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Alternativas à seringueira

Diferentes estudos internacionais buscam produzir borracha em larga escala a partir de outras plantas. Os resultados interessam especialmente as empresas fabricantes de pneus e podem afetar as exportações do produto feitas pelo Brasil

postado em 12/09/2012 08:00

O dente-de-leão (E) e o látex produzido a partir dele (acima): empresas avaliam a viabilidade de fabricar pneus a partir da planta

Diferentes estudos internacionais buscam produzir borracha em larga escala a partir de outras plantas. Os resultados interessam especialmente as empresas fabricantes de pneus e podem afetar as exportações do produto feitas pelo Brasil

Belo Horizonte ; Em tempos de impostos reduzidos, os brasileiros têm comprado cada vez mais carros. O ritmo da produção automobilística cresce no país, levando a uma maior demanda por borracha natural, um dos principais componentes dos pneus. Segundo o Ministério da Agricultura, atualmente, o Brasil atende somente 30% da demanda interna de borracha natural, extraída da Hevea brasiliensis, a seringueira. E cerca de 80% do consumo doméstico destina-se à indústria de pneumáticos. Diante dessa realidade, pesquisas patrocinadas por empresas fabricantes de pneus concentram-se em formas de extrair o látex de outras plantas, alcançando resultados muito promissores.
Diferentes estudos internacionais buscam produzir borracha em larga escala a partir de outras plantas. Os resultados interessam especialmente as empresas fabricantes de pneus e podem afetar as exportações do produto feitas pelo BrasilOs principais estudos são desenvolvidos em países como Alemanha, China e Japão. Em julho passado, a Apollo Vredestein, empresa holandesa, apresentou o primeiro protótipo de pneu fabricado a partir do látex do dandelion (planta de origem russa e popularmente conhecida como dente-de-leão) e do guaiule (arbusto nativo do sudoeste dos Estados Unidos e do norte do México). A Bridgestone Corporation, por sua vez, colabora com o projeto Russian Dandelion, liderado pelo Programa de Excelência em Alternativas à Borracha Natural (Penra), do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Agrícola da Universidade do Estado de Ohio (EUA). O foco dos estudos também é o dente-de-leão (Taraxacum officinale), que apresenta a vantagem de não depender de clima quente para se desenvolver como a seringueira, gerando a possibilidade de produzir a borracha a um custo menor. Segundo pesquisadores, há diversas outras plantas das quais a borracha natural poderia ser extraída, como a Ficus carica L. e a Ficus carica (ambas espécies de figueiras), e até mesmo a alface e o girassol.

O guaiule e o dente-de-leão são as únicas espécies conhecidas por conter borracha natural em suas raízes, com composição e desempenho funcional semelhantes aos da borracha convencional. ;Temos verificado que o dente-de-leão tem o mesmo nível de propriedades físicas da borracha guaiule. No entanto, ainda precisamos confirmar o desempenho de ambas as borrachas para a produção de pneu;, explica Hiroshi Mouri, presidente do Centro de Pesquisas e Tecnologia da Bridgestone Américas.

Atualmente, a Bridgestone examina o látex obtido do dente-de-leão para a fabricação de pneus em larga escala. O grande desafio é confirmar se a novidade tem as mesmas características de desempenho quando aplicada a pneus. Ainda não é possível prever a quantidade do pneu que seria feita a partir da planta. Os produtos atuais têm cerca de 10% de sua composição do látex extraído da seringueira.

Segundo Mouri, esse é um projeto com potencial para desenvolver uma fonte renovável de borracha natural que pode ser cultivada e colhida nos Estados Unidos, reduzindo a forte dependência da seringueira. ;É possível reduzir o impacto sobre a alta volatilidade dos preços da borracha natural, ajudando a garantir um fornecimento adequado que atenda à demanda esperada para o futuro da produção de pneus;, complementa. Isso poderia afetar negativamente a exportação brasileira, que hoje chega a mais de 7,4 mil toneladas por ano.

Em contrapartida, os pneus desenvolvidos seriam 100% de materiais sustentáveis, tecnologias e processos que reduzem, reutilizam e reciclam matérias-primas. Além disso, os subprodutos do processo de extração da borracha de dente-de-leão têm o potencial de serem usados para gerar biocombustíveis. Os pesquisadores ressalvam que será feita a avaliação do efeito potencial do dente-de-leão sobre os ecossistemas locais, por não se tratar de uma espécie nativa. ;Valorizar a biodiversidade é um componente chave da nossa missão ambiental e é importante que qualquer cultivo dessa planta como parte desse projeto seja sustentável e não invasivo para o meio ambiente natural;, afirma Mouri.

Diferentes estudos internacionais buscam produzir borracha em larga escala a partir de outras plantas. Os resultados interessam especialmente as empresas fabricantes de pneus e podem afetar as exportações do produto feitas pelo BrasilNo Brasil, o pesquisador José Mário de Oliveira Ramos, da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), iria começar um estudo similar de extração de borracha a partir do dente-de-leão russo em 2010, mas morreu antes do início do projeto. Segundo o filho dele, Marcelo Ramos, empresário industrial do Instituto Tecnológico da Borracha (ITeb), até o momento ninguém assumiu a pesquisa, porque os recursos seriam insuficientes para o projeto.

Borracha em pó Enquanto pesquisadores estrangeiros estudam como extrair borracha natural de outras plantas que não a seringueira, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), no Brasil, trabalha em um projeto para obter borracha em pó. A equipe emprega a técnica de spray drying, ou secagem por aspersão. O material é oferecido, normalmente, em blocos que demandam operações de moagem e pulverização. A consistência de pó ultrafino é uma alternativa mais simples para processos industriais, como a fabricação de resinas poliméricas.

Segundo a química e pesquisadora Lucilene Betega de Paiva, responsável pelo projeto, havia duas alternativas para desenvolver a pesquisa: por meio da irradiação ou por processos químicos. O IPT optou pela segunda porque a técnica de irradiação demanda infraestrutura em grande escala e apresenta riscos à saúde dos trabalhadores.

Atualmente, Paiva estuda o limite de concentração de cada componente para obter um látex de qualidade. Em uma próxima etapa, Lucilene testará a aplicação do pó como aditivo em plásticos para melhorar a resistência ao impacto. A borracha natural em pó poderia ser aplicada em materiais de polietileno para fortalecer engradados que transportam pão ou mesmo para criar pisos que não trincam ou tinta com efeitos emborrachados. A pesquisa, iniciada em maio de 2011, será concluída em abril de 2013. Os bons resultados obtidos já possibilitaram o pedido de depósito de uma patente.

7,4
mil toneladas
Total de borracha natural exportado pelo Brasil anualmente

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