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Eficiência energética

Trabalho desenvolvido por estudantes brasileiros indica que, além de serem mais econômicas, as lâmpadas LED causam menos danos ao meio ambiente, por não conterem mercúrio

Belo Horizonte ; O que era a solução para o setor energético brasileiro virou problema. Apesar de ser mais econômica, a lâmpada fluorescente não tem sido devidamente descartada e, por isso, apresenta um risco ao meio ambiente. O alerta é feito por alunos do curso de ciências biológicas do Centro Universitário UNA, em Belo Horizonte, que apostam na tecnologia LED (diodo emissor de luz) para eliminar o risco de contaminação e gerar economia ainda maior de eletricidade.


A lâmpada fluorescente veio para substituir a incandescente, que ainda é bastante usada, principalmente em residências, por fornecer uma luz mais aconchegante e ser mais barata. Depois do apagão de 2001, quando houve racionamento de energia em todo o país, o governo passou a incentivar o uso da fluorescente, na tentativa de diminuir o consumo de energia elétrica. Também foi anunciado recentemente que a fabricação da incandescente será interrompida. A decisão preocupa os grupo de estudantes, que condenam as lâmpadas fluorescentes em pesquisa apresentada em sala de aula. ;O número vai aumentar e muita gente vai descartá-las de forma incorreta, pois desconhece que essas lâmpadas contêm mercúrio, que causa dano à saúde;, diz Vivian Jordania da Silva, uma das autoras do projeto que propõe a instalação de LED em todas as unidades do centro universitário.


Cada lâmpada fluorescente contém 21mg de mercúrio, substância que ajuda a tornar a luz visível. Pode parecer pouco, mas essa quantidade do metal tóxico, se não for descartada de maneira correta, pode contaminar o ar, o solo e a água. O analista de sustentabilidade do UNA, Herbert Lima, explica que o mercúrio é bioacumulador. ;Os animais vão absorvendo o metal e, com o passar do tempo, o acúmulo no organismo pode causar danos.; Quando inalado ou ingerido,ele é capaz de afetar o funcionamento normal dos pulmões, do sistema nervoso central, dos rins e do fígado.


A lâmpada fluorescente só polui o meio ambiente se estiver quebrada, o que faz com que o mercúrio escape em forma de vapor. A informação seria animadora se não fosse comum ver o vidro jogado de qualquer maneira no lixo, podendo ser facilmente rompido em um transporte inadequado. Estima-se que, de 100 milhões de lâmpadas fluorescentes consumidas anualmente no Brasil, 70 milhões sejam descartadas de maneira incorreta. ;As pessoas jogam essas lâmpadas no lixo comum. Elas acabam quebradas em caçambas ou aterros sanitários e contaminam o solo, o lençol freático, o ar e os alimentos;, pontua Vivian.


Implementada em 2010, a Política Nacional de Resíduos Sólidos é clara: fabricantes, importadores,distribuidores e comerciantes de lâmpadas fluorescentes são obrigados a recolhê-las depois que são usadas pelo consumidor para dar a destinação adequada, independentemente do serviço público de limpeza urbana. A regra, chamada de logística reversa, prevê a disponibilidade de postos de coleta de resíduos sólidos para toda a população. Mas isso não é o que ocorre na prática. ;Infelizmente, para você dar a destinação correta, tem que pagar, o que dificulta muito o descarte. Ninguém quer ter gasto a mais;, observa a universitária. De acordo com Vivian, representantes do setor alegam que o custo de recolher e dar o fim adequado ao material é muito alto.


Alguns empresários enxergaram a oportunidade de ganhar dinheiro recolhendo lâmpadas fluorescentes, mas o levantamento dos estudantes mostra que, ao menos em Belo Horizonte, o preço não é nada acessível. Além do transporte, o consumidor tem que pagar pela quantidade de material que será recolhido em casa. Cada lâmpada inteira custa R$ 0,50 e a lâmpada quebrada vale, em média, R$ 2,50 o quilo. O grupo sugere, portanto, que o poder público de cada cidade fique responsável pelo recolhimento do material, como já ocorre em São Paulo. Na capital paulista, pontos de entrega voluntária recebem, além de lâmpadas, pilhas e baterias.


Com a pesquisa, os universitários querem provar que a melhor alternativa para substituir a fluorescente é a lâmpada LED, ainda pouco usada no país. A primeira vantagem é ela não conter mercúrio, o que elimina o risco de poluição do meio ambiente. Pelo mesmo motivo, as LED podem ser descartadas com o vidro comum e não precisam de tratamento especial antes da reciclagem. Quando se compara a durabilidade, a nova tecnologia também desponta como a melhor opção. As fluorescentes funcionam por cerca de 30 mil horas, enquanto as LED podem durar 45 mil horas.

O que ainda dificulta a popularização das lâmpadas LED é o preço. Uma unidade chega a custar R$ 100. Até o ano passado, não havia nenhuma empresa no Brasil que fabricasse o produto, que era importado principalmente da China e dos Estados Unidos. Apesar de ainda não ter a tecnologia para produzir todos os componentes das LED, que continuam a ser trazidos de outros países, a boa notícia é que elas algumas peças começam a ser produzidas aqui. ;Isso aumenta o incentivo para o brasileiro comprá-las;, ressalta o analista de sustentabilidade do UNA.

Apesar de reconhecer que o gasto com a implantação da lâmpada LED é mais alto que o da fluorescente, a universitária Vivian da Silva não tem dúvida de que a nova tecnologia deve ser mais usada. ;Você vai ter um custo inicial alto, mas, com o tempo de uso, consegue economizar na conta de luz e ter retorno do seu investimento. A LED consome bem menos energia;, diz.

O engenheiro de soluções energéticas da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) Leonardo Resende Rivetti defende que o consumidor mude a lógica. ;É preciso analisar quanto custa utilizar o equipamento, e não o valor dele. Assim, a pessoa vai tomar uma decisão consciente.; Segundo Rivetti, o valor de uma lâmpada LED já baixou bastante desde que chegou ao Brasil, quando custava cerca de R$ 300. Ele afirma que a nova tecnologia consome, sim, menos energia e está se mostrando economicamente atrativa, por ser mais durável.

Memória

Tragédia
no Japão


A maior catástrofe envolvendo mercúrio ocorreu em 1953 na cidade de Minamata, no Japão. A população foi contaminada pelo metal pesado, que se acumulou em peixes. Mais de 900 japoneses morreram e muitas crianças que nasceram depois do desastre ficaram com graves sequelas. Ao que tudo indica, a culpa foi de uma fábrica de carbureto de cálcio, que lançava resíduos no mar. A tragédia foi tão marcante que a síndrome causada pelo mercúrio é chamada de doença de Minamata, cujos principais sintomas são febre alta e convulsões, uma vez que afeta o sistema nervoso central.