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O desenvolvimento não para

É importante detectar dificuldades e transtornos de aprendizagem desde cedo e as escolas devem desenvolver estratégias de acompanhamento de alunos com baixo rendimento

postado em 27/10/2015 13:46


Nas aulas da professora Katia Campos, no Setor Oeste, o tablet serve como estímulo para os alunos

Nas aulas da professora Katia Campos, no Setor Oeste, o tablet serve como estímulo para os alunos



As causas do baixo rendimento escolar são as mais diversas. Desde uma dificuldade de aprendizagem normal, como a que é enfrentada por qualquer pessoa em algum momento da vida, até transtornos mais graves de aprendizagem que exigem avaliação de especialistas. Qualquer que seja o caso, a escola precisa estar preparada para propor as mudanças necessárias e o acompanhamento especializado de que cada aluno precisa para não acumular lacunas e defasagens durante a trajetória escolar.

Para tentar solucionar o problema no Centro de Ensino Médio Setor Oeste (Cemso), a gestão da escola abraçou uma proposta de trabalho voluntário da Editora Geração Digital. Três turmas do 2; ano do turno vespertino estudam, há cerca de dois meses, com tablets fornecidos pela própria editora e com conteúdo também produzido por ela. Essas turmas reúnem um grande número de estudantes com nota abaixo da média, que faltavam muito às aulas, chegavam atrasados e mostravam desinteresse pelo conteúdo. Ao todo, são 114 alunos atendidos. Por uma questão de segurança, a direção optou por manter os tablets na escola e cada aluno recebe uma senha para acessar o conteúdo de casa.

;Nós desenvolvemos esse material há quatro anos e ele já é adotado por uma escola particular. Acabamos por procurar uma escola pública que pudesse dar outra visão sobre a abordagem;, explica o professor Sinval Ramires Fernandes, um dos diretores da editora. O material inclui 16 disciplinas e é produzido levando em consideração as áreas do conhecimento definidas nos Padrões Curriculares Nacionais (PCNs). O conteúdo foi adaptado às necessidades do colégio e até recebeu a logomarca do Cemso. Segundo ele, pesquisa feita na rede particular mostrou melhora no aproveitamento dos alunos em comparação com os cinco anos anteriores ao uso do conteúdo digital. A expectativa é de que os mesmos resultados sejam observados na rede pública.

;As aulas estão mais dinâmicas. O professor que levava duas aulas, uma para explicar o conteúdo e outra para passar as atividades, agora consegue fazer isso na mesma aula;, observa a vice-diretora do colégio, Danielle Galvarros. A professora de biologia Katia Campos percebe que os alunos participam mais e fazem mais perguntas nas aulas em que usam os tablets. ;Ajuda mais do que quando você dá aula com power point, por exemplo;, afirma.

;Vamos começar a fazer a avaliação da utilização do tablet como instrumento pedagógico. Já vemos, internamente, que existe um comprometimento com a utilização do equipamento; agora, vamos avaliar a questão da aprendizagem;, completa o professor Jacy Braga, que atua no apoio da direção. Além desse trabalho, a escola oferece monitorias no contraturno, no período de coordenação dos professores; recuperação paralela; e uma prova de recuperação no fim do ano.
Evitar o sofrimento

Para a fonoaudióloga e psicopedagoga Sônia Moojen, é essencial que o problema seja detectado cedo, de maneira a evitar o sofrimento da criança. O baixo rendimento pode ser decorrente tanto de uma dificuldade quanto de um transtorno de aprendizagem (veja o quadro). No caso da dislexia, que é um transtorno grave, o estudante terá dificuldades durante toda a vida e precisará de adaptações durante a trajetória escolar, como a aplicação de avaliação oral, desconsideração dos erros de grafia e permissão de mais tempo para fazer provas.

Importante lembrar que, com o acompanhamento correto, esse transtorno não impedirá o desenvolvimento do aluno. ;O adulto disléxico lê de forma mais lenta, mas consegue interpretar. Escreve com mais erros de grafia, mas adota estratégias. Ele pode ter sucesso acadêmico e profissional;, destaca Sônia. Até mesmo problemas de visão podem atrapalhar o rendimento.

Além disso, há o fato de as crianças nem sempre estarem preparadas para entrar no ensino fundamental aos seis anos. Por isso, a especialista defende que, em alguns casos, a melhor opção é a reprovação. ;Há um movimento muito grande no governo de não reprovar, mas seria muito bom ou a criança não começar tão cedo na escola, ou, se ela não tiver condições, repetir um ano;, afirma. Sônia explica que é importante a família estabelecer uma parceria com a escola e, se for o caso, com especialistas também, para avaliar se vale a pena insistir para que ela passe de ano ou se é melhor que ela repita uma série.

Transição

O colégio CorJesu tem um projeto específico para estudantes que apresentam baixo rendimento no 5; ano do ensino fundamental. A preocupação da escola é na transição para o segundo ciclo desta etapa do ensino. Desde o início do ano letivo, são feitas avaliações para observar potencialidades e dificuldades. Depois desse diagnóstico inicial, os que precisam são encaminhados a uma monitoria e participam de atividades específicas para evitar que cheguem ao 6; com lacunas no aprendizado. O ideal é que eles entrem na próxima etapa com a leitura bem estruturada e resolvendo no mínimo as quatro operações matemáticas. ;É um projeto pioneiro. A ideia é que esse atendimento se amplie às demais turmas;, explica Ana Paula Rodrigues Oliveira, coordenadora pedagógica da educação infantil ao 5; ano do ensino fundamental.

A orientadora educacional Manuela Silveira também acompanha o processo. Com base no que é observado no comportamento no recreio e em sala de aula, os pais são chamados e é definido se é necessária a ajuda de algum outro especialista fora da escola. ;Nós fazemos um plano de organização de estudos de acordo com a rotina deles, para a escola e para casa, e mostramos como os pais devem fazer a cobrança;, detalha.

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