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Manifestantes protestam em frente ao MEC nesta manhã

Atos reuniram professores universitários de cinco associações diferentes, que "premiaram" Abraham Weintraub com o troféu Cortando o Futuro 2019

Thaís Moura*
postado em 02/07/2019 14:31
Abraham Weintraub, ministro da Educação Em um ato simbólico de protesto, professores universitários de cinco associações diferentes do país se reuniram em frente ao Ministério da Educação (MEC), na manhã desta terça-feira (2/07), para premiar o ministroAbraham Weintraub com o troféu Cortando o Futuro 2019. O grupo, formado por 7 representantes da UnB, UFG, UNICAMP, UFRJ e UFMG, compõe o Observatório do Conhecimento, rede independente e suprapartidária formada por 14 Associações de Docentes de Universidades Federais de várias regiões do país. Durante cerca de duas horas, sete professores aguardaram ao lado de fora do MEC para protocolar uma carta que se posiciona contra as recentes ações do ministro da pasta. No entanto, as portas do ministério foram trancadas, e a associação não conseguiu deixar seu recado.

[SAIBAMAIS] O prêmio se trata de um troféu irônico em protesto aos cortes de 30% no orçamento de custeio das universidades e institutos federais, redução das bolsas de pesquisa e outras medidas que ;violam os princípios da autonomia universitária;, segundo o Observatório do Conhecimento. ;Confeccionado especialmente para premiar o ministro Weintraub, o troféu em forma de tesoura dourada simboliza a triste ironia do Brasil ter um ministro da educação que trabalha contra sua própria pasta;, esclarece o grupo.

Em carta, eles pedem ao ministro que revogue imediatamente os cortes no orçamento de universidades e institutos federais, respeite a autonomia e liberdade acadêmica ao nomear reitores escolhidos pela comunidade universitária, garanta a continuidade de todas bolsas de pesquisa do sistema Capes, mantenha programas de assistência estudantil para formação e permanência, e preserve integralmente as políticas de cotas sociais e raciais.

A professora da UFRJ, Lígia Bahia, de 64 anos, reclama do descaso com o qual foi recebida pelo Ministério nesta manhã. "Chegamos aqui às 11h, e a primeira medida que fizeram foi fechar a porta do MEC. Nós mal conseguimos expor os motivos que nos trouxeram até aqui. Nós somos professores da universidade, não é possível que o MEC se sinta ameaçado por seus próprios professores. Se não podemos entrar aqui, quem entra? O MEC existe para o quê, afinal?", contesta a professora. ;Somos professores comprometidos com o ensino de qualidade, estamos aqui para dialogar com o ministro, mas nos deparamos com essa situação;.

;Pensamos que é preciso reverter esses cortes para 2019, e estamos muito preocupados com a lei orçamentária de 2020. Nossas universidades tiveram uma expansão de acesso, hoje temos mais alunos no ensino superior do que tínhamos antes, e com um orçamento menor ainda;, ressalta Lígia. Para ela, Weintraub merece o troféu por causa de ;atitudes agressivas em relação às universidades públicas;. ;Ele (o ministro) vem se expondo publicamente num sentido de muita agressividade às instituições, com suas manifestações debochadas em relação ao trabalho sério que fazemos, e a construção do futuro que a universidade pública representa;, defende a professora.

Lígia relatou que, após aguardar de 11h às 12h50 por algum representante de Weintraub que pudesse receber suas reivindicações, foi recebida por uma funcionária que realizou o protocolo da carta de maneira informal. No entanto, o prêmio não foi entregue ao ministro. "Caso não seja possível protocolar a carta e o prêmio, sairemos daqui e esperaremos por alguma ocasião ou cerimônia pública em que o ministro apareça para fazer essa entrega", informou.

Já o professor e presidente da associação de docentes da UniCamp, Wagner Romão, 43, tinha expectativas de que o ministro os recebesse. ;Ele é um ministro bastante midiático, gosta desse tipo de ação, de imagem. Eu achei que ele nos entenderia e nos receberia, ou pelo menos algum assessor;, conta. Para ele, Weintraub merece a tesoura dourada por mostrar um ;descaso com sua própria pasta;. ;Ele já disse que algumas áreas da educação não precisam existir, que o Brasil forma doutores demais, e diz que pretende investir em educação básica, mas os cortes também estão na educação básica. É um equívoco muito grande você não relacionar o incremento da educação básica sem investimento na educação superior;, critica o professor.

Procurada pelo Correio, a assessoria de imprensa do Ministro da Educação não se posicionou sobre o assunto até a última atualização da reportagem.

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