Jornal Correio Braziliense

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Potencial estimulado

Estudantes com altas habilidades precisam ser incentivados nas áreas de interesse para progredirem


"Se ele tem essas diversas ferramentas, eu acredito que, lá na frente, será mais fácil identificar realmente o que gosta e definir qual vai ser a profissão ou os hobbies dele" Mônica Gomes Ramos Bimbato, mãe de Angelo



O acompanhamento especializado nas escolas deve se estender também aos alunos que apresentam altas habilidades. Se não receberem atenção e as necessárias adaptações para tornar o ensino mais atrativo, é possível até que esses estudantes deixem de mostrar e de desenvolver os potenciais que têm e acabem por apresentar baixo rendimento nas disciplinas regulares.

Há dois anos, o Maristinha desenvolve o Projeto Potencializando Habilidades (PPH), focado em alunos com superdotação/altas habilidades ou alta performance. ;Nós temos um ensino personalizado. Assim como recebemos crianças de inclusão, víamos a necessidade de potencializar as crianças com habilidades especiais;, afirma a coordenadora psicopedagógica do colégio, Roberta Guedes.

No contraturno das aulas são oferecidas oficinas de astronomia, high-tech, artes cênicas e plásticas, cinema, música e grafite, além de atividades de iniciação científica. Todas elas são voltadas apenas para esse grupo de alunos que têm laudo atestando a superdotação ou com alta performance acadêmica, nesse caso, indicados pelos professores.

Com essa proposta, o objetivo da instituição é evitar que os alunos se desmotivem e que vejam a escola apenas como uma etapa obrigatória da vida, sem sentir prazer em aprender. Cada projeto tem um total de oito encontros por semestre, com duração de uma hora a uma hora e meia, e no fim de cada ciclo os estudantes apresentam os resultados à comunidade escolar.

Mônica Gomes Ramos Bimbato, 44 anos, é mãe de Angelo, 10, um dos alunos que participa do projeto. Ele foi indicado pelos professores por apresentar desempenho acima da média nas disciplinas. Este ano, o grupo vai desenvolver um jogo eletrônico usando um aplicativo. ;Se ele tem essas diversas ferramentas, eu acredito que, lá na frente, será mais fácil identificar realmente o que gosta e definir qual vai ser a profissão ou os hobbies dele;, observa Mônica.

Angelo ainda participa de outras atividades extracurriculares, como aulas de violino. A regra é permitir que ele participe de tudo o que quiser, desde que não fique cansado demais. E a mãe o acompanha em todos os momentos. ;A parceira é fundamental. Não adianta você colocar a criança na escola e achar que a instituição é responsável por tudo;, reforça Mônica.

Diagnóstico

Angela Virgolim, professora do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília e sócia-fundadora do Conselho Brasileiro para Superdotação (ConBraSD), explica não existe distinção entre altas habilidades e superdotação. Os dois significam um desenvolvimento acelerado em comparação aos pares em alguma área ; artística, esportiva, pensamento criador, acadêmica, entre outras ;, e podem se manifestar em vários níveis.

Diferentemente do que normalmente se pensa, Angela destaca que a criança ou adolescente não precisa ter um laudo comprovando o diagnóstico de altas habilidades para ter direito a um acompanhamento diferenciado na escola. E esse atendimento especial é importante porque, em muitos casos, o aluno pode apresentar baixo rendimento. ;Muitas vezes, encontramos crianças sub-realizadoras, que estão abaixo do esperado, mas que têm potencial. A escola pode não ter nada na área de interesse da criança, e essa habilidade acaba despercebida;, explica.

O trabalho desenvolvido com esses estudantes na rede pública do Distrito Federal é referência para o resto do país. São 10 salas de recursos no Plano Piloto e uma em cada região administrativa, que atendem 70% alunos de escolas públicas e 30% de escolas particulares. O pedido de atendimento é feito em cada regional de ensino. Também é possível encontrar opções de atendimento particular. O essencial é sempre buscar desenvolver as áreas de interesse da criança.

Para saber mais

Orientação da escola à família


A publicação do Ministério da Educação Altas habilidades/superdotação ; Encorajando potenciais traz orientações a pais, professores e à sociedade em geral sobre como contribuir para o desenvolvimento das habilidades de estudantes superdotados e como reconhecer as características cognitivas, sociais e afetivas deles. Está disponível gratuitamente no link bit.ly/1IXW8pI. O site da Conbrasd (www.conbrasd.org) também traz diversas informações sobre o tema e a professora Angela Virgolim, autora da publicação, está à disposição para tirar dúvidas de pais e professores pelo e-mail angelavirgolim@gmail.com.