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Segunda graduação em alta

Levantamento da UnB aponta aumento de 30%, entre 2011 e 2013, no número de inscritos em processo seletivo para quem tem diploma de nível superior. Este ano, mais de 640 pessoas aderiram a essa modalidade de vestibular

postado em 08/07/2013 11:45 / atualizado em 10/11/2020 10:18

Thiago Brandão, 30 anos, advogado que decidiu fazer o curso de gastronomia

 

Cozinhar era um hobby, mas, de tanto receber elogios de familiares e amigos, percebi que tinha aptidão e condições de investir nessa área. Embora seja de uma família tradicional de advogados, e com pós-graduação em direito público, optei por uma nova carreira”

Uma nova modalidade de vestibular ganha a cada ano mais adeptos entre os brasilienses. O processo seletivo diferenciado para portadores de diploma de nível superior oferecido pela Universidade de Brasília (UnB) teve aumento de 30% na demanda de inscritos entre 2011 e 2013. Os dados fazem parte de um levantamento do Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (Cespe), a pedido do Correio. A prova escrita é composta por cinco questões e tem duração de três horas. O conteúdo cobrado é específico do curso pretendido pelo candidato.

Neste ano, mais de 640 pessoas se inscreveram para participar do vestibular da UnB para graduados. A oferta de vagas não é fixa e depende das matrículas ociosas do processo seletivo tradicional. A nova modalidade de avaliação é autorizada pelo Ministério da Educação( MEC).Dessa forma, as instituições de ensino superior têm autonomia para decidir o tipo de critério para escolha dos novos alunos.

O Centro Universitário de Brasília (UniCeub) e o Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb) registraram, desde 2010, aumento de 10% na demanda de inscritos para o vestibular da segunda graduação. A média de matriculados no processo seletivo das duas instituições é de 400 candidatos por ano. A seleção, nesses dois casos, é composta por avaliação do currículo, do diploma de nível superior registrado pelo MEC, além da redação de uma prova dissertativa.

Lazer

Os cursos mais procurados nas instituições particulares são os de tecnólogo, com duração de até três anos, como design de interiores e gastronomia. “O que notamos é que a segunda graduação acaba sendo uma espécie de lazer relacionada à realização pessoal. São pessoas que optaram muito cedo por uma profissão e que, ao longo da vida, amadureceram e descobriram novas aptidões”, avalia a diretora do Iesb,Gidel Beungaro.

Em 2011, Thiago Brandão, 30 anos, abandonou a carreira jurídica e decidiu fazer o curso de gastronomia. “Cozinhar era um hobby, mas, de tanto receber elogios de familiares e amigos, percebi que tinha aptidão e condições de investir nessa área. Embora seja deu ma família tradicional de advogados, e com pós-graduação em direito público, optei por uma nova carreira”, conta. Mesmo depois de ter feito o vestibular tradicional há quase 14 anos, o advogado teve que enfrentar um novo processo seletivo para a graduação. “Acho que a seleção é adequada para quem tem curso superior. O graduado tem conhecimento em uma área específica, não seria certo cobrar novamente o conteúdo de ensino médio visto que ele já se submeteu a uma prova dessa antes”, analisa Thiago.

 

Adriana Mattoso, 30 anos, professora

 

Conversávamos sobre faculdade e uma pessoame falou sobre esse processo diferenciado. Não teria condições de fazer um vestibular tradicional novamente, tem disciplinas que não via há anos e, particularmente, não estava disposta a estudar exatas”

A professora Adriana Mattoso, 30 anos, voltou para o banco da faculdade depois de sete anos de formada em letras. Ao contrário do advogado Thiago, a opção por uma segunda graduação surgiu da necessidade em se especializar Em uma área que complementa a carreira, após a conclusão do mestrado. “Voltei para a UnB para cursar sociologia, depois de defender uma tese. Senti a necessidade de ampliar meu leque de conhecimento”, diz. “Muitos me questionam o porquê de não fazer Um doutorado em sociologia, mas sinto que não seria a mesma coisa”, completa Adriana.

A oportunidade de cursar uma segunda graduação surgiu depois de um papo descontraído com os amigos sobre os planos na carreira acadêmica. “Estávamos conversando sobre faculdade e uma pessoa me falou sobre esse processo diferenciado. Não teria condições de fazer um vestibular tradicional novamente, tem disciplinas que não via há anos e, particularmente, não estava disposta a estudar exatas”, afirma Adriana Mattoso. A professora destaca que o teste escrito sobre o conteúdo específico do curso pretendido é um estímulo para voltar para a graduação. “A prova que fiz era sobre sociologia e durou apenas três horas. Não achei cansativa”, conta.

O ingresso em uma nova graduação como portador de diploma de ensino superior está previsto na súmula 2 de 1992 do então Conselho Federal de Educação e regulamentado pela Lei nº 9.394, de 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Dessa forma, após a conclusão da matrícula dos candidatos classificados no vestibular tradicional, se restarem vagas das que foramoferecidas no edital, a instituição de ensino pode acolher requerimento de novos inscritos diplomados por curso superior mediante apresentação do documento registrado pelo Ministério da Educação, e também por avaliação elaborada pela universidade.

Novo nicho de mercado

A demanda por uma segunda graduação contribui para a expansão de um novo nicho dentro do mercado de ensino superior do DF. Instituições como UniCeub e Iesb passaram a oferecer condições facilitadas de pagamento da mensalidade no intuito de atrair os alunos graduados. “Essa procura pela segunda graduação sempre existiu. Desde 2010, passamos a analisar com mais atenção essa demanda e notamos um crescimento de 10% ao ano, por isso resolvemos estabelecer condições especiais para a matrícula de ex-alunos graduados da instituição”, explica Fabiano de Andrade Raymundo, secretário adjunto do UniCeub.

A diretora do Iesb acredita na contribuição do aumento da expectativa de vida, resultando em mais aposentados, e na queda do número de formados no ensino médio. “Estudamos os dados dos últimos matriculados nesse vestibular específico e notamos um perfil formado por aposentados que pretendem se manter no mercado. Ainda há a questão da queda no crescimento vegetativo da população, ou seja, menos jovens vão se formar no ensino médio nos próximos anos”, destaca Gidel Beungaro.

Mas há quem diga que a segunda graduação enfrentará a concorrência direta da pós-graduação. “A segunda graduação ainda vai ficar marginalizada por um bom tempo devido à necessidade de se especializar. Não creio que a mudança de carreira seja determinante para a escolha de uma nova graduação, visto que muitos profissionais encontram na especialização a solução para atuar em outro trabalho”, afirma Cristina Almeida de Carvalho, professora da Faculdade de Educação da UnB. (SA)

Palavra de especialista

Mais chances de trabalho


“O aumento do número de inscritos nos processos seletivos para quem deseja cursar uma nova graduação é uma tendência para os próximos anos.Acredito que essa modalidade deverá concorrer com a pós-graduação, cuja qualificação ocorre em uma área específica, enquanto uma segunda faculdade contribui paraumavisão completa de um ofício, além de ampliar as chances de colocação em novos postos no mercado de trabalho. Esse fenômeno acontece porque as pessoas sentem a necessidade de estar mais preparadas profissionalmente.Outros fatores influenciam nessa procura por uma segunda ou terceira graduação, tais como a satisfação e o amadurecimento pessoal, e também o aumento da expectativa de vida.Nos últimos anos, notamos que mais aposentados se mantiveram ou retornaram ao mercado, o que exigiu a busca por especialização e a necessidade em suprir lacunas de conhecimento.”

DéboraBarem,
especialista em mercado de trabalho da Universidade de Brasília (UnB)
 

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