovação da nova Previdência, e eu acredito nisso, aí retoma a economia. Retomando a dinâmica, aumenta a arrecadação, a situação se normaliza e, aí, se descontingencia;, afirmou. ;A Economia impôs o contingenciamento diante da arrecadação mais fraca, e nós obedecemos.;

Apesar de acenar com a possibilidade de desbloqueio dos recursos, Weintraub chamou as universidades de ;torres de marfim; e criticou as reações à redução de verbas. ;Não dá para cortar em nada? É sacrossanto o orçamento? Nenhuma migalha que dê pra melhorar? A universidade federal, hoje, custa R$ 1 bilhão. Todo mundo no país está apertando o cinto;, disse o ministro. Ele se declarou aberto ao diálogo e disse que alguns reitores já manifestaram interesse em discutir o problema. ;A minha proposta, diante do contingenciamento, é conversar;, afirmou.

Em entrevista ao Correio, a reitora da Universidade de Brasília (UnB), Márcia Abrahão Moura, definiu o corte de 30% do orçamento das universidades federais ; que, em alguns casos, pode chegar a 40% ; como ;inadmissível; e ;dramático;. De acordo com ela, desde 2017, a UnB faz esforços para reduzir o orçamento. ;Durante dois anos, fizemos vários ajustes. Assumimos a reitoria com as contas da universidade descontroladas e conseguimos estabilizá-las no fim no ano passado. Não temos como pedir mais sacrifícios para nossa comunidade;, afirmou, ao comentar as declarações de Weintraub.

Para o ex-reitor da UnB Ivan Camargo, a notícia de que se trataria inicialmente de um contingenciamento é positiva em comparação à proposta de corte. ;O ministro deu a entender que não é algo definitivo, e isso parece uma boa notícia. Mas colocou pressão no Congresso, do tipo: se não passar a Previdência, não teremos dinheiro, e o caos será instalado. Ele mudou o verbo, falou em segurar os recursos. Se for isso, é um pouco melhor, é temporário. Não se pode inviabilizar um serviço público tão importante quanto a educação. Não tem porque ser inimigo declarado da universidade;, afirmou.

Diretrizes


Antes de responder aos questionamentos dos parlamentares, Abraham Weintraub apresentou as diretrizes e os programas da pasta, e definiu a educação básica e o ensino técnico como prioridades. ;A gente quis pular etapas e colocou muito recurso no telhado;, disse, referindo-se ao crescimento dos gastos com universidades.

Para a diretora executiva do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura, e Ação Comunitária (Cenpec), Mônica Gardelli Franco, os cortes também prejudicam o segmento de base. ;Não se faz educação básica de qualidade sem universidade fortalecida. A política pública de educação tem que ser da creche à pós-graduação e ao doutorado. Se a universidade não estiver fortalecida, não teremos educadores profissionais para dar suporte às escolas;, observou. A reitora Márcia Moura, da UnB, reforçou o argumento, salientando que uma forma de se apoiar a educação de base é a formação de professores. ;Quem faz isso são as universidades. Não existe essa dicotomia entre priorizar a educação básica e educação superior. Constitucionalmente é um equívoco;, disse.

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