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UDF ameaça cobrar mensalidade de bolsistas, denunciam contemplados

Beneficiários do programa Escola de Governo do Distrito Federal afirmam que o centro universitário não acatou pedido judicial e dificulta matrículas

Correio Braziliense
postado em 16/07/2020 15:58
Estudantes contemplados pelo Programa de Concessão de Bolsas de Estudo da Secretaria de Economia, órgão do Governo do Distrito Federal, denunciam que o Centro de Ensino Unificado do Distrito Federal (UDF) está dificultando a efetivação do benefício. Além de não esclarecer o procedimento correto das matrículas, segundo os estudantes, a instituição informou que irá cobrar a mensalidade integral dos cursos.
 
Estudantes que foram contemplados com bolsas afirmam que UDF está dificultando a matrícula 
O programa de bolsas faz parte da iniciativa Escola de Governo do Distrito Federal (Egov). De acordo com o último edital, destinado a contemplação de vagas do segundo semestre de 2020, a o centro universitário deveria acatar matrícula 117 candidatos, sendo 72 servidores e empregados públicos do GDF e 45 alunos egressos da rede pública de ensino da unidade federativa. 

No entanto, o problema vem desde as vagas ofertadas para o primeiro semestre deste ano. Essa informação é confirmada em ofício da Secretaria de Economia enviado à Beatriz Maria Eckert-Hoff, reitora do UDF. O documento está disponível no site do programa

“Considerando que a maioria dos contemplados com a bolsa de estudos no 1º semestre de 2020 ainda aguarda a efetivação do benefício no segundo semestre, aproveitamos a oportunidade para reenviar a relação atualizada dos contemplados, a fim de que possam fazer jus às bolsas de estudo agora no 2º semestre de 2020”, afirma o ofício. 

Decisão judicial 

O Governo do Distrito Federal entrou com pedido de cumprimento de sentença no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) contra o UDF. Em 7 de julho, o juiz Jansen Fialho de Almeida estabeleceu prazo de cinco dias para que a instituição efetuasse as matrículas de todos os contemplados, sem cobrar qualquer valor e explicasse detalhadamente como cada candidato deveria proceder para fazer a matrícula. 
 
No sistema, valor consta para ser pago pela estudante 
Ainda segundo a decisão, o descumprimento da ordem judicial no prazo estabelecido resultaria na aplicação de uma multa. Apesar disso, até o fechamento desta matéria, nenhum dos estudantes presentes nesta reportagem receberam quaisquer explicações da faculdade.
 
Em nota ao Eu, Estudante, o UDF disse: 

“O Centro Universitário do Distrito Federal (UDF) informa que está cumprindo as decisões judiciais, tendo lançado as bolsas aos beneficiados nos termos da decisão judicial. O estudante que foi contemplado e, por qualquer problema, não tenha tido sua bolsa lançada, deve entrar em contato com a Instituição para resolução do tema. ”

Orientação do Egov

Contemplado pelo último edital com bolsa para o curso de odontologia, Gabriel Santos Araújo, 22 anos, conta que fez a matrícula assim como orientou o Egov. No entanto, a instituição ligou para o estudante informando que o boleto, cobrando a mensalidade integral do curso (cerca de R$ 2.000), seria gerado ao fim deste mês. “O que a gente observa é que a UDF não está se importando conosco. Nós simplesmente queremos o nosso direito, que foi o que conquistamos”, diz. 

Gabriel Santos Araújo relata que instituição o ligou dizendo que iria cobrar mensalidade no fim do mêsSegundo Gabriel, após receberem a informação de que a mensalidade seria cobrada, os estudantes começaram a ligar para instituição a fim de uma explicação. O que foi repassado, é que o UDF se reuniria com o GDF para discutir a distribuição das bolsas. “Disseram que não era algo certo e orientaram os alunos a não se matricularem”, conta. 

No entanto, essa informação foi desmentida em comunicado divulgado pelo Escola de Governo. “Não há reunião alguma agendada entre UDF e Egov, assim como vem sendo informado pelo UDF aos contemplados, como justificativa para que não efetuem a matrícula”, assina a presidente do Egov, Juliana Neves Braga Tolentino. 

Os comunicados emitidos no site do programa orientam que os alunos façam a matrícula imediatamente, informe por e-mail à Comissão de Seleção da Egov e, ainda, sugere que os candidatos solicitam a imediata concessão do benefício na Central de Atendimento ao Aluno (CAA) da instituição.

Dessa forma, os estudantes contemplados se encontram em um dilema. Fazer a matrícula e correr o risco receber a mensalidade, assim como a UDF afirmou que faria, ou não se matricular e perder a sonhada bolsa de estudos? "Os ingressantes de escolas públicas são todos de baixa renda, esse é um requisito para conseguir, então ninguém aqui tem condições de arcar com essa mensalidade. Nós realmente não sabemos o que fazer", ressalta Gabriel. 

Sem respostas

Samuel Victor Lopes Santos, 18, também foi escolhido para a receber uma bolsa no segundo semestre. A vaga no curso de relações internacionais, que devia ser motivo de comemoração, se tornou uma grande dor de cabeça. “Estamos em uma busca incessante para a confirmação e efetivação das matrículas junto à UDF”. 

''Eles mentem e tentam de toda forma nos impedir para que possamos desistir das bolsas'', diz Samuel Victor LopesNos primeiros contatos com a faculdade, Samuel conta que os atendentes diziam não saber como os contemplados da Egov deveriam fazer a matrícula. Por isso, ele preferiu não se matricular por enquanto. “Estou esperando uma resposta clara de como fazer a matrícula, pois, como somos bolsistas, geralmente se faz um sistema diferente do tradicional, como por exemplo é pelo Prouni”, justifica. 

O jovem ligou para a instituição diversas vezes e não recebeu nenhuma informação concreta sobre como proceder. Na última tentativa de contato, ele relata que ligou mais de 30 vezes para a reitoria e não foi atendido. De acordo com ele, há semanas o UDF promete um retorno, sem nunca contatar os estudantes. “Eles mentem e tentam de toda forma nos impedir para que possamos desistir das bolsas”, diz. 

Funcionário que atendeu Juliene não sabia sobre o programa de bolsasAssim como ele, Juliene Paiva, 20, tem direito a bolsa no segundo semestre. Aprovada em direito, ela também não conseguiu esclarecimentos sobre qual a maneira correta de se inscrever na instituição. O funcionário que a atendeu não sabia nem mesmo da existência do programa. “Depois de explicado, ele me orientou a fazer a matrícula e solicitar a isenção da bolsa”, conta.

Além disso, após feita a matrícula, o site não constatou a nota do vestibular da estudante, erro que, segundo ela, está impedindo muitos alunos. Por fim, ela efetivou o cadastro, mas recebeu a seguinte resposta por e-mail:

"Por se tratar de um contrato antigo, o UDF tem buscado todos os meios para não o cumprir, o que vem sendo tratado na esfera judicial, todavia com decisões favoráveis ao Governo do Distrito Federal, conforme Decisão Interlocutória exarada nos autos do processo de número 0710833-66.2020.8.07.0001-TJDFT, que determina o ingresso por vestibular agendado e consequente matrícula, SEM CUSTO, aos alunos contemplados por bolsas, etc.”

Longa espera

Laryssa Christine Silva dos Santos, 19, é uma das candidatas aprovadas pelo processo seletivo referente às vagas do primeiro semestre. A expectativa era cursar farmácia, mas até hoje, meses após a aprovação no programa, a jovem não recebeu confirmação da bolsa. 

Contemplada no primeiro semestre para bolsa em farmácia, Laryssa Christine aguarda respostas do UDFO resultado definitivo da contemplação da bolsa saiu em abril no site da Egov. No mesmo dia, Laryssa entrou em contato com a UDF para fazer a matrícula e, como resposta, a instituição informou que a candidata deveria aguardar, pois o prazo de inscrições para o primeiro semestre havia sido encerrado.

"Eu mandei vários e-mails e eles e me disseram que eu não precisava ficar preocupada porque a bolsa viria sim para o segundo semestre. Eu acredito que a UDF agiu de má fé, pois todas as vezes diziam que estavam esperando a Escola do Governo entrar em contato", conta. 

Após o último comunicado da Egov, pedindo que os alunos se matricularem imediatamente, Laryssa assim fez. Agora, a mensalidade já consta no nome da estudante e não há opção de cancelamento disponível. "Entrei em contato para perguntar sobre isso, mandei e-mail e todos meus documentos e eles não respondem", afirma. "A gente não pode fazer nada a não ser esperar". 

Priscila Brandão de Barros, contemplada para a bolsa de arquitetura e urbanismo
 
 
Laryssa não é a única bolsista do primeiro semestre em busca de respostas. Priscila Brandão de Barros, 18, foi orientada a se matricular em arquitetura e urbanismo no segundo semestre. Chegando o dia do cadastro, assim como pedido, ela enviou a documentação por e-mail para a central de atendimento do centro universitário, ofício e explicou a situação, mas não teve retorno. 

“Um dia me ligaram e o atendente me orientou a fazer a matrícula mesmo aparecendo os valores de mensalidade, pois ao enviar meus documentos para eles, a bolsa seria validada, porém, mesmo enviando os documentos, não obtive resposta”, conta Priscila. 


 
 
 
*Estagiária sob a supervisão de Ana Sá. 

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