Na pauta estavam os cortes nos orçamentos das universidades e dos institutos federais, mas o que mais se viu foram tumultos, empurrões, discussões e até uma Bíblia pulando sobre a cabeça dos parlamentares durante a sessão da Comissão Geral de ontem, destinada a ouvir o ministro da Educação, Abraham Weintraub, no plenário da Câmara dos Deputados. O pedido de esclarecimentos foi feito pelo deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), e a audiência, iniciada às 15h, terminou pouco depois das 21h.
Durante as seis horas, o ministro usou um tom mais duro ao falar do contingenciamento no orçamento das universidades e institutos federais, que, segundo ele, será de 3,5% e não de 30%.
Pela primeira vez desde o início da polêmica dos cortes, ele adotou o discurso responsabilizando os governos anteriores pelo congelamento da verba da pasta, principalmente, o de Dilma Rousseff, afastada pelo impeachment e sucedida pelo vice, Michel Temer, em maio de 2016. Weintraub também disse que o governo vai destinar à Educação o dinheiro recuperado dos processos de corrupção na Petrobras.
A esquerda e integrantes de partidos governistas reclamaram muito da falta de clareza do novo governo sobre os cortes. Alegaram que, segundo parlamentares, Bolsonaro disse, na terça-feira, que não haveria o contingenciamento na pasta, e ficaram surpresos ao ver o chefe do Executivo ser desmentido por seus subordinados: o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni e o próprio Weintraub.
O titular da Educação tentou minimizar, afirmando que o presidente ;se equivocou; com os termos corte e contingenciamento, durante a conversa telefônica entre os dois, presenciada por líderes. ;Eu falei para o presidente: ;Não há corte, há contingenciamento;;, frisou Weintraub. ;Foi um telefone sem fio. Os parlamentares escutaram uma parte da conversa, mas não escutaram a minha explicação, e foi o que gerou esse mal-entendido.;
;Não vou entrar no detalhe se foi corte ou contingenciamento, foi uma determinação do presidente. Eu escutei a determinação;, afirmou o deputado Capitão Wagner (Pros-CE). Já o deputado Daniel Coelho (Cidadania-PE) foi enfático ao exigir coerência do ministro a respeito da confusão sobre tamanho do contingenciamento. ;Ministro, foi o senhor quem, inicialmente, com o governo, anunciou que haveria o corte de 30% relacionados às balbúrdias. Isso não foi invenção da imprensa, pelo menos é essa a informação que nós temos. Então, eu acho que há, no princípio da comunicação, um equívoco;, declarou. Ele contou que era um dos 12 líderes no encontro com Bolsonaro e disse que ouviu da boca do presidente que ;não haveria mais contingenciamento;. ;Não há má interpretação. O presidente foi claro e objetivo, inclusive, usando as palavras dele de que aquilo era uma decisão dele;, emendou Coelho.
Ao longo da sabatina, Weintraub, que ficou ao lado da líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), foi chamado de arrogante diversas vezes.
Parlamentares aproveitaram a tribuna para criticar as declarações de Bolsonaro, em viagem aos Estados Unidos, ao chamar de ;idiotas úteis; os manifestantes que saíram às ruas em diversas cidades do país em protesto contra o contingenciamento na pasta chefiada por Weintraub.
O líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon(PSB-RJ), respondeu o chefe do Executivo. ;Não chamem os nossos professores e estudantes de idiotas úteis. Respeitem as universidades, a educação e os estudantes brasileiros;, disse. ;O que se percebe é uma tentativa de se atacar a produção de conhecimento. O governo não acredita em livros, acredita em armas.;
Argumento
No mês passado, quando anunciou os cortes na Educação, o ministro justificou: ;Universidades que, em vez de procurar melhorar o desempenho acadêmico, estiverem fazendo balbúrdia, terão verbas reduzidas;.;O que se percebe é uma tentativa de se atacar a produção de conhecimento. O governo não acredita em livros, acredita em armas;
Alessandro Molon, líder da oposição na Câmara