Filho de empregada doméstica, paraibano passa para medicina na UFPB

Diógenes Silva, filho de empregada doméstica e beneficiário do Bolsa Família, passou em 8º lugar

Ana Luísa Santos*

postado em 10/02/2020 21:52 / atualizado em 11/12/2020 16:29

A vida do estudante Diógenes Silva, 17 anos, morador de Sousa - uma cidade no sertão paraibano -  mudou após receber o resultado da primeira chamada do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), divulgado em 28 de Janeiro. Diógenes passou em 8º lugar para medicina, na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). 

 

 

O estudante conta que recebeu a notícia por meio de um amigo e que, a princípio, não acreditou que a aprovação na UFPB para medicina fosse verdade. "Eu achei que era brincadeira. Aí, eu saí gritando dentro de casa". Ele afirma que quando se deu conta que realmente havia passado comemorou muito em casa, com a mãe, Raimunda Silva, 56 anos. Diógenes já havia feito o Enem em 2018, mas apenas como treineiro. Em 2019, foi a primeira vez que tentou o exame para conseguir uma vaga na universidade federal.

Diógenes diz que gostava de estudar de madrugada, mas que aos domingos ele descansava. Estudava por meio de apostilas que ganhava dos amigos e por videoaulas no YouTube. Por ser de uma família humilde, ele não tinha condições de pagar cursinho preparatório para o Enem. Na média geral da UFPB, Diógenes obteve 743,52 pontos e tirou 900 na redação. "Desde pequeno, eu sempre fui fascinado por medicina. Sempre quis algo que causasse impacto positivo na vida dos outros. Não só um emprego para você trabalhar e ganhar dinheiro, mas algo que causasse impacto, que deixasse um legado", reflete.

Filho do meio de Raimunda Silva, empregada doméstica, Diógenes fala que sempre sonhou em cursar medicina, mas que via esse sonho distante por não achar que tinha capacidade para conquistar à vaga. "Quando cheguei ao ensino médio, e vi toda a pressão do pessoal que tentava medicina, que estuda muito, eu não tinha esse tempo e nem essa disposição, aí acabei meio que desistindo". No entanto, quando saíram as notas gerais do Enem, os amigos de Diógenes o incentivaram a tentar medicina. "Eles me disseram pra tentar, já que minha nota era alta. E deu certo", comemora. 

A mãe de Diógenes conta, toda orgulhosa, que o filho sempre foi muito estudioso e dedicado. Ela ainda afirma que o rapaz aprendeu a ler cedo, aos cinco anos de idade. "Ele sempre foi um menino muito estudioso, só dava trabalho para sair da cama (de manhã)". Após o divórcio com o pai de Diógenes, há 10 anos, Raimunda passou a sustentar a casa sozinha, com seu salário de empregada doméstica e fazendo faxina em outros locais para complementar a renda.  A vida da família nunca foi fácil. Encararam as maiores dificuldades.

Diógenes  sempre estudou em escola pública. No ensino fundamental, frequentou a Escola Estadual de Ensino Fundamental Batista Leite, em Sousa, na Paraíba. No ensino médio, foi aprovado na seleção do Instituto Federal da Paraíba, Câmpus Sousa. Lá estudava em período integral no ensino médio, e fazia o curso técnico em Informática - o Instituto tem como diferencial o ensino médio integrado ao curso técnico. 

O professor de sociologia, há quatro anos no IFPB - Câmpus Sousa, Pedro Couto,conta que deu aulas para Diógenes durante todo o ensino médio, e o rapaz sempre se destacou por ser um aluno muito participativo. Couto diz que conhece a realidade de Diógenes, já frequentou a casa dele, conversou com a mãe dele. Para o professor, ter o aluno aprovado em uma universidade federal é uma alegria imensa: "É só a concretização da minha crença no poder da educação e da transformação social". Ele destaca a vantagem  da aprovação na vida do ex-aluno: "Pode transformar a vida dele e, consequentemente, da família; Isso é fundamental. Esse é o papel da escola pública de qualidade", avalia. 

Diógenes, que a aprendeu a driblar as adversidades, reflete,  emocionado: "Para o pobre neste país, só tem uma saída para  se ter uma qualidade de vida melhor - que é o estudo". 

O estudante passou pelo sistema de cotas para alunos da rede pública de ensino, de renda familiar de até 1,5 salário mínimo e autodeclaração de preto, pardo ou indígena. Agora, os amigos e os seus familiares estão realizando campanhas nas redes sociais para que o rapaz consiga se manter na universidade, já que ele passou para a UFPB no câmpus da capital, João Pessoa.

De acordo com Diógenes, ele já recebeu diversas doações na casa dele mesmo e diretamente na sua conta bancária. "Eu já recebi jaleco, sapato, alguns mantimentos e até um estetoscópio", agradece. Essa é uma história de que sonhos podem, sim, virar realidade.

As doações para Diógenes podem ser feitas para: Conta Poupança Caixa - Agência 0558 - Operação 013 - Conta 00058506-4 - Diógenes Antônio da Silva, ou entrar em contato diretamente com ele pelo telefone (83) 99141-2502.

*Estagiária sob a supervisão de Marcelo Abreu 

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  Foto: Arquivo Pessoal
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  Foto: Arquivo Pessoal