postado em 08/01/2013 08:00
Publicação: 07/01/2013 04:00
Uma das frentes de ação do Projeto VE é o desenvolvimento de uma aeronave elétrica |
Em Itaipu, veículos elétricos circulam desde 2006: tecnologia de ponta desenvolvida por pesquisadores brasileiros |
Belo Horizonte ; ;No campo energético, este é o assunto do momento no mundo.; A avaliação é do engenheiro elétrico Celso Novais, 53 anos, um paulista que há 22 anos trabalhou na Itaipu Binacional, uma das maiores hidrelétricas do mundo, em Foz do Iguaçu (PR). O assunto em questão é a mobilidade elétrica sustentável, ou, trocando em miúdos, a eletricidade como substituta dos combustíveis fósseis em veículos de qualquer serventia, até mesmo aviões. Para o engenheiro, já não restam dúvidas de que os veículos, num futuro bem próximo, serão todos elétricos ou híbridos (com duas fontes de energia, a elétrica incluída).
Em 2006, uma parceria da Fiat Automóveis e da Itaipu colocou em uso vários automóveis Siena elétricos na usina, veículos que circulam até hoje. Desde então, a hidrelétrica, por meio do Projeto Veículo Elétrico (VE) ; desenvolvido com diversos parceiros e coordenado por Novais ;, desenvolveu protótipos de Jeeps 4x4 e micro-ônibus. No fim de outubro, o VE começou estudos para projetar um Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). O único VLT produzido no país é o da empresa cearense Bom Sinal, que tem motor movido a diesel e biodiesel. Os engenheiros e técnicos de Itaipu levaram a Foz do Iguaçu um modelo em escala real do VLT da Bom Sinal. A primeira etapa do trabalho, com duração prevista de um ano e meio, vai promover a acomodação do sistema de tração elétrica ao protótipo, para depois desenvolver uma versão elétrica do trem.
Outra frente aberta pelo projeto é o desenvolvimento de um avião movido a eletricidade, em parceria com a fabricante brasileira de aeronaves ASC Aviation, de São José dos Campos (SP). A empresa paulista produz um pequeno e moderno modelo esportivo, o ACS 100 Sora, usado também para acrobacias aéreas, que hoje voa com motor a combustão. A ideia é colocar no ar o primeiro avião elétrico brasileiro já neste ano. Celso Novais explica que a nova linha de pesquisa vai agregar ao trabalho conhecimentos sobre o uso de materiais compostos ; largamente usados na aviação, sendo extremamente leves e altamente resistentes ; para a redução do peso dos protótipos.
No campo dos automóveis elétricos, ele observa que o cidadão comum, pelo menos no Brasil, ainda não tem acesso a eles. ;E mesmo que tivesse, não seria uma compra interessante, pois seu custo é mais do que o dobro de um convencional. Os automóveis elétricos têm autonomia de até 130km e precisam de uma carga de oito horas na bateria. Ela pode ser feita por meio de uma tomada de residência, por exemplo.; O engenheiro diz que, com 7 bilhões de habitantes no planeta, não há outra saída que não seja repensar o uso de combustíveis fósseis para promover a sustentabilidade e a redução da emissão de gás carbônico. ;Veja bem, um veículo movido a gasolina, diesel ou álcool tem 80% de sua energia desperdiçada em calor e poluição, ao passo que um elétrico aproveita de 80% a 85% de sua energia;, explica, acrescentado que esse último não polui e é silencioso.
Celso Novais acredita que a própria indústria automobilística mundial não tem interesse imediato no uso de veículos elétricos, ;pois ela não vai atirar em seu próprio pé, visto que tem toda uma estrutura preparada para fornecer os atuais carros;. Mas afirma que ;todos os grandes fabricantes têm projetos e protótipos de elétricos guardados na gaveta, pois sabem que esse vai ser o caminho;. O engenheiro destaca que o peso do protótipo e a autonomia das baterias são os grandes problemas enfrentados pelos carros elétricos e faz um paralelo com a bateria dos telefones celulares. ;Quando a telefonia móvel surgiu, as baterias eram imensas e com carga de pouca duração. A evolução foi a que se viu e hoje temos baterias bem pequenas e com longa duração. Esse vai ser o futuro dos carros elétricos;, afirma, acrescentando que a China é que vai puxar a fila, pois é o país mais preparado para isso.
No ar
No caso da associação com a ASC Aviation, o engenheiro comenta que a empresa paulista foi apresentada ao Projeto VE por funcionários da Embraer, a gigante aeronáutica brasileira. O interesse era desenvolver um motor elétrico para o pequeno Sora e o nome da Itaipu Binacional logo surgiu como referência no setor. ;A ACS é uma empresa com apenas seis anos de vida, mas com altíssima tecnologia, formada por profissionais competentes e com muito conhecimento na área de aeronáutica;, afirma Novais.
Ele diz que o avião, em si, não é uma prioridade para o Projeto VE, mas é um meio de transporte em que o pouco peso dos componentes é fator determinante. A ACS desenvolveu, por exemplo, uma asa que é tão resistente que suporta 10 sacos de cimento em cada ponta. Ao mesmo tempo é superleve, pesando cerca de 60kg cada. ;Essa combinação de materiais que resulta em pouco peso, esse know-how, é o que estamos procurando, visto que a redução do peso dos protótipos é o caminho mais rápido e eficiente para melhorar a autonomia dos veículos elétricos. E também aprimorar a densidade energética das baterias, o que requer mais tempo e altos investimentos.;
Desde setembro, integrantes do Projeto VE acompanham testes com o Sora em São José dos Campos e levantam informações como a potência necessária para decolar e taxiar na pista. Se tudo correr conforme o planejado, o primeiro avião elétrico brasileiro vai decolar da pista de Itaipu, na margem paraguaia de Itaipu Binacional, em agosto.
O engenheiro mecânico Alexandre Zaramella, 38 anos, é mineiro de Belo Horizonte e formou-se pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele é diretor-presidente da ACS Aviation e igualmente acredita que a energia elétrica é o combustível do futuro para o transporte. ;Estamos testando a eletricidade em um modelo de avião já consolidado. Estamos na fase experimental, com vistas a chegar ao lado comercial. Trata-se de uma inovação no Brasil, mas podemos afirmar que a produção de aviões elétricos ainda é bem incipiente no mundo todo. Todos estão no mesmo patamar e há grandes fabricantes interessados no assunto, como a Boeing, que já testa modelos híbridos;, afirma. A ACS Aviation é parceira do Centro de Estudos Aeronáuticos (CEA) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).