postado em 27/10/2015 13:18
"Aqui somos tratados como se estivéssemos na faculdade, mas, claro, sem deixarmos de ser adolescentes. A diferença é que temos mais conteúdo, mais responsabilidade e também liberdade para produzir" Letícia Dias, aluna do 1; ano do curso técnico em informática |
A educação profissional ficou esquecida no Brasil durante uma década. Hoje, o quadro é bem diferente. Depois da retomada da rede de educação profissional e da busca incessante de empresas por mão de obra qualificada, esse tipo de formação tem sido cada vez mais valorizada e a modalidade integrada ao ensino médio é uma opção para quem quer sair da educação básica com mais chances de conseguir um emprego.
O Instituto Federal Brasília (IFB) é um exemplo do retorno da educação profissional para o um lugar de prestígio (leia Memória). Criada em dezembro de 2008, a instituição recebeu nota máxima em certificações de qualidade do governo federal no último ano. Atualmente, o IFB é composto por 10 câmpus, distribuídos conforme as vocações econômicas e arranjos produtivos de cada região administrativa. Os cursos oferecidos vão do ensino técnico de nível médio à pós-graduação. As inscrições deste ano estão abertas até 11 de novembro. O edital está disponível no site do instituto: www.ifb.edu.br.
;O ensino médio integrado (EMI) é um curso cujas aulas são articuladas com as aulas de formação profissional. Ocorre de modo a obter uma formação teórico-prática que conduza o exercício profissional ao mesmo tempo em que prepara para a vida;, explica o reitor do instituto, Wilson Conciani. Ele lembra que o EMI segue currículo único, e não dois somados. Por isso, os conhecimentos culturais, científicos e tecnológicos são integrados. Se a aula de português exige trabalhar redação, por exemplo, os alunos também produzem estilos técnicos de dissertações, seguindo o padrão da ABNT.
Letícia Dias, 15 anos, relata que tomou a decisão de fazer um curso técnico durante o nível médio para se preparar melhor e também uma opção profissional. Ela quer prestar vestibular para medicina e acredita que os conhecimentos em informática podem ajudar na futura profissão. ;Aqui, somos tratados como se estivéssemos na faculdade, mas, claro, sem deixarmos de ser adolescentes. A diferença é que temos mais conteúdo, mais responsabilidade e também liberdade para produzir;, diz.
Destaque
Na rede pública de ensino do DF, os estudantes encontram também opções para a educação profissional. O Centro de Ensino Médio Integrado do Gama (Cemi/Gama) oferece cursos como webdesign, eletrônica, empreendedorismo e marketing, desenho técnico, banco de dados e outros. A escola se destacou no ranking do Enem em 2014. ;Nosso diferencial é justamente a iniciação científica. Se o aluno decidir fazer um curso universitário, já vai sair na frente. Temos recebido retorno da Universidade de Brasília (UnB) dizendo que nossos alunos se sobressaem;, comemora o vice-diretor do colégio, Carlos Lafaiete Formiga.
Três perguntas para
Remi Castioni, professor da Faculdade de Educação da UnB, especialista em educação profissional
O aluno da educação profissional é aquele que está na faixa etária de 15 a 17 anos, próxima daquele que vai optar pelo ensino médio tradicional. Entretanto, o aluno da educação profissional precisa ter uma predisposição para determinada área do conhecimento ou para uma potencial ocupação, como eletrotécnica, eletrônica, comunicações, química... Visto que a educação profissional tem como horizonte a obtenção de um título de técnico, o aluno já precisa ter ciência de com qual curso ele se identifica. Infelizmente, a opção de escolha do estudante não vai ser tão ampla, porque as instituições costumam ser segmentadas e não oferecem todas as habilitações. Então, a escolha da área técnica acaba muito condicionada ao local onde ele mora e às condições que tem de se deslocar.
O ensino técnico integrado e a graduação são escolhas excludentes?
O aluno não tem prejuízo algum, porque tem as 2.400 horas previstas de conteúdo do ensino médio, mais as 1.200 horas da educação profissional. Então, o que de fato o aluno ganha é bem mais em informação e formação do que um estudante do ensino médio tradicional e, principalmente, a possibilidade de trabalhador os conteúdos aplicados. Aqueles componentes curriculares de física, química, biologia etc., quando transpostos para a educação profissional, demonstram-se de forma aplicada, então, o aluno consegue fazer uma melhor apropriação do conhecimento. A possibilidade que o novo formato da educação profissional no Brasil trouxe foi a chamada verticalização, em que o aluno pode ter um percurso do itinerário formativo que inicia desde a educação básica e vai até o nível superior e a pós-graduação.
O retorno da popularização de cursos técnicos atende a uma demanda do mercado profissional brasileiro?
O retorno dos cursos técnicos, agora nessa nova configuração, segue uma tendência do mundo todo. O Brasil ainda é um país cuja participação do ensino vocacionado nessa faixa etária é uma das mais baixas. Em vários países, o ensino médio técnico chega a 60% da oferta de educação básica. No Brasil, não chegamos a 20% do número de matrículas nessa modalidade, estamos muito aquém em relação aos outros países. Mas essa retomada diz respeito a exigências do mercado para ingresso em qualquer ocupação. O ensino médio integrado permite uma melhor inserção, uma melhor remuneração, e se, para além da educação profissional técnica, o aluno depois fizer um bacharelado ou um curso superior de tecnologia, suas perspectivas de remuneração aumentam muito.
Memória
Transformações
Durante as décadas de 1960 e 1970, o Brasil acompanhou, com seu crescimento industrial, uma grande expansão do ensino profissional. Os anos que se seguiram, porém, caracterizaram-se por uma supervalorização da formação acadêmica e o quase desaparecimento do ensino médio profissionalizante. A retomada de investimentos nessa modalidade só ocorreu no fim dos anos 1990, com a regulamentação da educação profissional e a criação da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Apenas em 2004, com o Decreto n; 5.154, é permitida a integração do ensino técnico de nível médio ao ensino médio regular.
O aluno da educação profissional é aquele que está na faixa etária de 15 a 17 anos, próxima daquele que vai optar pelo ensino médio tradicional. Entretanto, o aluno da educação profissional precisa ter uma predisposição para determinada área do conhecimento ou para uma potencial ocupação, como eletrotécnica, eletrônica, comunicações, química... Visto que a educação profissional tem como horizonte a obtenção de um título de técnico, o aluno já precisa ter ciência de com qual curso ele se identifica. Infelizmente, a opção de escolha do estudante não vai ser tão ampla, porque as instituições costumam ser segmentadas e não oferecem todas as habilitações. Então, a escolha da área técnica acaba muito condicionada ao local onde ele mora e às condições que tem de se deslocar.
O ensino técnico integrado e a graduação são escolhas excludentes?
O aluno não tem prejuízo algum, porque tem as 2.400 horas previstas de conteúdo do ensino médio, mais as 1.200 horas da educação profissional. Então, o que de fato o aluno ganha é bem mais em informação e formação do que um estudante do ensino médio tradicional e, principalmente, a possibilidade de trabalhador os conteúdos aplicados. Aqueles componentes curriculares de física, química, biologia etc., quando transpostos para a educação profissional, demonstram-se de forma aplicada, então, o aluno consegue fazer uma melhor apropriação do conhecimento. A possibilidade que o novo formato da educação profissional no Brasil trouxe foi a chamada verticalização, em que o aluno pode ter um percurso do itinerário formativo que inicia desde a educação básica e vai até o nível superior e a pós-graduação.
O retorno da popularização de cursos técnicos atende a uma demanda do mercado profissional brasileiro?
O retorno dos cursos técnicos, agora nessa nova configuração, segue uma tendência do mundo todo. O Brasil ainda é um país cuja participação do ensino vocacionado nessa faixa etária é uma das mais baixas. Em vários países, o ensino médio técnico chega a 60% da oferta de educação básica. No Brasil, não chegamos a 20% do número de matrículas nessa modalidade, estamos muito aquém em relação aos outros países. Mas essa retomada diz respeito a exigências do mercado para ingresso em qualquer ocupação. O ensino médio integrado permite uma melhor inserção, uma melhor remuneração, e se, para além da educação profissional técnica, o aluno depois fizer um bacharelado ou um curso superior de tecnologia, suas perspectivas de remuneração aumentam muito.
Memória
Transformações
Durante as décadas de 1960 e 1970, o Brasil acompanhou, com seu crescimento industrial, uma grande expansão do ensino profissional. Os anos que se seguiram, porém, caracterizaram-se por uma supervalorização da formação acadêmica e o quase desaparecimento do ensino médio profissionalizante. A retomada de investimentos nessa modalidade só ocorreu no fim dos anos 1990, com a regulamentação da educação profissional e a criação da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Apenas em 2004, com o Decreto n; 5.154, é permitida a integração do ensino técnico de nível médio ao ensino médio regular.