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Reitora e Consuni discutem 'ataques do ministro da Educação à UnB'

Reunião do Conselho Universitário, o colegiado máximo da Universidade de Brasília (UnB), faz balanço do ano. Membros do Consuni pediram a demissão de Weintraub

Ana Paula Lisboa, Daniela Santos*
postado em 18/12/2019 15:45

O Conselho Universitário da Universidade de Brasília (Consuni/UnB), colegiado máximo da instituição, promove uma reunião extraordinária para debater os "recentes ataques do ministro da Educação à universidade" (como a própria Reitoria definiu), na tarde desta quarta-feira (18/12).

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Cerca de 90 pessoas participam do encontro no Auditório da Reitoria da UnB, que é transmitido ao vivo pela UnB TV (canal 12 da NET), também disponível on-line. A reitora, Márcia Abrahão, lamentou ter de fazer uma reunião com essa pauta. "É com muita tristeza que trazemos essa discussão, mas precisamos dar voz aos conselheiros."

A reitora rebateu afirmações do ministro da Educação, Abraham Weintraub, feitas anteriormente e repetidas quando ele foi convocado pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados para explicar as declarações a respeito da existência de drogas em universidades federais.

"A Universidade de Brasília não é produtora de qualquer tipo de droga. A Universidade de Brasília não compactua com ilícitos", defendeu Márcia Abrahão. "O problema de drogas é um problema da sociedade. Somos uma instituição inserida num contexto muito maior de uma sociedade que lida com drogas, álcool e tabaco", pontuou. Durante a reunião, alguns membros do Consuni sugeriram ir ao MEC (Ministério da Educação) para pedir a demissão do ministro.

Visita suspeita do ministro ao TCU

Quando Weintraub compareceu à Câmara dos Deputados para prestar esclarecimentos, seis deputados fizeram questionamentos sobre suposto encontro com o relator das contas da UnB de 2017, o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Walton Alencar, para tentar convencê-lo a ir contra o parcer da área técnica e reprovar as contas da UnB. "O ministro não respondeu e ele estava sob juramento", reclamou a reitora.

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"Nós confirmamos que existia essa agenda, e eu acionei a AGU (para pedir medidas necessárias, principalmente em relação ao possível encontro de Weintraub com o ministro do TCU). A nossa expectativa é de que isso não tenha acontecido", informou Márcia. Segundo a reitora, o ministro da Educação também foi chamado para ir à UnB. Também foi solicitada uma audiência com o ministro do TCU em questão. "A UnB está aguardando e parlamentares já se colocaram à disposição para participar."

Bloqueio orçamentário em pauta

"Nós, universidades federais, temos sido alvo de questionamentos, podemos dizer, de uma parte da sociedade com relação à nossa importância, com relação ao que nós fazemos. Isso começou mais fortemente em abril deste ano, quando o atual ministro da educação fez um bloqueio no orçamento de três universidades, incluindo a UnB, a Universidade Federal da Bahia e a Universidade Federal Fluminense", apontou Márcia.

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"O argumento era de que eram universidades que estavam fazendo balbúrdia... A palavra pegou no país, teve uma repercussão muito ruim. E, no início de maio, esse bloqueio orçamentário foi estendido a todas as federais", recordou a reitora. "Foi um ano difícil, mas conseguimos avançar ao longo do bloqueio e nós vamos concluir o ano com as contas equilibradas, mesmo com todo o prejuízo que houve ao longo do ano", anunciou.

Reitora comenta casos de drogas retratadas em reportagens

Durante a reunião do Consuni, foram exibidos vídeos da participação do líder do Ministério da Educação (MEC) em audiência na Câmara dos Deputados, durante a qual Weintraub afirmou que drogas são produzidas em universidades federais. Para justificar o argumento, ele mostrou a parlamentares trechos de reportagens televisivas sobre o assunto.

Márcia Abrahão não negou a veracidade do material, mas destacou que foram casos pontuais, alguns deles ocorridos há bastante tempo. "O ministro foi convocado para prestar esclarecimentos no dia 11 de dezembro e, para nossa surpresa, apesar de todos os esclarecimentos que tinham sido feitos, ele voltou a um assunto de 2010", destacou Márcia.

"Foi uma situação isolada que aconteceu num centro acadêmico que existia no subsolo da UnB. Tinha uma série de centros acadêmicos no subsolo, chamados de corredor da morte, e estávamos na fase de retirar esses centros acadêmicos do local", completou. "E esse vídeo volta e meia vem de novo como exemplo de como as universidades são locais de drogas e ilícitos. Os parlamentares chamaram a atenção para esse e outros vídeos que estavam datados", afirmou.

Outro caso mostrado em reportagem e comentado pelo ministro é de 2017, quando foram encontrados pés de maconha numa área próxima ao Centro Olímpico, já pertencente à Marinha. "Explicamos que houve um caso isolado. Foram encontrados 13 pés ; que não é uma plantação extensiva... São pés, em vasos, encontrados com apoio da nossa segurança", declarou Márcia.

A reitora informou que, além dos pés, foram apreendidas três pessoas: dois estudantes da UnB e um sem vínculo com a instituição. Ela também observou que o Ministério Público decidiu arquivar o processo.

Alunos participam

Representando o DCE, o estudante Caio Fiuza ressaltou que, além das ações institucionais, é preciso mobilizar os estudantes. "Precisamos juntar os estudantes e cobrar explicações. É o nosso futuro. O estudante é primoridial nessa luta em defesa da universidade."

Clima interno

A professora da Faculdade de Comunicação da UnB Liliane Machado afirmou que há "inimigos" dentro da universidade. "Tem professores que postam vídeos e que passam meia hora em reunião com o ministro falando mal da universidade", denunciou. Posteriormente, no entanto, a reitoria Márcia comemorou a união da comunidade da UnB, apesar de divergências pontuais.

Cerca de 90 pessoas participam de reunião no Auditório da Reitoria da UnB

Professor da Faculdade de Educação, José Villar sugeriu entrar com processo de danos morais contra o ministro. "Existe uma campanha muito clara de ataques contra a universidade, que suja a imagem das universidades e que pode implicar em corte de recursos."

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Marcelo Bezerril, professor da Faculdade de Planaltina, também defendeu a saída de Weintraub. "O ministro não tem qualificação nenhuma para o cargo. A própria base dele sabe disso", afirmou.

O professor da Faculdade de Educação Dario Palhares sugeriu uma linha de ação por meio do diálogo. "Se o ministro está apontando que o uso de drogas e se a venda de bebidas é um problema e a universidade concorda com isso, chama ele pra conversar e resolver o problema. Proponha uma solução", indicou.

A imagem da universidade em jogo

As declarações de Weintraub trazem preocupação com relação aos riscos à imagem da UnB. Por isso, a reitoria encaminhou pedido de providências à Procuradoria Federal junto à UnB, após o Conselho de Administração ter recomendado que a gestora tomasse medidas judiciais cabíveis para reparar o dano à imagem da universidade.

Com relação ao modo como a UnB tem sido retratada na mídia, a reitora comemorou a boa cobertura de veículos como o Correio Braziliense. "Hoje saiu uma matéria belíssima sobre os trabalhos da UnB contra o câncer. Temos tido muitas matérias positivas", disse Márcia.

O professor José Villar

Durante as discussões, a professora Liliane Machado, da FAC, relatou que leu esta matéria produzida sobre a reunião do Consuni. "Eu fui ler a matéria do Eu, Estudante, ela é enorme, com várias falas. Isso significa que a sociedade quer saber o que está sendo discutido aqui", analisou.

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*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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