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MEC autoriza formatura antecipada para estudantes da área de saúde

Medida vale para alunos de medicina, enfermagem, farmácia e fisioterapia

Correio Braziliense
postado em 06/04/2020 21:21
Na segunda-feira (6), o Ministério da Educação (MEC) publicou uma portaria, no Diário Oficial da União, que autoriza a antecipação da colação de grau para os alunos dos cursos de medicina, enfermagem, farmácia e fisioterapia, exclusivamente para atuação nas ações de combate à pandemia do novo coronavírus. De acordo com  o texto, os estudantes devem ter  completado 75% da carga horária prevista para o internato médico ou estágio obrigatório.
 
Medida vale para alunos de medicina, enfermagem, farmácia e fisioterapia 
A carga horária dedicada por esses profissionais no combate à Covid-19 deverá ser computada pelas instituições de ensino superior e complementará as horas de estágio obrigatório, para a obtenção do registro profissional definitivo.  Eles também serão bonificados com o acréscimo de 10% na nota final do processo de seleção pública para o ingresso nos programas de residência. Ainda segundo a portaria, a emissão do registro provisório será disciplinada pelo Ministério da Saúde, e a seleção e alocação dos profissionais será articulada com os órgãos de saúde municipais, estaduais e distrital.

O professor de medicina de uma instituição particular de Brasília e diretor de patrimônio da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, Antônio Carlos de Souza, se diz pessimista em relação à medida. “Como educador da área da saúde há 25 anos, eu fico preocupado com vários aspectos”, afirma. De acordo com o médico, muitos dos alunos contemplados pela portaria ainda não passaram por estágio em área fundamentais, como clínica médica, urgência e emergência. “Do ponto de vista da formação, eles vão atuar no mercado de forma incompleta.”

Antônio Carlos de Souza, professor de medicina e diretor de patrimônio da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia VascularO educador lembra, ainda, que, como medida para conter o avanço do coronavírus, a maioria dos internatos estão parados e o campo de estágio em Brasília está fechado. Outra  preocupação dele é em relação à segurança dos alunos. “Como esses estudantes, que não têm condições de atuar sem um mentor do lado, vão assumir a linha de frente em uma situação dessas?”, questiona. Na opinião do professor, o texto deixou muitos pontos sem explicação, como, por exemplo, quem supervisionará os novos profissionais. 

“Eu acredito que a ideia seja alocar esses estudantes para as chamadas áreas frias, onde não há atendimento direto aos pacientes, realocando o restante da equipe médica. Mas é extremamente complexo operacionalizar o que está nessa portaria”, diz. Ainda de acordo com o diretor da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, “não é verdade que nós temos falta de médicos”, especialmente nas metrópoles, onde a doença está se espalhando  de forma mais intensa. 
 

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Opinião de estudantes

O estudante do 10º semestre de enfermagem na Universidade de Brasília (UnB) Leonardo Xavier, 23 anos, acredita que a decisão não foi a melhor que poderia ser tomada. “Não penso que seja a melhor alternativa. Percebo que muitos colegas concordam e querem colaborar, pois imaginam que seja uma oportunidade de ajudar o país e adquirir experiência laboral”, reconhece. “Eu, particularmente, acho que há outras ações que poderiam ser tomadas, como a contratação de pessoas experientes, mas que estão desempregadas.”

Letícia Wagner, 20, estudante do 7º semestre de enfermagem no Centro Universitário do Distrito Federal (UDF), compartilha da mesma opinião de Leonardo. "Acredito que antecipar a colação de grau pode, sim, trazer alguns benefícios na luta contra a Covid-19. No entanto, acho que essa não é a melhor solução, porque o estágio obrigatório que fazemos é a forma de nos prepararmos para outras situações. Então, se nos formarmos antes, não teremos esse preparo para oferecer uma boa assistência futuramente."
 
 
*Estagiários sob supervisão de Ana Sá  

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