Jornal Correio Braziliense

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Um norte para a decisão

Conheça as principais escolas pedagógicas para avaliar qual projeto é o mais adequado ao seu filho

Antes de tomar a decisão sobre a escola em que seu filho estudará, é importante conhecer o projeto pedagógico da instituição. Não é necessário ser especialista na área para analisar o texto, mas é bom saber que existem alguns métodos que norteiam esses documentos e que provêm de experiências práticas ou de estudos acadêmicos sobre a aprendizagem.

A professora Lucimar Rosa Dias, do Departamento de Planejamento e Administração (Deplae) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), explica que o que a família pode observar é se a escola segue uma linha mais aberta, abrindo espaço para escutar e considerar os desejos da criança ou do adolescente, ou se é uma instituição mais formatada, que exige que o aluno se adapte ao ambiente escolar.

;Em geral, as propostas pedagógicas apresentam-se de formas muito parecidas; o que vai marcar a diferença é justamente esse cotidiano, como as relações ocorrem na instituição, qual a relação entre a criança e os adultos, como as famílias são consideradas nesse processo e se é deste modo que acreditam que deva ser a educação dos seus filhos e filhas. são as essas coisas que a família tem de avaliar, na minha opinião ;, explica.

Para não se perder nas conversas com os gestores sobre projetos pedagógicos, confira abaixo as características das três principais escolas que dividem hoje as práticas pedagógicas adotadas no Brasil e alguns dos métodos adotados em cada uma delas.

Pedagogias tradicionais

;O que caracteriza essa escola seria uma relação mais tradicional mesmo. O lugar das pessoas está muito bem definido: o professor é quem ensina e o aluno é receptor do conhecimento;, explica Lucimar. A presença dessa escola no ensino brasileiro ainda é marcante, a começar pela organização da sala de aula, com alunos sentados em fileiras, um atrás do outro. São também escolas que valorizam a prova como única forma de avaliação e em que o critério da nota é o principal para analisar o processo de ensino e aprendizagem. ;Não há participação efetiva do aluno na organização do espaço, do conteúdo, ou do próprio desenvolvimento da aula. Isso tudo está nas mãos do professor;, completa Lucimar. No entanto, ela lembra que, apesar de esse ser o modelo dominante no país, poucas escolas se intitulam como tradicionais, pois esse tipo de ensino ficou fora de moda por alguns anos e o termo caiu em desuso.

Pedagogias progressistas ou críticas

Essas pedagogias surgiram de um movimento que tentou discutir e questionar a escola da maneira que ela estava colocada no país ; a tradicional. A partir desse movimento surgiram várias tendências. Em linhas gerais, são métodos que valorizam a formação do aluno em uma perspectiva crítica, em que ele não é apenas um repositório de informações. Encaixa-se nessas pedagogias também o construtivismo, conhecido por abordagens diferentes de dois pensadores: Vigotsky e Piaget. A psicopedagoga Mayura Cordeira explica que o trabalho baseado no construtivismo de Vigotsky valoriza o uso de todos os espaços da escola, e não apenas a sala de aula. Além disso, os novos conhecimentos são construídos a partir das experiências prévias que a própria criança traz para a sala de aula e esse processo não precisa necessariamente seguir uma sequência, como na visão de Piaget. Isso significa, por exemplo, que as letras do alfabeto não precisam ser ensinadas na ordem.

Pedagogias pós-críticas

São ligadas ao ambiente, ecológicas e, segundo estudo do pesquisador José Carlos Libâneo, nem se sentem confortáveis em se autodenominar como pedagogias, mas influenciam a prática docente. Essas pedagogias, de acordo com Libâneo, baseiam-se na ideia de que não há direitos universais abstratos, mas direitos e vozes de cada grupo cultural, de cada comunidade: o feminismo, o pacifismo, a ecologia, o negro, o homossexual. Um dos métodos que podem ser classificados nesse grupo é o Waldorf. Segundo Lucimar, apesar de se tratar de um método bem antigo, anterior à classificação nessas três grandes escolas, ele se encaixa na visão pós-crítica da educação por estar baseado numa ideia mais holística do ser humano. São escolas que não têm prova como forma de avaliação, por exemplo. ;O aluno está ali não para ser avaliado em determinados conhecimentos, mas para que ele se desenvolva de forma equilibrada e integrada.;