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Entre a obrigação e o lazer

Escola e família devem incentivar atividades extracurriculares como esportes e jogos, mas com cuidado para não consumir o tempo livre e de estudos do aluno

postado em 10/01/2016 10:00

Ana Beatriz pratica xadrez há três anos e ficou em 2º lugar no campeonato brasileiro da modalidade

Quando Ana Beatriz Sampaio, 15 anos, começou a fazer aulas de xadrez, ela nem imaginava que conquistaria o 2; lugar na edição de 2015 do Campeonato Brasileiro de Xadrez Escolar. A experiência, que começou em 2012, foi o primeiro contato da garota com o jogo que, mais tarde, tornou-se uma paixão e a atividade à qual ela dedica boa parte do tempo livre. ;No ano anterior, eu fiz aulas de teatro. Foi bom, mas não era para mim. Depois, escolhi xadrez por sugestão da minha mãe e da escola, mas nunca poderia me imaginar ganhando competições;, conta.


Aos poucos, Ana Beatriz foi conquistada pelo tabuleiro e, hoje, dedica pelo menos duas horas por dia à atividade ; tempo maior até do que aquele dedicado aos estudos, mas nem por isso teve problemas com as notas. ;Mesmo em época de provas, continuo na mesma rotina, não paro com o xadrez. Alguns deixam de lado, porque cada um é diferente, precisa estudar mais ou menos. Eu consigo balancear;, diz.


Para o professor e coordenador de projetos extracurriculares do Colégio Ideal, João Martins, em casos nos quais o prejuízo ao desempenho escolar está ligado às atividades extracurriculares, a raiz do problema costuma ser a pressão da família para que crianças e jovens desempenhem diversas tarefas. ;Já vi alunos estressados porque estavam sobrecarregados com obrigações além da escola. Para os pais, é comum a ideia de não deixar um período livre para os filhos, mas eles necessitam de um tempo para não fazer nada. É preciso ter bom senso e definir prioridades;, aconselha.

Sem estresse

Quando o jovem deixa de fazer uma atividade por estresse, ele perde uma oportunidade de se desenvolver em aspectos que não o intelectual, segundo a vice-diretora do ensino fundamental do Colégio Ideal, Luciana Toscano. ;O ser humano tem várias facetas, é preciso desenvolver todas e buscar um equilíbrio com a parte física e a lúdica, com atividades como xadrez, esportes e fotografia;, afirma Luciana.


Ana Beatriz concorda. Para ela, o xadrez foi uma oportunidade de expandir as habilidades, mas também de se integrar socialmente. ;O xadrez me ajuda com o controle do tempo e no raciocínio lógico. Fiquei mais ágil, percebo as coisas com mais facilidade. Além disso, comecei a ir para outros torneios, me envolvi com a comunidade de xadrez fora da escola, que antes era meu único ciclo social.;


Cleber Dias, 17 anos, também se envolveu com atividades além da sala de aula, mas de outra natureza. No segundo semestre de 2015, ele começou a estudar francês. A vontade surgiu a partir da experiência dos dois meses que passou no Canadá, no começo do ano passado. ;Tive muita dificuldade de me comunicar em partes do país que só falavam francês. Quando voltei, pensei: ;Poxa, preciso muito aprender uma nova língua;. Tenho desejo de morar no exterior e estudar relações internacionais;, conta. Ele, então, tomou a iniciativa de sugerir à coordenação da escola que abrisse uma turma de francês e convidou colegas interessados no idioma.

Para orientar e acompanhar

Confira as dicas de especialistas sobre as atividades extracurriculares

1. Incentive a experimentação
Crianças mais novas geralmente passam pela fase ;de galho em galho;, em que não ficam muito tempo em uma atividade, perdem o interesse rapidamente. Essa atitude não é negativa, mas, sim, a chance de descobrir o que realmente dá prazer.

2. Cuidado com excessos
Seja desenho, coral, robótica, xadrez ou fotografia, a atividade extracurricular sempre deve ser a oportunidade de experimentar algo diferente do ensino convencional, e não mais uma obrigação de obter alto desempenho.

3. Fique atento aos sinais
Se a criança ou jovem começa a ficar desanimada e perder o gosto pelas atividades, é possível que esteja sobrecarregada. A quantidade de obrigações pode desgastar, então é importante buscar equilíbrio e, sobretudo, valorizar o tempo livre.


Fontes: João Martins e Luciana Toscano

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