Ensino_EducacaoBasica

Além da sala de aula

Projetos extracurriculares que integram experiências e saberes são um diferencial na formação dos alunos

postado em 27/10/2015 13:49




Os princípios da educação expressos na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) demonstram que o Brasil entende a importância de experiências diversas no processo de aprendizagem e formação, para além dos conteúdos formais de sala de aula. Isso porque a lei, além de regulamentar a educação obrigatória, traz conceitos como o de valorização da experiência extraescolar e vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.

;Penso que temos uma legislação atual e Parâmetros Curriculares Nacionais, publicados desde 1997, que orientam a educação para a cidadania, a autonomia, a diversidade e concebem a formação de forma abrangente, abordando temas transversais, como ética, saúde, meio ambiente, pluralidade cultural e orientação sexual;, diz a doutora Claudia Pato, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (FE/UnB), especialista em transdisciplinaridade.

Para a professora, o problema é que a legislação e sua concepção pedagógica não se refletem nas práticas escolares, principalmente em função de uma falta de padronização na formação dos professores. Claudia defende que professores, equipes pedagógicas e gestores escolares precisam de uma mudança de perspectiva para que passem a integrar diversos saberes e conhecimentos, oriundos de outras fontes, de forma mais abrangente e complexa. ;A criança é mais espontânea e, geralmente, percebe a realidade de forma mais integrada do que nós, mas vai aprendendo na escola, onde as coisas costumam ser separadas;, explica ela.

Currículo formal

Na visão da pesquisadora, existem muitas possibilidades de atividades a serem feitas que permitam aos estudantes refletir sobre seu papel na sociedade, desenvolver a empatia e formar valores de respeito, para que estejam preparados para enfrentar desafios e contribuir para o bem comum. Ela dá exemplos de jogos e dinâmicas, projetos que envolvam temas de interesse dos estudantes, trabalhos interdisciplinares sobre uma experiência em comum e visitas externas.

;Qualquer atividade que envolva um processo ativo por parte dos estudantes, em que os seus saberes e as suas realidades são considerados e integrados e em que há articulação e valorização de conhecimentos científicos, tradicionais, populares, etc., produz uma educação relevante;, completa Claudia.

O Centro Educacional Sigma afirma, em seus compromissos pedagógicos, que a preparação de seus alunos em toda a educação básica é permeada por situações que permitem o contato com o conhecimento e a análise por meio de conteúdos, e também com o mundo real, por meio da vivência política e econômica da cidade. ;Para isso, nosso corpo docente cria, elabora e executa projetos que constantemente permitem atividades relacionadas tanto aos conteúdos desenvolvidos em sala de aula quanto a experiências que vão além das matérias e disciplinas previstas no currículo;, informa o diretor pedagógico da escola, Iomar Pirangi.

Ações de voluntariado, simulações, pesquisas, viagens nacionais e internacionais, atividades de eixo cultural e programas para ensino alternativo e desenvolvimento de habilidades de liderança e inovação são exemplos de projetos interdisciplinares e atividades extracurriculares oferecidas pela instituição. ;Sem dúvida, a execução desse tipo de iniciativa é um caminho que está além das paredes da sala de aula, e que estimula nossos jovens a atuarem como cidadãos transformadores de sua realidade, tornando sua trajetória acadêmica mais significativa;, diz Iomar.

Maria Clara Oliveira, 14 anos, aluna do 9; ano do ensino fundamental do colégio, confirma o pensamento do educador: ;É importante você investir nessas coisas para além das matérias tradicionais. Sem isso, a escola seria mais chata;, diz. A aluna integra o programa EdgeMakers, que tem a proposta de desenvolver a criatividade nos alunos, levando-os a produzir soluções inovadoras em prol de um mundo melhor.

Semanalmente, a turma de participantes é desafiada por um professor a encontrar soluções para um problema dado. Depois de pensar, todos devem expor suas ideias para os demais. ;Quando comecei o projeto vi que ele era muito mais do que sobre criatividade, porque inclui ajudar o outro. Isso está influenciando meu modo de pensar quando eu me deparo com uma situação em que posso ajudar. Já começa a ser parte de você e te ajuda a ficar mais aberto socialmente, faz você crescer;, relata a adolescente.
Escolas de referência
Historicamente, a educação pública em Brasília é referência no desenvolvimento de projetos alternativos, interdisciplinares e complementares à educação formal. As escolas parque, pensadas pelos educadores Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, são o exemplo que se tornou mais notório no país. Sua concepção original, advinda de uma experiência na Bahia, era implementar na capital ainda em construção escolas com o caráter de parque de produção industrial, com o enfoque em uma educação para o trabalho, somada a experiências artísticas.

;Hoje, o projeto mudou, porque não temos mais oficinas profissionalizantes e as oficinas artísticas que oferecemos se tornaram matérias obrigatórias. Além disso, nossas aulas passaram a integrar a grade semanal do estudante;, conta Paulo César de Lima, diretor da Escola Parque da 307/308 Sul, a primeira a ser construída.

Atualmente, elas atendem apenas a crianças do 1; ao 5; ano do ensino fundamental vindas das escolas classe da região circular a elas ; a matrícula é vinculada e ocorre diretamente. As crianças têm aulas de artes cênicas, artes visuais, música e educação física.

Um recreio demorado, espaços para a brincadeira, centros de treinamento esportivo e o planejamento integrado das aulas e da avaliação dos alunos terminam por caracterizar como transdisciplinar a formação oferecida pelas escolas parque. ;A educação artística e corporal, trabalhada de maneira convergente, é uma experiência marcante na primeira infância. Ela, de fato, ajuda no desenvolvimento completo da criança;, afirma o diretor.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação