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Complexo balé espacial

Com a ajuda da sonda Kepler, pesquisadores identificam, pela primeira vez, um sistema formado por dois planetas que orbitam duas estrelas

postado em 30/08/2012 08:00
Durante milênios, a estrutura dos sistemas solares sempre foi a mesma: uma estrela ao centro e planetas gravitando ao redor dela. Esse paradigma, contudo, está sendo posto em xeque por cientistas de diversas universidades dos Estados Unidos. Utilizando dados obtidos pela sonda Kepler, um dos mais avançados instrumentos de observação espacial já desenvolvidos, os pesquisadores conseguiram mostrar que o Universo é mais complexo do que se imaginava. Prova disso é a revelação de um sistema inédito, em que dois planetas orbitam ao redor não apenas de uma, mas de duas estrelas. É a primeira vez que uma configuração desse tipo foi detectada pelos cientistas. Batizado de Kepler 47, o conjunto amplia a compreensão de como planetas e estrelas podem se relacionar no Cosmos.

Os sistemas binários, ou seja, aqueles nos quais duas estrelas interagem, não são novidade. Os astrônomos acreditam que pelo menos um terço das estrelas esteja em sistemas assim. ;Elas são relativamente comuns, e o próprio Kepler já encontrou várias delas;, lembra William Cochran, do Observatório McDonald da Universidade do Texas, em Austin, nos Estados Unidos. Desde o seu lançamento, a sonda tem ajudado a localizar vários sistemas que, embora os cientistas soubessem que poderiam existir, nunca haviam sido localizados. ;No ano passado, o Kepler encontrou o primeiro planeta orbitando em torno de uma estrela binária, o Kepler-16b. Desde então, temos encontrado outros sistemas com um planeta em torno de uma estrela binária;, completa o norte-americano. Desde a primeira descoberta, outros três sistemas semelhantes foram vistos pelos pesquisadores.

A diferença é que agora, pela primeira vez as poderosas lentes do artefato construído pela Nasa detectaram a presença de um sistema completo, ou seja, com mais de um planeta. O Kepler 47 é formado por duas estrelas, uma de massa semelhante à do Sol e outra com um terço de seu tamanho, além de dois corpos que as orbitam. Estes são ligeiramente maiores que a Terra, tendo três vezes e 4,6 vezes o seu tamanho. Além disso, os dois sóis também orbitam entre si, em um movimento que dura cerca de 7,5 dias. ;Não é apenas a descoberta do sistema binário (que nos empolga), é o sistema planetário;, explica Michael Endl, também da Universidade do Texas. ;Isto demonstra que, apesar de um ambiente dinamicamente bastante caótico, provocado por um sistema em que duas estrelas se chicoteiam uma em torno da outra, esses locais podem abrigar a formação de sistemas planetários completos;, acrescenta o especialista.

A dificuldade dos especialistas em observar esse tipo de fenômeno reside, em grande parte, no fato de esses planetas a anos-luz da Terra não serem visíveis nem pelos mais modernos aparelhos desenvolvidos pelo homem. Para sua detecção, é necessário que eles passem diante das estrelas que orbitam, gerando uma sombra que é captada pelos satélites. A repetição periódica desse tipo de eclipse comprova a existência de um corpo celeste orbitando a estrela. ;No caso das estrelas binárias, a detecção se torna ainda mais difícil porque os intervalos em que o planeta passa na frente dos sóis não é regular;, completa Ford. Assim, os pesquisadores precisam realizar complexas projeções matemáticas de acordo com as massas, as distâncias e o tamanho dos planetas e das estrelas e assim projetar a sua provável trajetória para confirmar que uma sombra observada é de fato causada por um planeta em órbita.

Busca por vida
Os pesquisadores já descartaram a possibilidade de existência de vida em qualquer um dos planetas do sistema Kepler 47. Enquanto o planeta A está muito próximo dos dois sóis, sendo assim excessivamente quente, o B é um gigante gasoso, ou seja, é composto por gases e não por rochas, como é o caso da Terra. No entanto, ainda é possível que haja vida no sistema caso o planeta B ; que está na chamada zona habitável, nem muito quente nem muito fria ; tenha uma lua de tamanho considerável. ;Dada a qualidade dos dados, não podemos dizer nada sobre se há satélites ou não, mas, por outro lado, se você olhar para o nosso Sistema Solar, todos os objetos têm luas, com exceção de Mercúrio e Vênus;, ressalta Jerome Orosz, da Universidade Estadual de San Diego.

Enquanto a Terra tem um satélite natural considerado grande, Júpiter tem mais de 60, quatro deles de proporções semelhantes à lunar. ;Plutão tem cinco luas. Há asteroides com luas;, completa Orosz, que deve continuar utilizando dados do Kepler para estudar o sistema com o objetivo de compreender várias questões relacionadas ao conjunto de planetas e estrelas, incluindo a existência de satélites e a sua capacidade de abrigar algum tipo de vida. ;Dado o que sabemos sobre o Sistema Solar, não seria surpresa se os planetas do Kepler 47 tivessem algumas luas. A questão é, então, quão grande podem ser elas? Isso vai ser uma questão interessante para explorar;, completa o líder da pesquisa.

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