postado em 13/03/2014 17:25
O vice-presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), Stavros Xanthopoylos, palestrou, nesta quarta-feira (12/3), sobre o tema Pós-graduação e educação continuada: uma visão do futuro desses aspectos no mundo integrado digitalmente. A apresentação foi às 19h30, no Auditório da Fundação Getulio Vargas, em Brasília, e abriu o 12; Ciclo de Palestras FGV, evento que vai até 29 de abril. Ele discursou a respeito do panorama atual da educação continuada no mundo, os desafios para desenvolvimento de sistemas abertos de educação, quebras de paradigma que o surgimento da internet acarretou na educação informal e falou sobre as tendências atuais no que diz respeito à educação a distância.Xanthopoylos é doutor em administração de empresas pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV-EAESP) e leciona e coordena cursos de pós-graduação em educação a distância há mais de 10 anos pela FGV, além de ser vice-diretor do Instituto de Desenvolvimento Educacional (IDE). Em entrevista ao Correio, ele fala sobre o conceito de educação continuada, exemplos de sucesso no exterior e os avanços alcançados no Brasil.
Do que se trata o conceito de educação continuada e como ele se aplica no meio digital?
A educação continuada abrange o ciclo da vida em que as pessoas buscam aperfeiçoamentos contínuos, não necessariamente em uma formação formal. Por exemplo: o funcionário de determinada empresa que for assumir uma nova área que quer aperfeiçoar o conhecimento, ou apenas complementar o que sabe. O inglês tem um nome muito melhor para isso, life long learning, que seria aprendizagem ao longo de toda a vida. São cursos de curta ou curtíssima duração, que não ultrapassam a carga de 360h/aula. Digitalmente, há dois fenômenos que reconfiguram esse processo. O primeiro é o surgimento da internet, mais especificamente das ferramentas da web 2.0, que permitem interação com o usuário. O segundo é o surgimento das redes sociais. Todo e qualquer sistema de educação a distância sempre foi uma rede social fechada, com chats, fóruns de discussão, enfim, interatividade. Quando a rede social se cria em um contexto aberto, faz com que todos nós sejamos alunos a distância, na busca de informações para o dia a dia, para o trabalho e para nossa educação.
Há referências avançadas em educação continuada a distância?
Com certeza. Em termos de estruturação desses processos, tem muita vanguarda, muita coisa acontecendo. Boas experiências podem ser observadas em países como Espanha, Alemanha, Austrália e Canadá. No que diz respeito de educação que não desiste nem do giz nem da tecnologia, a Coréia do Sul tem trabalhado de forma bem pragmática. Há duas gerações, por exemplo, eles investiram muito no computador com crianças e perceberam que elas pararam de ter raciocínio crítico. Existem também grandes movimentos buscando organizar recursos educacionais abertos para educação continuada, principalmente no hemisfério norte. No hemisfério sul, tem um grupo de pesquisa com foco mundial do qual eu faço parte, representando a América Latina. Em português, o nome é Pesquisa Sobre Recursos Educacionais Abertos para o Subdesenvolvimento. O comitê executivo é formado também por representantes da África do Sul, Malásia, Índia, Canadá, Cingapura e Filipinas.
E no Brasil, alguma iniciativa se destaca? Como é a recepção desse tipo de formação aqui?
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pelo Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro (Cederj), que iniciou a integração de todas as universidades federais, municipais e estaduais do Rio de Janeiro em um programa integrado. Isso está sendo estendido para gestão pedagógica de escolas municipais e estaduais, inclusive para Educação de Jovens e Adultos (EJA). O povo brasileiro é ávido ao conhecimento. Eu implementei um programa de cursos abertos, livres e gratuitos junto ao consórcio OpenCourseWare OCW, liderado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês). Hoje, temos 49 cursos de curtíssima duração, dos quais cinco estão em espanhol. Desde junho de 2008, tivemos mais de 20 milhões de acessos e imprimimos mais de 5 milhões de declarações de participação. Mais de 80% das pessoas cadastradas são de classes economicamente classificadas pelo IBGE como C, D e E. Isso provou que todos que pensavam que classes menos favorecidas não acessam a internet estão errados. Um colega da Universidade Aberta Africana, que tem cursos completos em francês, inglês e português no Quênia, descobriu que um terço do fluxo dele era de brasileiros.