Correio Braziliense
postado em 06/07/2020 21:08
A pandemia impôs uma série de desafios ao setor educacional. O ensino remoto exige que os educadores se reinventem para reter a atenção dos alunos e mantê-los engajados por meio de uma tela. Pensando nisso, a professora de ciências do ensino fundamental 2 do Colégio Batista de Brasília, Angélica Dornelas, decidiu elaborar uma aula diferente da convencional.
A cozinha de casa virou um laboratório de ciências. A docente utilizou uma berinjela para ensinar aos estudantes do 7º ano sobre anatomia e fisiologia dos poríferos. “Eles ficaram bastante empolgados. Logo no início da aula, eu apareci em uma posição completamente diferente, compartilhando um pouco mais da minha casa. Todos ficaram surpresos”, conta Angélica. “Já teve aluno que deu devolutiva pelo WhatsApp dizendo que achou a aula muito legal. Aí eu falei que nas próximas vezes vamos usar materiais um pouco nojentos, e um dos estudantes respondeu: ‘Ainda bem que não é presencial’”, lembra, rindo.
De acordo com a professora, formada em biologia pela Universidade de Brasília (UnB), criatividade é a palavra-chave neste momento. “Às vezes, com pouco, a gente pode fazer uma diferença muito grande no processo de ensino-aprendizagem”, diz. “É claro que uma aula presencial é totalmente diferente. Mas, se no momento, eu não eu não posso estar junto ao aluno, colocando a mão na massa, brincando e aprendendo ciências com ele, preciso me reinventar e não deixar que as dificuldades da pandemia façam com que o ensino se torne chato e desinteressante.”
Na opinião da professora, a pandemia deixou uma lição: “Essa situação está trazendo à memória o que muitos tinham esquecido — a importância do profissional da educação. Ela está servindo para valorizar a categoria de guerreiras e guerreiros que vestem a camisa pelo ensino. Espero que as pessoas não se esqueçam disso quando a pandemia acabar”.
Opinião de estudantes
A estudante Gabriela Lima, 12, assistiu à aula lúdica da professora Angélica nesta segunda-feira (6). Ela conta que adorou a novidade. “Achei muito legal, porque nesta época de quarentena tanto eu quanto meus colegas estávamos sentindo muita falta das aulas práticas de ciências”, relata. Gabriela conta que, aos poucos, está se adaptando às aulas remotas, mas prefere as presenciais. “Em casa, a gente fica próximo ao celular e tem um monte de coisa perto para distrair. Eu tento me concentrar ao máximo, mas a aula presencial é bem melhor”, opina. “Sinto muita saudade da escola.”
Na avaliação do estudante Natanael Rendeiro, 12, a aula foi “muito legal”. “A professora pegou uma berinjela, furou com um palito pequeno e cortou o legume por dentro. Aí, ela pegou uma vasilha de água e botou a berinjela dentro, para representar uma esponja”, conta, entusiasmado. “Foi uma aula muito diferente.” Natanael admite que o contato com os professores e colegas faz falta, mas, na opinião dele, as aulas não deveriam retornar antes de haver vacina contra a covid-19.
“Eu penso igual minha mãe e minha irmã. Na escola, você põe a mão no bebedouro, na parede, senta na cadeira...Mesmo que as carteiras fiquei distantes, não acho uma boa ideia voltar. Prefiro manter as aulas pelo computador.” Decreto publicado pelo Governo do Distrito Federal (GDF) prevê o retorno das escolas particulares a partir de 27 de julho.
Ensino presencial x remoto
A coordenadora do ensino fundamental 2 do Colégio Batista de Brasília, Márcia Maria Moraes, explica que a escola tem investido em aulas mais dinâmicas, com jogos e atividades práticas. “Tendo em vista que nosso calendário (de aulas remotas) está se estendendo, surgiu a necessidade de buscar outros recursos para manter a atenção dos estudantes”, afirma.
“Quando estamos em aula presencial, temos o controle da turma e é mais fácil manter os meninos mais atenciosos. Com a aula remota, tudo é mais difícil e acaba se tornando cansativo permanecer em aula durante três horas sem a interação entre professores e estudantes. Por isso essas atividades são tão importantes.”
A coordenadora conta que a escola elaborou um questionário para enviar às famílias, propondo datas de retorno a partir de 27 de julho.
*Estagiária sob supervisão de Ana Sá
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