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Conheça histórias de pessoas que superaram barreiras e preconceitos

O preconceito que marcou a infância por conta da surdez não impediu que moradora do Riacho Fundo seguisse a trajetória acadêmica. O Correio conta histórias de quem conseguiu se destacar nesse percurso apesar da discriminação

Correio Braziliense
postado em 18/02/2020 06:00
Lauana Gadêlha formou-se professora de Libras pela UnB e, agora, faz mestrado em linguística aplicadaDedicação, disciplina e persistência são palavras que, desde cedo, se enraizaram no vocabulário da professora de Libras Lauana Gadêlha. Com dificuldades para oralizar por conta da surdez, ela venceu obstáculos impostos de maneira recorrente ao longo da trajetória escolar, tanto por professores quanto por colegas de classe. No percurso acadêmico, finalmente encontrou empatia e solidariedade. Hoje, aos 32 anos, além do diploma de graduação marcado com o símbolo da Universidade de Brasília (UnB), caminha orgulhosa pelos corredores da instituição de ensino como a primeira aluna surda do mestrado em linguística aplicada.

Uma infecção por rubéola durante a gestação de Lauana ocasionou a surdez. O preconceito devido à condição física se uniu à discriminação por causa da cor da pele e, desde a infância, ela sofreu bullying. Moradora do Riacho Fundo, a professora conta que não tinha amigas e colegas na primeira escola, mas que uma educadora sempre se solidarizou. Como não ouvia quando criança, não prestava atenção nas aulas.

“As pessoas me chamavam de preta e de feia. Além do fato de eu não ter conseguido aprender a oralizar, o que aumentava a discriminação”, relata Lauana. E, com o passar dos anos, a situação foi piorando. “Eram dias difíceis, mas, no ensino médio, foram piores, pois eu não tinha relação com os professores. Eles queriam me expulsar da escola, não aceitavam que eu estudasse lá. O clima na sala de aula era pesado. Eu sonhava em prestar vestibular para a UnB e me formar, mas era muito difícil, por causa da situação vivenciada com esses educadores”, afirma.

Hoje, Lauana é formada em Língua de Sinais Brasileira (Libras) — Português como segunda língua, pela UnB. O que era dificuldade na infância e na adolescência, na fase adulta, tornou-se prazer. “As aulas da graduação foram maravilhosas. Eu me relacionava com os professores surdos e ouvintes. Comecei a ter mais conhecimentos e a aprimorar os métodos de ensino de Libras como primeira língua, além de estudar o português, mas com um pouco de dificuldade na leitura”, relembra. A relação com os colegas dessa vez foi boa, ela os ajudava a aprender Libras, e eles a auxiliavam com o português.

Obstáculos comuns


O preconceito não costuma ser exceção na vida de pessoas com deficiência. O professor de Letras-Libras da UnB Amarildo João Espíndola, 46 anos, enfrentou situações parecidas. Diferentemente de Lauana, ele nasceu ouvinte, mas, aos 7 anos, ficou surdo, após o uso de antibióticos para combater uma pneumonia. Idas e vindas diárias a consultórios médicos e fonoaudiológicos se tornaram rotina. O objetivo era buscar a cura para a surdez. Esperançosos, os familiares do docente buscaram a reabilitação da audição e o desenvolvimento da oralização dele durante toda a infância.

A Libras só entrou mais tarde na vida do professor. Aos 12 anos, encontrou outras pessoas surdas e começou a aprender a língua. “Desde então, definitivamente me senti com amigos, e, melhor, amigos surdos. Minha identidade surda começou a ser construída; minha autoestima e meu empoderamento como sujeito surdo, não assujeitado ao mundo ouvinte, tal como o percurso que vinha fazendo até então. Eu me senti livre e completo, pertencente a uma comunidade e feliz”, destaca Amarildo.

A partir desse gatilho, o professor se aprofundou na vivência da comunidade surda, e dedica parte da vida à área acadêmica. Em 2008, começou a faculdade. Daí em diante, passou a galgar posições de destaque no meio. Foi aprovado como professor de nível superior de Libras, em 2014, pela Universidade Federal de Rondônia (Unir) e, em 2018, conseguiu a transferência para Brasília, na UnB. Em março, o professor Amarildo voltará a ser aluno. Desta vez, como doutorando em literatura na federal de Brasília.

* Estagiário sob supervisão de Mariana Niederauer

Para saber mais

Acesso ao ensino superior

Entre os 8,45 milhões de estudantes matriculados em instituições de ensino superior no país, apenas 43.633 têm alguma deficiência. Os dados são do Censo da Educação Superior de 2018, divulgados pelo Ministério da Educação (MEC). Em 2009, o número de pessoas com deficiência matriculados nessa etapa do ensino era de 20.530. Na Universidade de Brasília, o número de estudantes inscritos na Coordenação de Apoio às Pessoas com Deficiência (PPNE), em 2019, é de 368 na graduação, 26 no mestrado e cinco no doutorado.

Mulheres Inspiradoras recebe inscrições

Estão abertas as inscrições para o programa Mulheres Inspiradoras. A ideia é a formação dos docentes sobre o papel das mulheres na sociedade, por meio do estudo de obras produzidas por mulheres. A formação, dividida em parte presencial e a distância, é oferecida por meio da Subsecretaria de Formação Continuada dos Profissionais da Educação (Eape). As inscrições podem ser feitas até 9 de março, pelo site www.eape.se.df.gov.br/inscricoes-1-2020. As aulas serão ministradas pelas professoras Gina Vieira Ponte — idealizadora do projeto, que começou no CEF 12 de Ceilândia — e Mayssara Reany. As vagas serão preenchidas por sorteio.

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