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UnB cria biofertilizante que aumenta produtividade das plantas

Substância enriquece alimentos e diminui necessidade de agrotóxicos

Agência Brasil
postado em 11/08/2019 19:27
Pesquisadores da UnB desenvolvem biofertilizante
O Instituto de Química da Universidade de Brasília (UnB), em parceria com a Embrapa, desenvolveu uma nanotecnologia capaz de incrementar a produtividade das plantas, aumentar o valor nutritivo dos alimentos, reduzir o uso de defensivos agrícolas e tornar a lavoura menos vulnerável à seca e a pragas.

A substância Krill A32, um biofertilizante a base de carbono, luminescente, está em fase de depósito de patente no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi).

O nome Krill é referência a pequenos crustáceos (de 1 a 2 cm) que servem como alimento a diversas espécies marinhas, inclusive baleias, e são fundamentais para a manutenção dos ecossistemas nos oceanos. A nanotecnologia manipula matérias de tamanho de átomos e moléculas de 1 e 1000 nanômetros, só verificáveis em equipamentos especiais.

Como possibilita o crescimento rápido das plantas, o nano composto poderá ser utilizada na recuperação de áreas degradadas, no manejo florestal para produção de madeiras e celulose, na intensificação da atividade agrícola - sem a necessidade de aumentar áreas plantadas e diminuir as florestas.

O nano composto, que é atóxico, pode ser aplicado nas raízes e nas folhas das plantas. Os testes mais avançados são com folhagem. Foram estudadas a aplicação com alface, algodão, alho, arroz, cacau, milho, soja e tomate. Como a substância é luminescente, é possível rastrear nos alimentos a sua absorção.

Substância enriquece alimentos e diminui necessidade de agrotóxicos

Como age na planta

O Krill A32 funciona como um carreador que, além de potencializar a captação de energia, pode transportar substâncias para proteger a planta e enriquecer os alimentos. ;O que nós temos é um veículo. Esse veículo sozinho funciona como um estimulante que melhora a produção, melhora o aproveitamento da água, e melhora também a taxa de fotossíntese;, descreve a química Carime Rodrigues, uma das responsáveis pela pesquisa na UnB.

;Os primeiros estudos foram feitos via foliar. Isso porque o tamanho do estômato [conjunto de células localizadas nas folhas] é mil vezes maior que o tamanho do nosso composto. Ao passar, o Krill leva os íons, nutrientes que estão aderidos a ele. Seria como injetar na veia da planta;, detalha o engenheiro químico Rogério Faria, colega da mesma equipe.

Juscimar da Silva, engenheiro agrônomo da Embrapa, acrescenta que o Krill ;fica alojado na folha;, onde ele capta a luz do sol que a planta normalmente não utiliza;. De acordo com o especialista, o nano composto começa emitir luz na clorofila que transforma dióxido de carbono e água em carboidratos e oxigênio. ;É como fosse pequenas luzes de LED dentro da planta, que recebe o sinal luminoso, converte em energia química com a qual vai fazer mais carboidratos, ter mais folhas e mais frutos;, assinala.

O aumento da taxa fotossintética faz com que a planta aproveite melhor a água que recebe, o que a torna menos vulnerável ao ;estresse hídrico; causado pela estiagem das chuvas ou dificuldades de irrigação. O processo também aumenta a germinação de sementes.

Biofortificação


Além das próprias propriedades que favorecem o desenvolvimento das plantas, o nano composto pode ser um veículo de carreamento para outras substâncias. Pode levar, por exemplo, zinco, selênio e ferro para os frutos e, assim, fazer a biofortificação para enriquecer alimentos.

;Queremos reduzir a erosão alimentar. As pessoas estão se alimentando com muitas calorias e ingerindo poucos nutrientes. Enriquecer algumas plantas é uma de nossas ideias;, comenta Rogério Faria.

Carime Rodrigues relata outra utopia dos pesquisadores. ;A nossa ambição principal é aumentar a capacidade produtiva de áreas já desmatadas, para evitar que novas áreas precisem ser descompostas;.

De acordo com ela, há ;interesse no desenvolvimento de pesticidas usando esse material como veículo;. Faria confirma o interesse e assinala que o carreamento via Krill também ;reduz o consumo de fertilizantes;. Por causa da eficiência, é possível ;aplicar carga menor de agrotóxicos. A planta consegue captar com maior facilidade;.

O Krill A32 é compatível com outras substâncias utilizadas na agricultura e pode ser manejado com diferentes materiais como pesticidas e fertilizantes na mesma aplicação. O que economiza o trabalho do maquinário e dos campesinos. ;Imagina uma lavoura de soja de 10 mil hectares e ter que fazer só um manejo;, aponta Juscimar da Silva.

A pesquisa contou com financiamento do CNPq (MCTIC), da Capes (MEC) e da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal, e teve apoio de cientistas de outras unidades da UnB. Os pesquisadores criaram uma startup, encubada Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (CDT) da universidade, para viabilizar o processo de patenteamento e a comercialização futura da substância.

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