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Estudantes e entidades são contra a volta às aulas do IFB

Instituição retomou o calendário acadêmico nesta segunda-feira (3/8). Alunos e sindicato asseguram que não há condições para o ensino remoto

Correio Braziliense
postado em 03/08/2020 14:22
As aulas em formato não presencial do Instituto Federal de Brasília (IFB) começam a contabilizar presença a partir desta segunda-feira (3/8). No entanto, a retomada do calendário acadêmico ainda é motivo de divergência entre alunos e entidades representativas. 

Suspenso há três meses, o semestre volta com o apoio tecnológico das plataformas virtuais Google Meet e Moodle. A presença será computada por meio da participação dos alunos nas aulas ao vivo e da entrega de relatórios. 

Aulas do IFB voltam com o apoio tecnológico das plataformas virtuais Google Meet e MoodleApesar de as adaptações e do lançamento de editais que preveem a inclusão digital de alunos em situação de vulnerabilidade, há manifestações contra a retorno, mesmo que em formato remoto. 

Entre as manifestações, está a palavra do estudante de tecnologia em agroecologia Flávio Rocha, do câmpus de Planaltina. Segundo ele, o retorno demonstra desrespeito aos artigos constitucionais que garantem qualidade e universalização do ensino e formação profissional.

“Eu moro em área rural, a conexão aqui é horrível”, relata. “Eu me submeti ao edital de recursos tecnológicos e não fui contemplado”, conta. Flávio conta apenas com um celular pouco tecnológico.

Flávio relata dificuldades em vídeo enviado ao Eu, Estudante. Confira:
 

Fenet defende suspensão das aulas

Em conformidade com o que diz Flávio Rocha, a Federação Nacional dos Estudantes em Ensino (Fenet) é a favor do adiamento das aulas.

“A decisão foi tomada sem que se fosse feito um amplo debate com o conjunto da comunidade acadêmica, sem uma pesquisa com o perfilhamento socioeconômico dos estudantes”, comenta Caio Sad, coordenador geral da Fenet e estudante do curso técnico em serviços públicos do IFB. 

Segundo Caio, os equipamentos prometidos pelo edital de inclusão digital ainda não chegaram aos alunos. “A gente defende que se suspendam os calendários e as aulas só voltem quando todos os estudantes tiverem acesso e possam escolher se, realmente, vão fazer de forma remota ou não”, afirma. 

Veja o vídeo: 
 

Sindicato planeja reuniões

Em petição pública, o Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe) pediu pelo adiamento do retorno do calendário acadêmico do IFB. Até a semana passada, a meta era chegar às 500 assinaturas. Agora, o documento on-line conta com mais de 1.120 assinaturas de pais, alunos, professores e sociedade civil. 

“Continuamos nesta luta. Hoje, vamos entregar esse documento ao Conselho Superior (Consup) e esperar que ele se reposicione. Caso a resposta seja negativa, podemos convoque uma assembleia para fazer um debate sobre a questão da greve”, afirma Camila Tenório Cunha, coordenadora docente da sessão Brasília do Sinasefe. 

Segundo a coordenadora, a principal preocupação é com a evasão de estudantes. “Os alunos precisam ter condições de estudo em casa e, muitas vezes, eles não têm. Além da situação econômica ter se agravado, muitos desses alunos estão trabalhando e não sobra energia nem tempo para chegar a uma casa sem condições de estudo remoto”, diz. 

Outro ponto questionado pela coordenadora é a qualidade do ensino, que segundo ela, pode perder força ao se adaptar para o modelo o remoto. “Nossa luta é para que (o semestre) seja adiado, até que tudo volte ao normal e possamos fazer o ensino presencial”, comenta. 

O que diz o DCE

Em nota, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da instituição se declarou favorável ao adiamento do calendário letivo de aulas não presenciais e pede que as aulas retornem somente quando houver segurança de “acesso e permanência, assim como tempo de qualidade no planejamento dos professores e dos Comitês Locais”. 

A entidade denuncia que, apesar do edital que prevê auxílio de recursos tecnológicos, o número de contemplados é inferior ao número de estudantes que declaram ter dificuldades com acesso e em dispor de equipamentos. 

Além disso, o DCE considera curto o prazo estabelecido pelo Conselho Superior da instituição para planejamento. “É, ainda, importante destacar que os calendários dos câmpus somente foram divulgados em 23 de julho. Foi um tempo curto ainda para um planejamento de qualidade dos docentes, que também enfrentam dificuldades parecidas com a dos estudantes”, afirma o texto. 
 

O que diz o IFB? Instituto apresenta opção de trancamento

Confira nota assinada por Luciana Massukado, reitora do Instituto Federal de Brasília: 

 

"O Instituto Federal de Brasília (IFB) tem consciência de sua responsabilidade enquanto instituição pública de ensino e, compromisso com a comunidade acadêmica que deseja retomar as aulas. 
 
Voltamos da maneira que é possível para esse momento, com atividades não presenciais, evitando o retrocesso de aprendizagem e oportunizando o resgate do vínculo do estudante com os professores e com a escola. Estamos apoiando os mais vulneráveis com recursos financeiros e tecnológicos e também permitindo o trancamento, sem prejuízo, para os que não querem voltar agora.
 
Para o IFB, isolamento social não pode ser confundido com o isolamento educacional. Vamos preservar vidas, mas sem deixar de educar." 

*Estagiária sob a supervisão de Ana Sá.

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