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Bate-bocas marcam audiência com ministro da Educação na Câmara

Universidade de Brasília (UnB) classifica comportamento de Weintraub como ''alarmante'' e ''espetaculoso'', ao atrelá-la ao suposto plantio de maconha dentro do câmpus

Maria Eduarda Cardim
postado em 12/12/2019 06:00

[FOTO1]A administração da Universidade de Brasília afirmou, por meio de nota, que ;acompanhou com indignação; as acusações do ministro da Educação, Abraham Weintraub, nesta quarta-feira (11/12), na Câmara dos Deputados, de que existem plantações de maconha dentro das universidades federais e que a UnB estaria entre elas. Em audiência na Comissão de Educação, ele exibiu reportagens sobre cultivo e consumo de drogas em diversas universidades públicas, dentre as quais uma, de abril de 2007, que mostrava a prisão de três pessoas suspeitas de plantar cannabis no câmpus da UnB.

;Esse é um material amplamente acessível, que eu encontrei na Internet e passou em vários noticiários. Isso para mostrar para os senhores a gravidade da situação. A UnB não tinha uma oficina clandestina para fazer patins para patinar no gelo no Lago Paranoá porque não há demanda para isso. O que havia era uma plantação de maconha no câmpus da universidade;, acusou.

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Avaliação de qualidade

A universidade, na nota, assegurou que já havia esclarecido o episódio citado pelo ministro, que ocorreu em uma área que não faz parte do câmpus. ;Durante o processo de sindicância interna, foi confirmado, por meio de um parecer técnico, que o local da apreensão não pertence à UnB;, diz o documento.


Na nota, classificou o comportamento do ministro de ;alarmante; e ;espetaculoso;, ao associar a imagem da UnB a práticas ilícitas.

;Tais fatos sugerem que há uma perseguição contra a UnB, que é uma das melhores universidades da América Latina e patrimônio de todo o Brasil;, arrematou a nota.

O presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), Antônio Gonçalves, endossou a posição da UnB. ;A gente entende que o atual governo escolheu a educação superior como alvo dos seus ataques. Além do sufocamento financeiro, o governo trava uma luta cultural na busca por impor às universidades o pensamento único. Atacar universidades faz parte da política educacional desse governo.;

Além de afirmar que nos câmpus das universidades federais podem ser encontradas plantações de maconha, conforme acusou pela imprensa em novembro, Weintraub disse até que houve a utilização de um laboratório de uma faculdade pública para produção de drogas sintéticas.

A audiência foi cenário de diversos bate-bocas, sobretudo com parlamentares de oposição. A deputada Tábata Amaral (PDT-SP) foi uma das parlamentares que questionou as declarações de Weintraub.

;Por que o senhor vive buscando razões para perseguir as universidades? Esse problema das drogas é reconhecido pela sociedade brasileira, mas ele não é do ensino superior;, afirmou.

O deputado Marcelo Freixo (PSol-RJ) se retirou do plenário ainda no início da apresentação do ministro, afirmando ser ;grave e lamentável; ter de ouvi-lo falar sobre este tema diante da crise vivida na educação.

;É um desrespeito tão profundo com a educação que eu estou me retirando. Tenho mais o que fazer da minha vida do que ouvir o ministro falar sobre isso;, disse. Parlamentares de direita aplaudiram a saída de Freixo do plenário em que acontecia a audiência.

Weintraub se defendeu afirmando que quer ;salvar; as universidades federais. ;Eu quero defender as federais. Estou tentando salvar a parte boa das federais, mas, para salvar a parte boa, precisamos reconhecer que existe uma parte que apodreceu;.

Avaliação de qualidade

Das mais de 2 mil instituições de ensino superior no Brasil, apenas 42 alcançaram o conceito máximo do Índice Geral de Cursos (IGC) e, destas, 12,4% são instituições públicas federais. Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a maior parte das instituições se encontra na média 3 de avaliação ; 266 têm notas entre 1 e 2.

O diretor de tecnologia do instituto, Camilo Mussi, não considera as notas insuficientes. ;Os cursos e instituições que têm nota 1 ou 2 estão abaixo da média, que é 3, mas não são necessariamente ruins. O Inep encaminha essas notas ao Ministério da Educação, que decide que ações vão tomar;.

O índice é calculado a partir da nota da instituição obtida nos últimos três CPC (Conceito Preliminar de Cursos), na avaliação da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior), e a quantidade de alunos nos cursos de graduação e pós-graduação oferecidos. O CPC avalia os cursos de graduação de uma faculdade a partir dos resultados obtidos no Enade; da avaliação do corpo docente; da infraestrutura e de recursos didático-pedagógicos.

*Colaborou Rafaela Gonçalves

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