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Confira como são as boas-vindas aos calouros da UnB

Além das ações organizadas pela universidade, cada curso tem uma tradição.

Correio Braziliense
postado em 20/01/2020 20:33
Quando sai a lista de aprovados da Universidade de  Brasília (UnB), é sempre aquela festa: abraços, lágrimas, sorrisos e, claro, muita tinta e farinha. Em todos os semestres, os veteranos de cada curso e as atléticas da UnB  comparecem ao Teatro de Arena, no câmpus Darcy Ribeiro, para recepcionar os calouros. Nesta quarta-feira (22), a comemoração será dos estudantes selecionados pelo Programa de Avaliação Seriada (PAS) para o primeiro e segundo semestres de 2020. A relação dos alunos selecionados pelo Acesso Enem UnB será divulgada em 6 de fevereiro.
 
 
 
Foram ofertadas 4.232 vagas para a 3ª etapa do PAS 2019 — 2.112 para ingresso no primeiro semestre de 2020 e 2.120 para o segundo. Tradicionalmente, medicina foi o curso mais concorrido (a demanda foi de 57,10 alunos por vaga). Psicologia apareceu em segundo lugar (35,84/vaga), seguida por medicina veterinária (24,55/vaga). Esta foi a primeira vez em que a veterinária desbancou cursos como direito e engenharia. Em quarto lugar, apareceu odontologia (22,73/vaga) e, em quinto, direito (22,43/vaga).

Para receber os novos alunos da melhor maneira possível, a universidade organiza um conjunto de ações — chamado Boas Vindas aos Calouros — que inclui programações culturais e atividades intersetoriais. No começo do semestre, os alunos são convidados a participar do #InspiraUnB — uma espécie de aula inaugural da graduação, que, normalmente, ocorre no Centro de Convivência Athos Bulcão.
 
Em cada edição, são convidadas personalidades de destaque em diferentes áreas do conhecimento para um bate-papo com os calouros. No último semestre, marcaram presença no #InspiraUnB a Monja Coen Roshi e a professora e astrofísica Duilia de Mello. Até a data de publicação desta reportagem, os convidados para a primeira edição de 2020 ainda não haviam sido divulgados. 

Além das programações de recepção promovidas pela universidade, cada curso tem a própria tradição para dar as boas-vindas os novos alunos. A equipe do Eu, Estudante conversou com cinco veteranos da UnB para saber como é o acolhimento em diferentes graduações. Confira os relatos: 

Medicina:

Alan Rodrigues cursará o 8º semestre de medicina a partir de março
 
“Os veteranos preparam uma recepção no momento em que sai a lista de aprovados. Eles levam cartazes, tintas...É muito interessante esse primeiro contato. No mesmo dia, os alunos mais antigos colocam os calouros em um grupo de WhatsApp e adicionam no Facebook. Em seguida, alguns seguem para a recepção no bar Pôr do Sol. Depois, os veteranos diretos (aqueles que entraram um semestre antes dos novos alunos) organizam um evento para todos os calouros. Na minha época, foi em um sorveteria. 

Faltando uma semana para o início das aulas, os novos alunos de medicina e de enfermagem são convidados para uma viagem para Ceres (GO), que dura cerca de três dias. Lá são organizadas várias brincadeiras para promover a integração entre veteranos e calouros, além de visitas a hospitais. No primeiro dia de aula, os representantes do CAMED (Centro Acadêmico de Medicina da UnB) e da Insana (Atlética de Medicina da UnB) vão às salas de aula para apresentar os principais eventos que ocorrem na faculdade. Depois, a gente tem o mês do calouro, que envolve diversas atividades, como festas, treinos da bateria, pré-trote, adoção e trote.

No pré-trote, os calouros andam pela Faculdade de Saúde (FS) acompanhados pela bateria da Insana. Depois, ocorre o momento de adoção: cada um dos novos estudantes é “apadrinhado” por um veterano. Os “pais” e “mães” ajudam os calouros durante todo o semestre, com dicas, conselhos e materiais de estudo. Já no trote, que ocorre alguns dias depois, os veteranos levam tinta, farinha e ovos e fazem uma gincana com os calouros. Depois, os novos alunos vão para os semáforos da Asa Norte arrecadar dinheiro, que é utilizado para organizar uma festa que ocorre no fim do semestre.

Os veteranos da medicina são muito acolhedores. Sempre tem algum te perguntando ‘E aí, como você está?’. Isso é muito importante. Eles fazem a gente se sentir protegido e acolhido. Eu tenho saudades do meu trote, foi um momento muito bom, um momento em que você para e pensa: ‘Nossa, estou na faculdade, eu passei no curso que eu queria’. O primeiro semestre de medicina na UnB é fantástico. É comum ficar assustado com as provas de anatomia e bioquímica, principalmente, mas você tem nos veteranos uma base. Isso é muito importante no começo do curso” - Alan Rodrigues, 24, cursará o 8º semestre de medicina a partir de março.  

Direito

João Marcos Constante de Figueiredo cursará o 6º semestre de direito a partir de março
 
Quando eu passei na faculdade, logo onde a gente vê o resultado, já tinha uma galera do direito reunida. Lá eles anotavam o número de telefone, Facebook e Instagram dos calouros. Depois, tinha aquela festa que todos os cursos fazem, com tinta e bebida. Em seguida, eu saí de lá para ir ao PDS. Antes do começo das aulas, os veteranos organizam várias atividades, como visitas aos tribunais, churrasco na casa de algum deles, encontros para visitar a UnB…

No primeiro dia, todos os calouros vão para o pátio da Faculdade de Direito (FD). Lá, há três estátuas de juristas bem famosos. Os veteranos mandam a gente se ajoelhar e fazer o juramento da FD. É uma piada do tipo: ‘Eu nunca vou esquecer o Vade Mecum em casa, nunca vou decorar quem são essas três pessoas que estão aqui, não vou gostar de tal professora, vou amar tal professor…’ A gente faz esse juramento para a faculdade toda ver. Depois de uma semana, tem o trote, quando os calouros andam pela UnB sujos de tinta com “direito” escrito na testa. Durante o trajeto, eles cantam as músicas do curso.” - João Marcos Constante de Figueiredo, 19, cursará o 6º semestre de direito a partir de março. 

Psicologia:

Laura Cavalcante Corrêa cursará o 4º semestre de psicologia a partir de março"A primeira recepção que nós temos é no dia em que pregam a lista de aprovados na parede do ICC. Geralmente, os veteranos criam um evento no Facebook para convidar os calouros. A gente também combina de fazer uma oficina de cartazes para pintar as cartolinas que levamos no dia. Nós recebemos o pessoal na UnB e, depois, seguimos para o PDS ou algum outro bar para conversar com os novos alunos e conhecê-los.

 

Nesse dia, a gente pega o número dos calouros para criar um grupo no Whatsapp. Também temos o costume de ver a lista de aprovados e procurar o nome deles no Facebook, porque tem gente que não vai á recepção. 

 

Depois disso, nós organizamos um "psiquinique" — piquenique da psicologia — para calouros e veteranos se conhecerem. Cada calouro leva algo para comer, a gente conversa e faz a apresentação de todo mundo.

 

No começo das aulas, os veteranos diretos, junto ao Centro Acadêmico, organizam a semana do calouro. Fazemos várias atividades para integrar as pessoas. Cada dia tem uma programação. No, organizamos um café da manhã comunitário na frente do CA. Tem um dia em que a gente faz olimpíada dos calouros, com brincadeiras bem tranquilar e divertidas para eles se integrarem. EU, particularmente, gostei muita da minha gincana, porque foi o momento em que eu conheci as pessoas e eu conversei com elas. A gente trabalha em grupo, se ajuda, é muito legal. Inclusive, comecei a conversar com minha melhor amiga do curso assim. 

 

Tem um outro dia em que a gente faz roda das minas e roda dos manos na hora do almoço. Na roda das minas, a gente costuma conversar sobre questões de segurança das mulhres, coletivos de mulheres da universidade, cuidados que a gente precisa ter...na roda dos manos, eles conversam sobre masculinade tóxica e outras questões. Tem também o apadrinhamento, que costuma ser no fim da semana. Normalmente, dura uma tarde inteira. Os veteranos colocam objetos pessoais espalhados em uma manta no chão e cada calouro escolhe um objeto. Eles são apadrinhados pelo veterano a quem pertence o objeto. 

 

Além disso, a coordenação do curso, junto ao CA, organizam um aulão de recepção explicando como funcionam a universidade e o curso.

 

É importante destacar que a psicologia não faz trote, porque a gente acredita que seja uma prática abusiva e que cria uma hierarquização entre veteranos e calouros que não deve ser aceita. Ninguém é obrigado a ser pintado, ninguém é obrigado a ser ridicularizado, que não quiser não participa." - Laura Cavalcante Corrêa, 19, cursará o 4º semestre a partir de março

 

 

Economia:

Ana Luísa Normando cursará o 4º semestre de economia a partir de março
 
“No dia em que sai o resultado, nós do CaEco (Centro Acadêmico de Economia) e os veteranos diretos confeccionamos cartazes e recebemos os calouros com farinha, ovo, bebida e tinta. Nesse dia, a gente também cria um grupo no WhatsApp com os novos alunos. Depois, nós organizamos as idas ao sinal, quando os calouros se pintam e vão pedir dinheiro nos semáforos, que é utilizado nos eventos do Centro Acadêmico. Em seguida, o CA convida os novos alunos para uma apresentação do curso, com a participação do coordenador. Nesse momento, apresentamos todos os projetos de extensão que a economia oferece. É bem legal para a gente conversar com os calouros sobre a graduação. 

Na primeira semana de aula, tem um momento para os calouros se apresentarem. Nós fazemos várias perguntas para eles, o que também ajuda na integração. Na segunda semana, ocorre o trote: os veteranos sujam os calouros e organizam várias brincadeiras. Por fim, o CAECO incentiva os calouros a ajudarem nos eventos. Por exemplo, a gente tem um festival de milk shake, em que os próprios calouros fazem as bebidas. Eles também ajudam nas vendas do Churreco (festa da economia).” -  Ana Luísa Normando, 19, cursará o 4º semestre de economia a partir de março.

Engenharia de produção

Luiz Filipe Portugal (esquerda) e Davi Dourado (direita) são estudantes de engenharia de produção da UnB
 
“Alguns semestres atrás, quem cuidava da recepção dos calouros era o Centro Acadêmico. Hoje, o CA também participa, mas quem tem se mobilizado mais é a atlética da engenharia de produção. A galera se organiza para ir receber os novos estudantes no Teatro de Arena. Nesse dia, eles são incluídos nos grupos de WhatsApp. Os veteranos diretos costumam receber os calouros e explicar o funcionamento da UnB para eles.

Depois, normalmente, ocorre o churrasco dos calouros, organizado pelo CA. Também tem o churrasco da produção, que reúne todos os estudantes do curso, e os novos alunos são incentivados a ir.” - Davi Dourado, 20, cursará o 4º semestre de engenharia de produção a partir de março.

Arquitetura 

Mariana Leite cursará o 4º semestre de arquitetura a partir de março“A gente tem várias tradições. No começo do semestre, em uma sexta-feira depois da aula, os veteranos pintam os calouros e colocam eles para correr pela UnB. Depois, os novos alunos fazem uma rodinha e, um por um, precisam se apresentar no meio do círculo. Eles têm a opção de beber ou dançar. Nesse dia, também, os calouros vão arrecadar dinheiro no sinal. Quem não quer ir não precisa, mas a gente recomenda que todo mundo vá.  Essa é a recepção. 

Depois, tem o apadrinhamento. Nesse momento, cada um dos veteranos faz um capacete de construção e decora. Os calouros precisam correr e pegar os capacetes. Eles serão apadrinhados pelo veterano que construiu o equipamento escolhido. Na primeira semana de aula, nós temos o costume de entregar um ovo para cada um dos calouros, e eles precisam levá-lo todos os dias para a aula. Também na primeira semana, calouros têm que ir vestidos de acordo com um tema diferente todos os dias. Se eles não forem, são pintados com tinta pelos veteranos.

Além disso, nós temos a tradição de organizar uma festa fora da UnB para os calouros, chamada Cola Bunda. No fim do semestre, são os calouros que precisam organizar uma confraternização para os veteranos.” - Mariana Leite, 19, cursará o 4º semestre de arquitetura e urbanismo a partir de março. 

Biologia 

Fernanda Horta cursará o 5º semestre de biologia a partir de março
 
“No dia em que sai a lista, a gente vai receber os calouros, pintar de tinta, jogar ovo, farinha...fazer aquela festa. Depois, na biologia, nós temos uma semana de recepção. Cada dia tem uma programação. Fazemos rodas de conversas entre alunos e professores e passeios para conhecer todos os departamentos do Instituto de Biologia. Além disso, a gente costuma organizar venda de açaí ou sorvete, como uma forma de arrecadar dinheiro para o CaBio (Centro Acadêmico de Biologia) e, ao mesmo tempo, fazer algo legal para os novos alunos. 

Na sexta-feira da primeira semana, tem o coquetel dos calouros. É uma gincana que dura o dia inteiro. Eles são divididos em times e participam de vários jogos. Nesse dia, nós almoçamos todos juntos no RU (restaurante universitário), o CaBio paga o almoço dos novos alunos. No fim do coquetel, tem a parte do apadrinhamento. Os veteranos e calouros se apresentam e cada calouro escolhe um padrinho ou uma madrinha, que é quem vai ajudá-lo durante o curso. Nada disso é obrigatório. Se você não quiser fazer, você não precisa. É muito tranquilo. Depois do apadrinhamento, costumamos jogar tinta em pó nos novos estudantes e fazer um happy hour no CaBio.” - Fernanda Ferreira Horta, 20, cursará o 5º semestre de biologia a partir de março.   

Posicionamento da UnB

Em nota, a UnB se posicionou sobre os trotes que ocorrem nos câmpus. Confira:

 

"Os membros da comunidade universitária devem respeitar as Diretrizes de Convivência da UnB, aprovadas pelo Conselho Universitário em 2012. A chegada à Universidade é um momento de alegria, que deve ser celebrado, mas com condutas apropriadas ao ambiente acadêmico. Trotes violentos e humilhantes são proibidos na instituição e, desde 2018, festas nos quatro campi não estão autorizadas. A administração também tem buscado ampliar a interlocução com centros acadêmicos e coletivos estudantis, estimulando a realização de atividades de acolhimento, inclusivas e não violentas."

 

Lei distrital 

Em 2012, o então governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, sancionou lei que proíbe a violência física ou psicológica nos trotes estudantis. De acordo com o texto, são considerados trotes violentos aqueles que atingirem a integridade física ou psicológica dos alunos, familiares, parentes, amigos de alunos ou de pessoas que trafeguem em locais próximos à realização dos trotes. 

 
  
*Estagiária sob supervisão da editora Ana Sá

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